Tesouro Direto: prefixado 2029 chega a 13,07%; volatilidade cresce após discursos de Lula e Haddad

Entre os títulos atrelados à inflação, a maior taxa real era oferecida pelo Tesouro IPCA+ 2026, de 6,29% ao ano

Neide Martingo

Dinheiro na carteira (Brenda Beth/Getty Images)

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A volatilidade vista durante o governo de transição mostra-se firme e forte no primeiro dia útil do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tomou posse neste domingo (1). Em seu discurso nesta segunda-feira (2), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou que sua primeira missão no comando da pasta será “reconstruir a casa”, revendo atos praticados durante o governo Jair Bolsonaro (PL), especialmente às vésperas das eleições de 2022.

“Estamos mais próximos da necessidade de reconstruir a casa, mais do que simplesmente arrumá-la”, disse o novo comandante da equipe econômica do governo.

Haddad reafirmou o compromisso de encaminhar ao Congresso Nacional a proposta de um novo arcabouço fiscal para o País ainda no primeiro semestre, em substituição do teto de gastos. A medida é uma exigência prevista na PEC da Transição, promulgada pelo parlamento no mês passado.

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“Assumo com todos vocês o compromisso de enviar, ainda no primeiro semestre, ao Congresso Nacional, a proposta de um novo arcabouço fiscal que organize as contas públicas pelo longo prazo, que seja confiável e, principalmente, um arcabouço que seja respeitado e cumprido”, disse.

Os discursos de Lula, neste domingo, tiveram grande impacto no Tesouro Direto. Lula prometeu, por exemplo, reformar a legislação trabalhista e chamou o Teto de Gastos de “estupidez”, afirmando que ele será revogado. Não houve menção a um novo arcabouço fiscal.

Também no dia 1° de janeiro foram assinados os primeiros decretos presidenciais, sendo os mais importantes do ponto de vista macroeconômico a esperada manutenção do pagamento de R$ 600 para as famílias mais pobres e a prorrogação por 60 dias da desoneração sobre os combustíveis.

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Este último anúncio terá um impacto na arrecadação federal e contraria uma defesa feita pelo novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Além disso, analistas do mercado financeiro continuam a aumentar a expectativa para a inflação de 2023, 2024 e 2025 e reduziram a projeção de queda dos juros neste ano, segundo estimativas divulgadas nesta segunda-feira pelo Relatório Focus, do Banco Central.

As mais de 100 instituições financeiras consultadas semanalmente pelo BC também passaram a estimar um Produto Interno Bruto (PIB) levemente superior neste ano, mas inferior em 2025. Para o dólar, a perspectiva ficou estável nos 3 próximos anos.

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A expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu para 2023 (de 5,23% para 5,31%), 2024 (de 3,60% para 3,65%) e 2025 (de 3,20% para 3,25%)

Por volta de 15h20 o Ibovespa operava em queda, lutando para se manter nos 106 mil pontos, com investidores digerindo primeiros passos do governo Lula. Dólar subia 1,49%, cotado a R$ 5,35, com piora na percepção, por conta da prorrogação da desoneração de impostos federais sobre combustíveis.

Às 15h28, o mercado de títulos públicos operava com alta nas taxas, movimento visto desde a manhã. O destaque é o Tesouro Prefixado 2029, com retorno de 13,07% ao ano, bem acima do apresentado na quinta-feira (29), de 12,81%, na última sessão de 2022.

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As negociações do Tesouro Prefixado 2033 voltaram a operar. Elas estavam suspensas devido ao pagamento do cupom semestral, que ocorre nesta segunda-feira.

E os investidores viram a cobrança da taxa semestral de custódia, que ocorre no primeiro dia útil de janeiro.

Já entre os papéis atrelados à inflação, a maior taxa real era oferecida pelo Tesouro IPCA+ 2026, no valor de 6,29% ao ano, superior aos 6,18% registrados na quinta-feira passada.

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“Vimos hoje uma abertura de contrato de juros futuros com uma forte subida, principalmente pelas notícias que envolvem o âmbito político. O discurso de Fernando Haddad gerou uma expectativa para o mercado e registramos a alta no contrato de juros futuro”, afirma Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos.

Segundo ele, os contratos, ao longo do dia, foram negociados acima dos 13% ao ano, mas o retorno arrefeceu um pouco.

Para Caetano, o cenário para 2023 segue com um viés bem positivo para a renda fixa. “Temos uma sinalização de que a taxa básica de juros deve permanecer, por um tempo mais prolongado, em patamares elevados, acima de dois dígitos. A redução na Selic só deve ocorrer de fato no segundo semestre deste ano”. Ele diz que a Toro trabalha com cenário em que a Selic seja de 11,75% no fim de 2023.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (02): 

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Haddad

Em sua primeira fala após tomar posse no noite de domingo (1), o ministro da Economia, Fernando Haddad, disse que “não estamos aqui para aventura”. Ele repetiu, em discurso de posse, que trabalhará com responsabilidade fiscal

O novo ministro acenou com uma retomada forte do processo de integração do Mercosul e outros países da América do Sul. Haddad disse que é um “alívio” para a região saber que os países agora estarão mais unidos no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo o ministro, Lula tem “obsessão” pelo Mercosul. “O presidente já fez muito pelo Mercosul e vai voltar a fazer”. Ele criticou a atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento e Social (BNDES) no financiamento das exportações para o bloco. Segundo ele, o BNDES, o Eximbank brasileiro, assistiu a queda das vendas de produtos manufaturados sem fazer nada.

A maior integração dos países da região é um dos temas de interesse do novo ministro. Junto com o novo secretário-executivo do ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, Haddad escreveu um artigo defendendo a criação de uma moeda única para os países da América do Sul. Iniciativa para acelerar a integração regional fortalecer a soberania monetária dos países do continente.

Discurso de Lula

O petista Luiz Inácio Lula da Silva entregou no primeiro discurso como presidente empossado o que escondeu durante toda a campanha: as diretrizes econômicas do seu futuro governo. E o desenho proposto traz de volta uma visão mais desenvolvimentista, com maior participação do Estado como pilar da economia.

De largada, o presidente prometeu rever políticas mais liberais, como a reforma trabalhista e as privatizações de estatais, além de colocar por terra o que chamou de “estupidez” do teto de gastos – norma criada no governo do ex-presidente Michel Temer para limitar as despesas e garantir a sustentabilidade das contas públicas. O presidente não detalhou que tipo de controle vai colocar no lugar, mas seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que vai mandar ao Congresso uma nova regra ainda no início deste ano.

Balança comercial

A balança comercial fechou 2022 com superávit de US$ 62,31 bilhões, crescimento de 1,5%. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços informou que no acumulado de Janeiro a dezembro de 2022, em comparação a igual período do ano anterior, as exportações cresceram 19,3% e somaram US$ 335,01 bilhões. Já as importações cresceram 24,3% e totalizaram US$ 272,70 bilhões.

Bolsas internacionais

Os mercados de Nova York, da maior parte da Ásia e do Reino Unido ainda estão em recesso de Ano Novo (o feriado que caiu no domingo foi transferido para hoje), o temor causado pelo risco fiscal pauta a agenda dos investidores nesta segunda-feira (2).

A Bolsa de Hong Kong fechou em queda de 0,48%, com impacto especialmente de um relatório divulgado no final de semana e que mostrou que a manufatura chinesa contraiu pelo terceiro mês consecutivo em dezembro, na maior queda desde fevereiro de 2020.

As Bolsas de Paris e Frankfurt abriam em alta, respectivamente, de 0,77% e 1,06%, com os investidores aproveitando os preços das ações de alguns setores após a queda do ano passado.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney