Sucesso da reciclagem está nas mãos de catadores organizados

Reciclagem de latas de alumínio atinge 97,9%, mas somente 3% dos resíduos sólidos são reciclados no país; em São Paulo, apenas 2,5%

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O Brasil, não é novidade para ninguém, é um país de muitas contradições. Não é de se estranhar, portanto, que isso se aplique também à reciclagem de resíduos sólidos. De um lado, alguns números podem impressionar. Na reciclagem de latas de alumínio, por exemplo, o Brasil é líder mundial desde 2001. De acordo com o estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS), divulgado em junho do ano passado pelo IBGE, o índice atual é de 97,9%. Por outro lado, apenas 3% dos resíduos sólidos são reciclados no país – um índice que é menos da metade dos Estados Unidos há 50 anos. Os recordistas mundiais de reciclagem – Suíça, Áustria, Alemanha e Holanda – já reciclam pelo menos 50% do lixo que geram. Embora o Brasil tenha avançado, o passo tem sido de tartaruga.

Mas como é possível que o país tenha perto de 100% do alumínio reciclado, mas o total de resíduos aproveitados não passe de insignificantes 3%? A resposta é a integração dos catadores. “O Brasil foi o primeiro país a integrar catadores, por meio de suas cooperativas, a sistemas de gestão de resíduos sólidos municipais e o primeiro a adotar uma Política Nacional de Resíduos, reconhecendo as contribuições de catadores e proporcionando um enquadramento jurídico para permitir que cooperativas de catadores sejam contratadas como provedores de serviço”, afirma Martha Chen, professora de políticas públicas na Universidade Harvard, uma das melhores e mais respeitadas do mundo. “Um contrato para limpar os estádios durante a Copa do Mundo do Brasil foi concedido ao movimento nacional de catadores”, exemplifica ela em artigo publicado no site do Banco Mundial.

Em outras palavras, só há sucesso efetivo na reciclagem quando as mãos de catadores organizados fazem um formidável esforço para procurar e separar os resíduos. O problema é que apesar dessa importância, que as latinhas comprovam, eles são invisíveis na sociedade. “Os catadores são raramente reconhecidos pelo importante papel que desempenham na criação de valor a partir dos resíduos gerados por outros e na contribuição para a redução das emissões de carbono”, afirma Martha Chen. A falta de conhecimento de uma população que ainda joga lixo na rua é um dos entraves para a conscientização necessária para que essa situação mude.

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A maior e mais rica cidade brasileira, por exemplo, conseguiu mais do que dobrar a reciclagem de lixo entre 2013 e 2016 – saiu de um desprezível 1% para pífios 2,5%. Poderia ser mais. São Paulo tem hoje duas centrais mecanizadas para o processamento dos resíduos, mas às vezes ficam ociosas por causa da baixa adesão da população à separação do lixo doméstico, mesmo com recolhimento feito pela prefeitura.

Mas há cidades que sequer parecem preocupadas com essa questão ambiental. A cidade do Rio, por exemplo, informa que coleta cerca de 10 mil toneladas por dia, mas não tem ideia de quanto é reciclado. “O futuro de milhões de catadores em todo o mundo está em jogo, dependendo em grande parte das políticas e práticas dos governos municipais”, adverte a professora.

“Integrar os catadores na gestão de resíduos sólidos é a opção mais vantajosa para todos.”

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