Títulos do Tesouro Direto voltam a oferecer retornos próximos de IPCA+6%; o que fazer agora?

Especialistas estão divididos sobre o momento ser o melhor para alocar em títulos atrelados à inflação, diante da possibilidade de novas altas

Bruna Furlani

(Shutterstock)

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Quem entrou no Tesouro Direto na manhã desta quarta-feira (27) se surpreendeu com as taxas de alguns títulos públicos atrelados à inflação batendo retornos acima de IPCA acrescido de 6% ao ano, caso do Tesouro IPCA+2045, que chegou a pagar uma rentabilidade real de 6,04%.

Embora o percentual entregue pelos papéis tenha baixado um pouco ao longo do dia e voltado para níveis abaixo de IPCA+6% após suspensão nos negócios, as rentabilidades permanecem elevadas. Na última atualização do dia, o juro real entregue pelo Tesouro IPCA+2045 estava em 5,87%.

Especialistas, porém, estão divididos sobre o momento atual ser o mais adequado para alocar em títulos atrelados à inflação. Na ponta mais otimista, Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, defende que as altas taxas abrem oportunidades para quem tiver estômago para aproveitá-las.

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“À medida em que as taxas voltam a subir, isso proporciona retornos melhores. Porém, mais do que nunca o investidor tem que ter apetite ao risco por causa do aumento da volatilidade”, destaca Jorge.

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De olho no retorno atrativo dos títulos atrelados à inflação e na chance de queda nos juros reais, caso o País consiga mostrar credibilidade do lado fiscal, a Opportunity também está mais otimista com a alocação em títulos atrelados à inflação.

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“Não deve ser a meta [proposta pelo governo], mas não acredito que vai ser um desastre. Penso que o déficit em 2024 não deve ficar muito longe do que o mercado está projetando no Focus, como algo entre -0,7% e -0,8% em 2024”, diz Marcos Mollica, gestor do fundo Opportunity Total.

Outro detalhe que favorece a alocação está na proteção contra a inflação oferecida por títulos atrelados ao IPCA, se os preços do petróleo e da energia continuarem a subir, lembra o executivo da Opportunity.

Nos cálculos da casa, feitos antes da divulgação do IPCA-15 hoje, a inflação deve terminar o ano em 4,7% e cair para 3,7% em 2024. A gestora também prevê que a Selic encerre o ano que vem entre 8,5% e 9%.

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Por outro lado, Alexandre Yamamoto, analista da Levante, avalia que o momento talvez não seja o melhor para aplicar, diante do risco de os juros abrirem ainda mais.

Do lado internacional, o especialista defende que os Estados Unidos estão tentando “rearrumar” a casa, enquanto no Brasil o cenário político está bem “nublado”, com as incertezas fiscais.

O que justifica a alta?

São justamente fatores externos e internos que têm pesado sobre a curva de juros local, como explica Jorge, da Quantzed. O profissional lembra que a preocupação com a política fiscal nos Estados Unidos e a abertura (alta) da curva de juros americana, especialmente das taxas mais longas, têm puxado para cima a curva de juros futuros brasileira.

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O movimento é reflexo da visão de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) irá manter as taxas de juros elevadas por mais tempo.

Por volta das 15h30 (horário de Brasília) desta quarta, os rendimentos oferecidos por títulos do Tesouro americano (Treasuries) de dez anos batiam 4,629%, acima dos 4,550% vistos na véspera.

Na máxima intradiária, o retorno oferecido pelo papel chegou a alcançar 4,648%.

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Já do lado interno, o peso maior tem recaído sobre a meta do Governo de zerar o déficit fiscal em 2024, que traz receio a agentes financeiros, observa Jorge.

A desconfiança do mercado financeiro cresceu nos últimos dias, em meio a discussões em torno de alterações no regime de pagamentos de precatórios.

Após a polêmica, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse nesta quarta que a proposta do Governo Federal para alterar o regime de pagamento de precatórios não contaminará a discussão sobre o cumprimento das metas fiscais previstas no novo arcabouço.

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Títulos de inflação atrás do Tesouro Selic

Em agosto, títulos com retorno atrelado à inflação (Tesouro IPCA+, Tesouro Educa+ e Tesouro RendA+) foram o segundo tipo mais demandado por investidores do Tesouro Direto, respondendo por 22% do total de vendas, ficando atrás apenas do Tesouro Selic, que totalizou R$ 2,42 bilhões em vendas, ou seja, 66,2% do total. Já os prefixados foram responsáveis por 11,8% dos investimentos. Os dados foram apresentados ontem (26) pelo Tesouro Nacional.

A maioria das vendas (46,7%), por sua vez, se concentrou em vencimentos entre cinco e dez anos em agosto. Os investimentos em títulos com vencimento entre um e cinco anos corresponderam a 38% do total, enquanto as aplicações acima de dez anos representaram 15,3%.