Vendidos em ações nos EUA, em metais e no mercado de crédito: onde se concentram as apostas da SPX?

Em carta aos cotistas repleta de metáforas futebolísticas, gestora evidencia atuação dos bancos centrais pelo mundo: "treino é treino, jogo é jogo"

Mariana Segala

Publicidade

Após um mês de resultado negativo, as apostas da gestora SPX – do reconhecido gestor Rogério Xavier – se concentram na ponta vendida, ou seja, envolvem uma expectativa de desvalorização dos ativos.

Em outubro, o fundo SPX Nimitz teve retorno de -0,90%, contra 1,02% da taxa do CDI (indicador de referência adotado por diversos fundos multimercados). Os mercados de juros, moedas e crédito puxaram os resultados para baixo, enquanto as posições em ações e commodities tiveram efeito neutro.

Na carta mensal divulgada aos cotistas do fundo, a SPX informa que possui uma exposição vendida tanto no mercado de ações dos Estados Unidos quanto em metais industriais e preciosos. Na Bolsa brasileira, a gestora tem posições relativas.

Continua depois da publicidade

No segmento de juros, a gestora tem posições tomadas em taxas nos países atrasados no ciclo de aperto monetário, na expectativa de que ainda subam. Já no caso dos que estão mais avançados no processo, como é o caso do Brasil, as posições são aplicadas, já que “o próximo grande movimento será de queda dos juros”, avalia a casa.

“Nos mercados de crédito desenvolvidos, mantivemos posições vendidas em índices corporativos, mas adicionamos posições compradas na parte curta de crédito IG. No mercado de crédito emergente, mantivemos uma posição vendida utilizando instrumentos líquidos como índices”, diz o texto.

Em uma carta repleta de metáforas futebolísticas, assinada por Ylan Adler, sócio da SPX, a atuação dos bancos centrais ao redor do mundo é colocada em evidência. O texto ressalta que após quase duas décadas de inflação baixa e estável, que levou países desenvolvidos a praticar taxas de juros baixas, as autoridades monetárias agora enfrentam o desafio de subir os juros e enxugar a liquidez no sistema para combater a inflação, em um momento em que a maioria das economias já apresenta um quadro de desaceleração de crescimento.

Continua depois da publicidade

“Nas palavras de Didi, um dos maiores meio-campistas da história do futebol e bicampeão mundial em 1958 e 1962 pela seleção brasileira, ‘treino é treino, jogo é jogo’. Resta ver como os banqueiros centrais irão reagir nesse cenário”, destaca Adler.

Sua visão é de que os Estados Unidos seriam favoritos ao título de economia mais resiliente, já que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) conseguiu “embarcar no mais agressivo e mais rápido ciclo de alta de juros das últimas décadas”, que deve levar as taxas para perto de 5% ao ano.

“Com os juros reais nos EUA perto de 2% no próximo ano, nível historicamente elevado e comparado, por exemplo, aos níveis de 1994 (quando a geração de Romário e Bebeto
conquistava o tetracampeonato mundial para o Brasil no estádio Rose Bowl na Califórnia), deveremos ver a economia americana entrando em recessão em 2023”, afirma.

Continua depois da publicidade

Na Zona do Euro, segundo Adler, notícias como o clima mais quente no início do inverno e pacotes fiscais de cerca de 500 bilhões de euros anunciados pelos governos para ajudar a população a lidar com os custos elevados da energia dão algum fôlego no curto prazo. “De todo modo, acreditamos que, ainda assim, a economia europeia perderá força no quarto trimestre de 2022 e entrará em recessão na virada do ano”, diz.

Em um ambiente de insegurança energética, Adler ressalta que o Banco Central Europeu (BCE) tem a tarefa “extremamente difícil” de controlar a inflação. “Embora na última reunião tenham manifestado o desejo de desacelerar o passo [do aperto monetário], eles não vão conseguir parar de subir os juros, levando a taxa de juros acima do juro neutro de 2%”, avalia.

No Reino Unido, Adler vê a reversão de um pacote fiscal “extremamente ousado e expansionista” – anunciado em setembro e pivô da renúncia da primeira-ministra do país, Liz Truss – como “bom senso” dos novos governantes. “Com problemas de inflação elevada, políticas monetária e fiscal contracionistas, déficit de conta corrente, produtividade baixa e uma economia que já aparenta estar em recessão, parece que, para os ingleses, a maior probabilidade de ouvir boas notícias deve vir dos gramados”, afirma.

Continua depois da publicidade

Já a China, diz o executivo, tem tido um verdadeiro “7 a 1” na economia em 2022. “Ao escolher lutar diversas batalhas ao mesmo tempo (desalavancagem do setor imobiliário, manutenção da política de zero Covid e o combate às empresas de tecnologia e do setor privado), o PIB desse ano acabou sendo sacrificado e deve fechar 2022 pouco acima dos 3%, nível bastante abaixo do PIB potencial de 5-6%”, afirma no texto.

Para o Brasil, o grande desafio do governo que assumirá a partir de janeiro de 2023, capitaneado por Luiz Inácio Lula da Silva, será equilibrar as contas fiscais, diz Adler. “Apesar de um ponto de partida melhor, devido em grande parte à alta dos preços das commodities, que permitiu números melhores na arrecadação, acreditamos que o cenário à frente requeira cautela”, alerta.

A SPX calcula que as promessas de campanha tenham um custo estimado de 3% do PIB ao ano. “Essas promessas, somadas às medidas fiscais estimulativas anunciadas pelo governo Bolsonaro ao longo de 2022, em um contexto de forte desaceleração global, tornam necessária a discussão de um novo arcabouço fiscal crível que consiga estabilizar a dívida pública no longo prazo”, diz a carta, ressaltando a expectativa de que o governo Lula faça um movimento em direção ao centro com o anúncio de bons nomes para a formação do novo governo.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney