“Truque de Mestre”, o último ato: o caso Americanas, a volatilidade, a liquidez e o risco

Com frequência, volatilidade é vista como uma métrica de risco para indicar investimentos considerados mais ou menos conservadores; será a mais indicada?

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

A sequência de filmes “Truque de Mestre” é uma daquelas que me faz sentar na cadeira e prende minha atenção. Confesso não achar que sejam as obras cinematográficas mais incríveis do planeta, mas uma boa e velha ação com algumas trapaças ilusionistas costumam ser divertidas (nas telinhas, não na realidade).

Os filmes contam a história de um grupo de ilusionistas que encantam o público com suas mágicas e roubam bancos, distribuindo a quantia para os próprios espectadores. Um agente do FBI, Dylan Hobbs, um agente da Interpol, Alma Vargas, e um veterano desmistificador de mágicos, Thaddeus Bradley, estão determinados a capturá-los.

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Uma tarefa árdua, afinal de contas, não são apenas um grupo de bandidos, são ilusionistas qualificados que conseguem dissuadir diversas pessoas em seus atos. A dificuldade é tamanha que foi necessário mais de um filme para colocar um ponto final na história (isso é considerado um spoiler?).

No mercado financeiro, existem alguns “truques de mestre”. Hoje vamos falar sobre um dos que considero o mais curioso: volatilidade.

Leio constantemente reportagens, relatórios de análise e outros materiais utilizarem a volatilidade como uma métrica de risco para indicar o que pode ser considerado mais ou menos conservador. Será que ela é a melhor medida de risco?

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Antes de mais nada: volatilidade é a medida estatística de dispersão de um determinado ativo financeiro ou índice. Ela é calculada com base no desvio padrão ou a variância entre retornos deste ativo.

Ou como eu costumava dizer aos meus clientes, na época de assessor, “o quanto esse ativo vai balançar na sua carteira”.

Porém, para que todo esse “financês” tenha algum valor, é importante que o ativo ou índice em questão possua liquidez, tenha bom volume de negócios.

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Isso significa que um ativo pouco negociado – e por consequência, pouco volátil – não necessariamente tem menor risco. Vou utilizar o caso de Americanas para explicar melhor.

Diversos fundos de investimento dedicados ao mercado de crédito possuíam debêntures da companhia na carteira – inclusive veículos tidos como “conservadores”, muitos deles dedicados a ser instrumento de reserva para os investidores.

Da noite para o dia, literalmente, muitos deles sofreram com a perda de valor causada pela inconsistência contábil identificada na Americanas, causa de um movimento desenfreado de venda de ativos emitidos por ela. O mesmo é valido para os investidores individuais que aproveitaram taxas mais elevadas e alocaram recursos em títulos de dívida da companhia.

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O “truque de mestre” foi a volatilidade baixa pela pouca negociação na linha do tempo destes ativos. Assim como alguns outros mercados, títulos de crédito privado não possuem liquidez tão elevada – e, por isso, apresentam volatilidade baixa.

Lembro-me que, durante o “Corona Crash”, os fundos brasileiros do tipo high grade (que investem em papéis de menor risco e, por consequência, menor potencial de retorno) entregaram retornos piores do que os fundos high yield (que fazem o contrário, alocando em papéis mais arriscados e de rentabilidade maior).

Ou seja, fundos dedicados a crédito de empresas com grau de investimento, que em tese possuem uma saúde financeira melhor, perderam de lavada para fundos que são credores de empresas com risco de crédito maior.

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Isso significa que o risco do high grade era maior do que o do high yield naquele momento? Essa eu respondo: de maneira nenhuma.

Esse movimento aconteceu pelo simples fato de que os títulos com grau de investimento são mais líquidos do que os que possuem risco de crédito maior. Dada a necessidade de liquidez, a corrida pelo “dinheiro no bolso” diante das incertezas causadas pela pandemia levou esses ativos a ser alvos de venda em maior proporção.

Não quero apavorar ninguém. As alternativas do mercado de crédito cabem muito bem numa carteira diversificada. Há gestoras de alto padrão que atuam nesses mercados com excelência. Meu ponto é: a volatilidade é uma medida imperfeita de risco.

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Ela não pode ser determinante para dizer se isso é conservador ou não, se aquele produto financeiro pode ser utilizado como uma alternativa para sua reserva de emergência ou não. O mercado possui truques ilusionistas poderosos – basta ampliar a visão para enxergá-los.

Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney