“Você vai me achar maluca, mas quero investir em Petrobras”; veja a resposta de gestor

Cliente de gestora de recursos pergunta se vale a pena investir na estatal agora que as ações caíram muito, mas gestor desaconselha

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – A gestora de recursos Petra Asset recebeu uma carta de uma cliente questionando sobre a compra de ações da Petrobras neste momento. “Você provavelmente vai achar que eu estou ficando maluca, mas gostaria de investir em ações da Petrobras. Sei que irá demorar para a empresa se recuperar, porém no meu ponto de vista seria uma maneira de aplicar em um produto que sei que não vou poder contar”, disse a cliente.

Em resposta, os gestores da Petra disseram que existem três preocupações que deixam a gestora longe das ações da Petrobras. A primeira são os combustíveis fósseis. “Há tempos nós questionamos o futuro dos combustíveis fósseis como matéria prima. Acreditamos que o mundo caminha a passos largos para substituição do petróleo por fontes renováveis”, diz a equipe da Petra.

Eles afirmam que têm sérias dúvidas sobre a lucratividade do “negócio petróleo” quando a Petrobras estiver explorando o pré-sal. “Vamos lembrar que desde o ano passado, os Estados Unidos começaram a extrair petróleo do tal do gás de xisto, e suas reservas vão fazer com que os americanos se tornem um dos maiores produtores mundiais até 2020”, apontam.

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Outra questão que impede o investimento da Petra nas ações da Petrobras são as commodities. “Temos restrições a investir em empresas produtoras de commodities (petróleo, minério de ferro, etc) porque estes produtos tem seus preços definidos no mercado internacional e as empresas não tem qualquer ingerências sobre estes”, disse a Petra. Isso quer dizer que a empresa pode ser muito eficiente em seus processos e mesmo assim encararem situações econômicas que que atinjam em cheio seus preços. É o caso do barril do petróleo, que saiu de US$ 110 para os atuais US$ 40.

Por fim, mas não menos importante, a Petra aponta os problemas de ingerência política na estatal. Neste ponto, eles destacam duas frentes de preocupação: o controle de preços e a corrupção que atinge a empresa nesse momento. “A ingerência política tem como pior resultante a incerteza que gera. Como proceder para avaliar a Petrobras se não conseguimos projetar o seu fluxo de caixa? Como confiar no balanço que não pode ser auditado?”, questiona a Petra.

A equipe destaca a avaliação das perdas contábeis geradas pela corrupção em R$ 88 bilhões. “É uma brutalidade! Não dá para saber se é isso mesmo, porque esses números não foram publicados oficialmente, mas qualquer proporção deste valor terá um impacto relevante no balanço e a ação que parece barata pode estar é cara”, afirmam.

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Eles ainda lembram que existe a hipótese de a empresa contratar algum gestor famoso que pudesse mudar a imagem da estatal e atrair investidores. Mas apesar se isso ser possível, o resultado nos números da Petrobras seguirá incerto, “Seja pelas dúvidas em relação ao Petróleo, seja pelas dúvidas em relação ao tamanho dos esqueletos que lá existam”.

Em resumo, a Petra afirma que não investe em Petrobras porque entende seu negócio (vender petróleo) como ruim e por conta da ingerência política, que “traz uma incerteza descabida que torna o risco do investimento imensurável”. “Se não investimos em nossos fundos, me sinto bastante desconfortável em sugerir que você invista”, concluem.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip