Tesouro Direto: taxas recuam de olho no Federal Reserve e com enfraquecimento do dólar

Prefixados oferecem até 12,98% ao ano; ganho real dos papéis de inflação chega a 6,46%

Katherine Rivas

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As taxas dos títulos públicos operam em queda na tarde desta quarta-feira (25). Nos prefixados, as taxas recuam até 20 pontos-base, enquanto nos títulos atrelados à inflação a baixa é de até 6 pontos-base.

Segundo Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, a queda das taxas é influenciada pelo cenário externo, com o mercado questionando até quando o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deve continuar com o aperto monetário.

Costa explica que começou a safra de resultados corporativos nos Estados Unidos e companhias como Microsoft e Boeing não trouxeram novidades positivas para o mercado. “Isso já está dando uma ideia do impacto dos juros elevados na economia e nas empresas”, destaca Costa.

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Esse cenário acabou também provocando a queda nas Treasuries (títulos do Tesouro Americano) e o enfraquecimento do dólar, que por sua vez puxou a queda nas taxas locais. Na visão de Costa, embora o Fed já tenha sinalizado a intenção de elevar os juros americanos até o patamar de 5,25%, o mercado se questiona se provavelmente o banco central americano não deve sinalizar o fim do ciclo em 5%, com mais duas altas em fevereiro e março.

No Brasil, Costa destaca a apreciação do real, que impactou as taxas dos prefixados. Além do mercado estar devolvendo alguns prêmios de risco adicionados na curva de juros nos últimos dias, diante de declarações do governo sobre a independência do Banco Central, meta da inflação, entre outros ruídos fiscais. “Agora o mercado está retirando esses prêmios da curva de juros”, explica.

Atenção também para a reabertura da China que poderia beneficiar as commodities e favorecer o real.

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Igor Cavaca, gestor da Warren Asset Management, cita ainda a reação do mercado após dados do IPCA-15 (prévia da inflação), que veio acima do esperado. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) subiu 0,55% em janeiro, enquanto a estimativa dos analistas apontava para inflação de 0,52%.

As taxas de juros e títulos públicos recuaram no lugar de avançar, o que na visão de Cavaca aconteceu por conta de o mercado estar mais focado em sinalizações de um governo menos intervencionista e o cenário nos Estados Unidos. “Os efeitos nas expectativas foram maiores do que os impactos diretos das variáveis econômicas”, avalia.

Cavaca destaca o aumento do preço da gasolina feito pela Petrobras, que também contribuiu positivamente com as expectativas dos investidores. “O mercado está interpretando um governo menos intervencionista nas estatais, com menos políticas de manutenção artificial de preços e políticas fiscais”, afirma.

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Dentro do Tesouro Direto, os títulos de médio e longo prazo apresentavam a maior queda nas taxas. O Tesouro Prefixado 2029 e o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, ofereciam às 15h25 um retorno anual de 12,98% e 12,95%, respectivamente, inferior aos 13,18% e 13,15% da sessão anterior.

O Tesouro Prefixado 2026 apresentava uma rentabilidade anual de 12,66%, abaixo dos 12,83% vistos ontem.

Nos títulos atrelados à inflação, as taxas recuavam entre 3 e 6 pontos-base. O maior ganho real registrado nesta sessão era do Tesouro IPCA+ 2045, de 6,46%.

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Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta quarta-feira (25):

Fonte: Tesouro Direto

Confiança do consumidor cai 2,2 pontos em janeiro

A confiança do consumidor caiu 2,2 pontos em janeiro ante dezembro de 2022, na série com ajuste sazonal, informou nesta quarta-feira (25), a Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) ficou em 85,8 pontos. A queda ocorre após avanço de 2,7 pontos em dezembro. Em médias móveis trimestrais, o índice caiu 0,9 ponto, para 86,4 pontos, na segunda queda seguida.

“O resultado reflete o pessimismo em relação aos próximos meses, embora as famílias de menor poder aquisitivo ainda se mantenham otimistas. A percepção sobre a situação atual não se altera muito em relação aos meses anteriores, ou seja, há uma desaceleração do mercado de trabalho, endividamento e taxa de juros elevados que continuam diminuindo as intenções de compras nos próximos meses”, diz nota divulgada pela FGV.

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Entre os dois principais componentes do ICC, o Índice de Expectativas (IE) recuou 3,6 pontos, para 96,7 pontos, puxando a queda do indicador agregado. O Índice de Situação Atual (ISA) se manteve “relativamente” estável pelo segundo mês seguido, com alta de 0,2 ponto, para 71,1 pontos.

Dentro do ISA, houve piora da satisfação das famílias sobre a situação econômica e melhora das avaliações sobre as finanças pessoais, informou a FGV. “O indicador que mede a satisfação sobre a situação financeira das famílias subiu 0,8 ponto, para 64,4 pontos, enquanto o indicador que mede as avaliações sobre a situação econômica recuou 0,5 ponto, para 78,3 pontos e chega ao seu pior resultado desde julho de 2022 (77,9 pontos)”, diz a nota da FGV.

Já no IE, o que mais contribuiu para a queda de janeiro foi o componente que mede a perspectiva sobre a situação financeira das famílias nos próximos seis meses, cujo indicador caiu 7,6 pontos, para 97,4 pontos. “Os indicadores que medem o grau de otimismo com a situação econômica geral e a intenção de compra de bens duráveis recuaram 1,7 e 1,2 ponto, para 113,4 e 79,6 pontos, respectivamente”, diz a nota da FGV.

A entidade destacou ainda que houve “uma equiparação do nível de confiança entre as faixas de renda, mas que não significa um resultado favorável, já que todas se mantêm girando em torno dos 80 pontos, nível baixo em termos históricos”. “Consumidores de menor poder aquisitivo estão mais otimistas pelo segundo mês consecutivo, enquanto os de maior seguem com as expectativas em queda pelo quarto mês consecutivo”, diz a nota.

A Sondagem do Consumidor coletou as informações com entrevistas entre os dias 1º e 21 de janeiro.

Gleisi isenta governo de alta da gasolina

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, criticou o aumento do preço da gasolina anunciado na quarta-feira (24) pela Petrobras e isentou o governo federal de responsabilidade pelo reajuste.

“Reajuste da gasolina acontece antes de Jean Paul assumir a Petrobras. Notícia é de que foi pressão dos acionistas”, disse a deputada federal pelo Paraná ao destacar que a alta acontece antes de Prates, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assumir o comando da estatal.

Ainda segundo ela, o governo vai trabalhar pela mudança da atual política de preços da empresa, que atrela os reajustes aos valores praticados internacionalmente, em dólar.

“Nosso compromisso é por fim à dolarização e à política de venda dos ativos. Riquezas da estatal deverão ser partilhadas com o povo brasileiro, que é o seu dono”, afirmou.

A Petrobras anunciou que o preço médio de venda de gasolina para as distribuidoras passará de R$ 3,08 para R$ 3,31 por litro. O aumento de 23 centavos por litro equivale a um reajuste de 7,46%.

A alta é a primeira do governo Lula, mas vale lembrar que a atual direção da companhia não foi trocada pelo novo presidente e permanece a mesma deixada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.