Transição da matriz energética global: por que gestoras como a Grimper estão de olho nisso?

Créditos de carbono, gás natural, cobre, alumínio e ações de Weg, Raízen, Cosan, Alcoa, Rio Tinto, Suzano e Eneva são algumas das apostas

Mariana Segala

(Divulgação)

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SÃO PAULO – Ao explicar os fatores que balizam parte das decisões que toma na gestão de fundos sob sua responsabilidade, André Szasz, sócio-fundador da Grimper Capital, começa a conversa pelo solar minimun – o ponto de menor atividade do Sol, a cada ciclo de 11 anos. Depois, segue para os jet streams, como são chamadas correntes de ar localizadas nos polos Norte e Sul, atuando sobre o clima da Terra. Aborda ainda El Niño, La Niña e outros fenômenos meteorológicos.

“O pessoal achava esquisito um gestor de ações falando de clima”, diz o executivo. Mas, na verdade, Szasz estava falando de investimentos. Desde o início deste ano, a mudança climática e a transição da matriz energética global se tornaram teses importantes para definir uma parcela da alocação dos fundos da Grimper.

Créditos de carbono, gás natural, commodities metálicas como cobre e alumínio e ações de empresas como Weg, Raízen, Cosan, Alcoa, Rio Tinto, Suzano e Eneva, entre outras, são algumas das apostas decorrentes dessas teses que os dois fundos da casa carregam.

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No multimercado, batizado Grimper Blanc, cerca de 20% a 25% do limite de risco é ocupado pelos investimentos em commodities. No fundo de ações, o Grimper Meru Long Bias, os papéis das empresas mencionadas correspondem a até 40% da carteira.

Não que seja uma opção simples. Commodities costumam apresentar movimentos bruscos nos mercados. E a volatilidade das últimas semanas na Bolsa brasileira também atingiu os fundos. O Grimper Blanc acumula retorno de cerca de 3,36% desde que foi lançado, em fevereiro deste ano, enquanto o Meru, que data de março, está no zero a zero.

As primeiras materializações da tese relacionada à transição da matriz energética global se deram com investimentos em créditos de carbono. “Sylvio [Castro, CIO da Grimper] identificou que  os países, principalmente na Europa, estavam muito inclinados a esse tema”, conta Szasz.

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No fim de 2020, os governos dos países da União Europeia estabeleceram um plano para reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 55% até 2030, considerando como referência os níveis verificados em 1990. A ideia é zerar as emissões até 2050.

Para atingir as metas de redução definidas por órgãos reguladores, as empresas têm dois caminhos, explica Szasz: ou adaptam o processo produtivo, quando é possível, ou compram créditos de carbono para compensar as emissões. É o que tem impulsionado o segmento.

“O mercado percebeu a pressão na Europa, com Alemanha, França, Reino Unido e outros países dificultando as regras, reduzindo os limites de emissão, estabelecendo maior tributação”, explica o gestor. “Os preços dos créditos de carbono começaram a subir naturalmente”.

A Grimper comprou posições em créditos de carbono – primeiro por meio de ETFs (fundos de índices listados em bolsas de valores), depois no mercado futuro – por volta de abril. De lá para cá, as cotações subiram cerca de 40%. “É a primeira fonte de retornos que extraímos de uma leitura longa sobre as mudanças climáticas que estamos vivendo, e das quais não devemos nos livrar no curto prazo”, diz Sazsz.

Fora isso, também aposta em ações de empresas brasileiras com potencial para se tornarem geradoras de créditos de carbono, como é o caso da Raízen (RAIZ4), que atua na produção de açúcar e etanol. “A cana é eficiente em absorver carbono da atmosfera e o etanol é menos poluidor do que os combustíveis fósseis”, explica. Raciocínio semelhante se aplica à Suzano (SUZB3), maior produtora global de celulose de eucalipto, que, a partir de suas florestas, prevê capturar 40 milhões de toneladas de carbono da atmosfera até 2025.

Commodities metálicas

A Grimper também tem investido em commodities, devido às oportunidades geradas justamente pela mudança climática – mais precisamente, em função da agenda da substituição de fontes de energia não renováveis. A gestora mapeou uma série de matérias-primas cuja demanda está em ascensão, como cobre, alumínio, lítio e vanádio.

Dentre elas, já tem apostado em cobre e alumínio – seja pela maior convicção no seu desempenho, seja pela facilidade de encontrar veículos viáveis para investimento (no caso, contratos futuros). “Um carro elétrico demanda seis vezes mais cobre do que um carro tradicional”, explica Szasz. O metal possui elevada capacidade de condução de eletricidade e é resistente à corrosão. Por isso, é visto por muitos como matéria-prima estratégica para o processo de descarbonização da economia.

Com a desestabilização das cadeias de fornecimento causada pela pandemia de coronavírus e as dificuldades logística para movimentar as matérias-primas pelo mundo, entre outros fatores, os preços têm subido. Nos últimos dois anos, o contrato futuro de cobre negociado na Comex com vencimento em dezembro de 2021 avançou 66%. Considerando como referência o ponto mais baixo das cotações desde o início da pandemia, em março, a alta supera 100%.

Muito da aposta da Grimper no alumínio se dá pela via do investimento nas empresas produtoras. No Brasil, é o caso da Companhia Brasileira de Alumínio (CBAV3), que estreou na B3 em um IPO realizado em julho. A empresa é a única companhia integrada de alumínio do Brasil – sua atuação começa na mineração da bauxita e segue até a produção de produtos primários e transformados de alumínio. Apesar da volatilidade recente do mercado, as ações da empresa registram alta acumulada de cerca de 13% desde sua chegada ao pregão.

Nos mercados internacionais, os fundos investem em empresas como Alcoa (uma das maiores produtoras de alumínio do mundo, listada na Bolsa de Nova York) e Rio Tinto (segunda maior mineradora, de origem anglo-australiana, listada na Bolsa de Londres). “Embora seja produtora de minério de ferro, sua principal operação fica na Austrália e 25% do Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] vem do alumínio. É uma composição melhor que a da Vale, por exemplo”, diz Szasz.

Além de ser demandado nos equipamentos que farão parte da transição energética, o alumínio também sentiu nos preços os efeitos do fator China. A combinação entre os planos de descarbonização da economia chinesa (ainda muito baseada em combustíveis como o carvão) definidos pelo governo com o aumento da demanda nas linhas de produção com a retomada pós-pandemia conduziram a uma crise no fornecimento de energia – e indústrias intensivas em energia, como a do alumínio, passaram a ter limites de produção. Nos últimos dois anos, os preços do contrato futuro de alumínio negociado na Comex com vencimento em janeiro de 2022 subiram cerca de 50%.

Outra empresa na mira dos fundos da Grimper é a Weg (WEGE3), fabricantes de motores elétricos e outros equipamentos que, acredita o gestor, será muito demandada em um cenário de transição da matriz energética. “A empresa tem olhado bastante para o segmento de energia eólica e entrado também na solar”, explica.

Gás natural

Das fontes não renováveis de energia, o gás natural é considerada uma das menos poluentes. “Na nossa visão, há novamente a possibilidade de um inverno rigoroso no Hemisfério Norte. Estados Unidos e Europa são grandes consumidores [para fins de aquecimento], e não se trata de uma commodity fácil de transportar”, diz Szasz. Por isso, contratos futuros de gás natural também compõem o portfólio da Grimper.

Os fundos também têm exposição a ações da Eneva (ENEV3), antiga MPX, que atua na geração, exploração e produção de gás natural e comercialização de energia elétrica. “A Eneva tem desde a exploração até a venda para consumidores do atacado. Com o novo marco do gás, vai poder ser fornecedora para cidades também”, explica o gestor, destacando que a remuneração da empresa toma como base o preço do gás transacionado nos Estados Unidos.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney