Turbulência abala Fiagros e cotas desvalorizam até 12%; o que fazer agora?

Levantamento aponta que 11 dos 27 Fiagros listados em Bolsa apresentaram rentabilidade negativa da cota no último mês

Bruna Furlani

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Depois de cair no gosto das pessoas físicas, os fundos de investimentos nas cadeias produtivas agroindustriais (Fiagros) passam pelo primeiro estresse desde a sua criação, em 2021, o que refletiu diretamente nas cotas dos produtos negociados em Bolsa nos últimos meses, com quedas que chegaram a 12%.

Levantamento feito pela Economatica a pedido do InfoMoney aponta que 11 dos 27 Fiagros listados em Bolsa apresentaram rentabilidade negativa da cota ao longo de um mês até a última quinta-feira (28). Alguns dos maiores recuos foram vistos em fundos que tiveram algum problema de inadimplência na carteira, como o produto da SFI Investimentos (IAGR11), que acumula perdas de cerca de 12% no último mês, ou como o produto da Next Cap (NCRA11), que recua quase 5% no período.

No entanto, a turbulência, que é enfrentada pelo setor como um todo, acabou penalizando também produtos que não têm, pelo menos por enquanto, casos conhecidos de inadimplência afetando as carteiras, segundo os últimos relatórios gerenciais. Estão nessa situação os fundos Leste Fiagro Imobiliário (LSAG11), High Fiagro (HGAG11) e BB Crédito Fiagro (BBGO11).

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Veja a seguir a lista das cinco maiores quedas nas cotas de Fiagros no último mês:

Nomes dos FiagrosRetorno no último mês (28/02 a 28/03)Retorno no ano até 28/03
SFI Inve do Agro-Fiagro-Imob-Unica (IAGR11)-11,61  3,50  
Leste FI Nas Cadeias Produtiva-Classe Un (LSAG11)-8,40  -2,91  
High – Fiagro FII-1a Emissa (HGAG11)-7,49  -8,15  
Nch Rec do Agro – Fiagro Imob-Unica  (NCRA11)-4,77  -7,34  
BB FI de Cr-Unica  (BBGO11)-1,66  1,67  
Fonte: Economatica

Quedas se justificam?

No fundo do BB, pode chamar atenção do investidor a presença de títulos de companhias que passam por uma situação mais delicada neste momento, caso de AgroGalaxy, Fiabril e Futura Agro. Apesar disso, a gestora defende, em relatório, não ver nenhum “desafio de crédito” e acrescenta que as empresas vivem desafios “pontuais” e que estão em fase de ajustes para melhorar o seu perfil financeiro.

A concentração de boa parcela da carteira em um só ativo, ou a alocação dentro de um único segmento dentro do agronegócio que vive um momento mais turbulento, como o das revendas, também são alguns dos motivos que podem estar pesando sobre os produtos.

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“Fiagros são novos e não têm tanta liquidez. Vemos que o mercado penaliza, de forma geral, por ser um investimento novo e por ele ainda estar experimentando o produto”, avalia Leonardo Garcia, analista de fundos imobiliários e Fiagros do TRIX.

Vale se desfazer das Fiagros agora?

Para Garcia, o movimento mais negativo é fruto da venda de cotas por investidores pessoas físicas e saída de alguns investidores institucionais, que podem estar migrando para outros tipos de ativos, com risco menor.

Para sair de um Fiagro listado, o investidor precisa realizar a venda da cota do produto no secundário, mas a saída em momentos de preços mais baixos e de estresse não tende a ser uma boa estratégia, como explica Guilherme Sharovsky, investment banker da Bloxs Capital Partners.

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“É melhor segurar. Eu recomendaria a venda se tivesse um risco sistêmico no mercado de capitais. Não estou vendo a indústria de Fiagros como um todo se deteriorando. Temos poucos papéis inadimplentes, que correspondem a um percentual pequeno do todo”, defende o especialista da Bloxs.

Oportunidade com cautela

Há quem veja que o momento de maior turbulência também possa gerar oportunidades, desde que o investidor entenda os riscos envolvidos. Isso porque o movimento de venda de cotas fez com que alguns fundos ficassem com valores bastante descontados em relação ao preço considerado justo.

Sharovsky chama atenção, por exemplo, para alguns Fiagros com ativos que tiveram algum tipo de inadimplência e que poderiam ser oportunidades devido aos descontos, como o Galapagos Recebíveis do Agronegócio Fiagro (GCRA11), Valora CRA Fiagro (VGIA11), SFI Investimentos do Agronegócio (IAGR11) e Vectis Datagro Crédito Agronegócio Fiagro (VCRA11).

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O especialista da Bloxs destaca que as garantias dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) inadimplentes dos quatro casos são mais do que suficientes para cobrir as dívidas, e que os ativos em questão estão fora de eventuais recuperações judiciais — ainda que o processo para reaver os créditos possa ser demorado.

Felipe Ribeiro, diretor de investimentos alternativos do Clube FII, também defende que o momento não é para “pânico” e sim para verificar possíveis oportunidades. No entanto, destaca que é preciso cautela antes de realizar novas aplicações. Segundo ele, os descontos podem esconder algumas armadilhas, como eventuais inadimplências que o investidor não está sabendo, ou uma exposição maior a algum segmento mais delicado. Para evitar problemas, a dica do especialista é sempre dar preferência a fundos mais diversificados, que não possuem alta concentração em um algum tipo de crédito, safra ou setor.

Além disso, é preciso avaliar se o investidor estará apto a correr certo risco ao alocar em um Fiagro. “As taxas costumam ser maiores do que as dos FIIs [fundos imobiliários], então é esperado um risco maior. É importante ver se o ativo faz sentido para a pessoa”, alerta Garcia, do TRIX. Para ele, quem estiver alocado em Fiagros também deve se preparar para um semestre mais volátil, com possíveis novos pedidos de recuperação judicial de empresas do agronegócio e novas renegociações devido à queda dos juros.