Tesouro Direto: taxas sobem com risco fiscal e de olho nos indicadores econômicos

Prefixados oferecem até 12,64% na tarde desta segunda-feira (30)

Bruna Furlani Katherine Rivas

(Getty Images)

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As taxas dos títulos públicos avançam na tarde desta segunda-feira (30). Nos prefixados, a rentabilidade dos títulos apresenta alta de até 25 pontos-base, enquanto nos títulos atrelados à inflação as taxas sobem até 11 pontos-base.

Segundo Flavio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos, os juros longos sobem puxados por preocupações dos investidores com o fiscal, em meio a debates sobre a redução de impostos e interferência na política de preços dos combustíveis.

“A bolsa também teve um comportamento ruim. A exceção é o câmbio que segue bem comportado”, destaca Serrano. Por volta das 15h47, o dólar comercial apresentava alta de 0,09%, cotado a R$ 4,7423.

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Agentes financeiros monitoram com atenção a divulgação de mais dados de inflação na cena local, com os números do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que foram apresentados nesta segunda-feira (30). Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), o índice avançou 0,52% em maio, o que representa uma desaceleração em relação aos 1,41% do mês anterior.

De acordo com Serrano, nesta semana o mercado focará também nos resultados da atividade econômica e que podem ter impactos na curva de juros.

No Brasil, investidores devem ficar atentos ao PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre de 2022, que será divulgado na quinta-feira (2).

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No radar, tem ainda dados do índice de desemprego, na terça-feira (31), e da produção industrial de abril, na sexta-feira (3).

Já nos Estados Unidos, Serrano cita dados do mercado de trabalho que devem ganhar destaque. O payroll sai na sexta-feira (3).

Dentro do Tesouro Direto, as taxas dos prefixados apresentavam a maior alta subindo até 25 pontos-base.

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O Tesouro Prefixado 2029 e o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, ofereciam às 15h18 uma rentabilidade anual de 12,41% e 12,64%, respectivamente, superior aos 12,16% e 12,39% vistos na sexta-feira (27).

Já o Tesouro Prefixado 2025 entregava um retorno anual de 12,42% na última atualização desta segunda-feira (30), acima dos 12,20% da sessão anterior.

Nos títulos atrelados à inflação, as taxas avançavam entre 5 e 11 pontos-base.

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O Tesouro IPCA+ 2026 tinha o maior ganho entre as taxas. O título público oferecia um retorno real de 5,57%, superior aos 5,46% registrados na semana passada.

Seguido pelo Tesouro IPCA+ 2032, com juros semestrais, que oferecia um ganho real de 5,69% hoje, acima dos 5,60% da sexta-feira (27).

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta segunda-feira (30): 

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Fonte: Tesouro Direto

Bruno Serra

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, destacou nesta segunda-feira, 30, que a economia brasileira pode ser um destaque positivo no mundo este ano, ao comentar as recentes revisões de alta para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2022. “Podemos ser os bonitos em meio a uma economia global feia. Todo mundo está revisando o crescimento do mundo para baixo e do Brasil para cima”, disse, em evento online da Kinea.

Segundo Serra, há fatores conjunturais e estruturais para um desempenho melhor da economia brasileira. Na conjuntura, ele comentou que teve dificuldade de entender as projeções iniciais muito negativas para o PIB deste ano. “Crédito continua subindo a dois dígitos sem desacelerar ainda. Se o crédito e a renda estão bem, então há demanda positiva.”

Além disso, ainda no cenário conjuntural, destacou que o juro real só entrou em um campo neutro no terceiro trimestre de 2021 e que os dados de atividade atuais ainda respondem ao momento de juro do início do ano passado, quando estava em terreno estimulativo.

Mas Serra também avaliou que há um fator estrutural por trás do desempenho melhor da economia brasileira: o investimento privado. Ele comentou que começa a fazer efeito mudança da economia iniciada em 2016 de maior direcionamento ao investimento privado. “Investimento brasileiro se recuperou mais rápido que o dos nossos pares. Investimento privado está no pico histórico enquanto governo não tem capacidade de investir. Tem fatores estruturais que não estão bem entendidos.”

IGP-M

Em dia de agenda esvaziada, o destaque está na apresentação dos números do IGP-M. Segundo a FGV, a inflação acumulada em 12 meses desacelerou de 14,66% para 10,72%, também em linha com a estimativa do Projeções Broadcast. No ano de 2022, o indicador acumula alta de 7,54%.

André Braz, coordenador dos índices de preços, destacou que o recuo está ligado à queda no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) e do Índice de Preços ao Consumidor (IPC). As duas contrações, diz Braz, são reflexo da desaceleração dos combustíveis.

O coordenador da FGV afirma que, no caso do índice ao produtor, o diesel subiu 3,29% em abril, ante 14,70% em abril. Já no IPC, o pesquisador destaca que a gasolina avançou 1,01% em maio, abaixo dos 5,86% vistos em abril.

ICMS e bloqueio no Orçamento

Na tentativa de barrar o projeto PLP 18/22, que estabelece um teto de 17% para as alíquotas de ICMS sobre itens como gasolina, diesel e energia elétrica, os secretários estaduais de Fazenda marcaram uma reunião para esta segunda-feira com Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado.

A medida é vista com preocupação por alguns ex-ministros da Fazenda, como Henrique Meireles. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o também ex-presidente do Banco Central disse que tais iniciativas podem trazer problemas financeiros para Estados e municípios, que teriam de recorrer à União em uma situação de crise.

Meirelles acredita que o combate à inflação deveria ser feito, na verdade, com uma política fiscal responsável, respeitando a regra do teto de gastos. Para ele, isso traria confiança para economia e poderia levar a uma desvalorização do dólar e ao recuo das expectativas de inflação.

Também na cena política, o bloqueio no Orçamento deve ficar próximo de R$ 14 bilhões para incluir a previsão de reajuste linear de 5% para todo o funcionalismo, segundo a Reuters.

O detalhamento sobre quais programas e ministérios que vão ser mais atingidos ainda não foi fechado, e deve ser divulgado até segunda-feira, 30, mas a reportagem apurou que Educação, Saúde e Ciência e Tecnologia devem ser os mais afetados.

O bloqueio é necessário para o governo cumprir o teto de gastos, a regra que atrela o crescimento das despesas à inflação.