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Impasse no teto da dívida afeta títulos do Tesouro americano? Veja as chances de tomar “calote” dos EUA

Avaliação de especialistas é de que governo americano, em caso de "shutdown", cortaria gastos com serviços públicos e priorizaria pagamento da dívida

Ana Paula Ribeiro

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O impasse sobre o aumento do teto da dívida dos Estados Unidos faz surgir o temor de um calote por parte da maior economia do mundo. Caso o cenário mais pessimista ocorra, o governo americano terá que tomar a decisão de cortar gastos.

Para os investidores brasileiros, que só mais recentemente passaram a ter acesso direto e facilitado às Treasuries – títulos públicos americanos – por meio das contas internacionais, o assunto pode causar dúvidas, até temor. Há chance de o governo dos EUA dar um calote nesses papéis?

Especialistas veem como baixa a chance de um eventual shutdown (congelamento das despesas) afetar o pagamento do principal ou juros das Treasuries.

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“Apesar de toda a indefinição, o cenário ainda é de que o assunto será resolvido, pois a falta de um acordo traria problemas maiores. Caso não haja uma definição até o dia 1º de junho, o Tesouro dos EUA deve priorizar o pagamento de juros para evitar o aumento do risco”, avalia Guilherme Silva, da VG Research.

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O teto da dívida dos EUA é de US$ 31,4 trilhões e foi fixado em julho de 2021. A Casa Branca precisa entrar em um acordo com os congressistas para elevar esse valor até o dia 1º de junho. Os republicanos demandam um corte em gastos para elevar o valor do teto, enquanto os democratas, partido do presidente Joe Biden, tentam evitar redução do orçamento de investimentos e projetos federais.

Silva lembra que, caso não se chegue a um acordo, o Tesouro americano ainda pode usar os recursos da chamada Treasury General Account (TGA), mas o saldo dessa conta não chega a US$ 90 bilhões, o que dá uma margem pequena após o dia 1º antes do início de um shutdown de fato.

A secretária do Tesouro, Janet Yellen, afirmou nesta semana que, sem um acordo, seriam “bem pequenas” as chances de o governo americano chegar até o dia 15 de junho com capacidade de honrar seus compromissos financeiros.

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Apesar do quadro sensível, a falta de um acordo político já levou à suspensão temporária de pagamentos em outras ocasiões. Analistas lembram que a opção sempre foi a de cortar gastos considerados não essenciais, como o serviço de atendimento em museus e outros serviços, a deixar de honrar os compromissos da dívida.

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Dívida é prioridade

Matheus Pizzani, economista da CM Capital, também considera baixa a chance de uma suspensão dos pagamentos da dívida americana.

“Esse impasse já aconteceu em outros momentos. Agora, é como o Partido Republicado pode tirar proveito para impor algumas demandas. Essa costura do acordo deve durar até o limite do prazo”, avalia Pizzani.

Caso o prazo não seja cumprido, o Tesouro teria que fazer um corte dos pagamentos. Nesse caso, é esperada a paralisação de determinados serviços para preservar o pagamento da dívida.

“É uma questão política. A volatilidade vai existir até o momento do acordo. Nos momentos mais pessimistas, ela será maior”, diz.

Apesar da baixa probabilidade, já há uma diferença sensível entre os juros para os títulos com vencimento neste mês e no próximo.

Os títulos do Tesouro com vencimento em 25 de maio estão sendo negociados com uma taxa de 3,64% ao ano. Já aqueles com vencimento em 8 de junho estão sendo negociados com uma taxa de 5,883% ao ano. Os com vencimento em 13 de julho estão pagando um pouco menos, 4,975% ao ano.

O impasse sobre o teto está implícito nessa diferença. Os títulos de curto prazo que vencem após o dia 1º de junho enfrentam uma abertura de taxas, ou seja, uma elevação, porque, em um caso extremo, são os que embutem o maior nível de risco.

Para Heitor Martins, especialista em renda variável da Nexgen Capital, se a decisão for por cortar as despesas com a dívida, os investidores podem deixar de receber na data o pagamento de juros semestrais – mas o efeito de um calote desse tipo seria muito ruim para todo o mercado financeiro, incluindo aí o risco de rebaixamento da nota de risco de crédito do país, dada por agências de avaliação de risco.

“Isso iria gerar um cenário de grande aversão ao risco e fuga de capital. Os investidores optariam pela liquidez, por fazer caixa. Mas em outras situações similares, como a ocorrida ainda no governo de Donald Trump, a suspensão de pagamento durou só alguns dias e afetou apenas serviços públicos”, lembra.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney