Tesouro Direto: juros têm comportamento misto, com prefixados a 12,23%; foco do mercado é regra fiscal

Retorno do IPCA+ 2045 era de 6% ao ano, maior do que os 5,98% da sexta-feira (5)

Neide Martingo

Publicidade

Depois de muita expectativa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta segunda-feira (8) que seu secretário-executivo, Gabriel Galípolo, será indicado para a diretoria de Política Monetária do Banco Central, destacando que o governo não quer “formar bancada” na cúpula da autarquia, mas busca maior coordenação e harmonia entre políticas fiscal e monetária.

“A escolha dele não fará os juros caírem antes do que a atual diretoria do BC imagina como adequado, mas sem dúvida abre o contraditório dentro do Copom e encaminha a discussão no sentido de trazer outros elementos para a mesa do colegiado”, destacou o economista André Perfeito. “O mercado pode até especular que essa mudança irá tornar a política monetária mais expansionista, mas há evidências de sobra que o novo diretor não age de maneira monocrática. Haverá muita negociação e parcimônia na sua gestão”, acrescentou.

Outro destaque de hoje é o Boletim Focus, que mostra que a projeção de inflação para 2023 feita pelo analistas de mercado caiu de 6,05% para 6,02%. A estimativa para 2024 também caiu, enquanto as de 2025 e 2026 foram mantidas nos mesmo patamares da semana anterior, segundo a pesquisa.

Continua depois da publicidade

Na seara política, o presidente Lula voltou a atacar a taxa Selic no fim de semana e repetiu que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não tem compromisso com o Brasil. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, viaja ao Japão para participar da reunião dos ministros da Fazenda do G7.

No Tesouro Direto, os juros dos títulos públicos apresentavam comportamento misto às 15h23. O Tesouro Prefixado 2026 oferecia retorno de 11,50%, maior do que os 11,45% da sexta-feira (5). O Tesouro Prefixado 2033 entregava juro de 12,23%, superior aos 12,09% da sessão anterior.

Entre os títulos atrelados à inflação, a taxa do Tesouro IPCA+ 2045 era de 6% ao ano, maior do que os 5,98% da sexta. O Tesouro IPCA+ 2029 oferecia retorno de 5,55% ao ano, igual valor ao 58da sessão anterior.

Continua depois da publicidade

Os títulos Tesouro RendA+, criados neste ano para os investidores que priorizam a aposentadoria, registravam alta nas taxas. O Tesouro RendA+ 2030 oferecia ganho de 5,92% ao ano, ligeiramente superior aos 5,91% da sexta.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (5):

Fonte: Tesouro Direto

Galípolo no BC

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), confirmou, nesta segunda-feira (8), os dois nomes que serão indicados pelo governo para as primeiras vagas abertas no Banco Central nesta administração: seu atual secretário-executivo, Gabriel Galípolo (que deixará o cargo na pasta), para a diretoria de Política Monetária, e o servidor Ailton Aquino dos Santos, para a diretoria de Fiscalização.

Publicidade

Os nomes deverão ser encaminhados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Senado Federal, que realizará sabatina com os indicados e decidirá se aprova ou não as nomeações.

No anúncio, Haddad disse que Galípolo dota de sua “absoluta confiança”, assim como do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Durante a campanha eleitoral de 2022, o economista, que já presidiu o Banco Fator, foi importante interlocutor da campanha petista junto ao mercado financeiro. Uma de suas missões agora, nas palavras do ministro, será “entrosar” as equipes da Fazenda e do BC.

Haddad disse, ainda, que o indicado terá autonomia para cumprir as missões do Banco Central, assim como os demais membros do Comitê de Política Monetária (Copom) da autarquia, mas com o comando de “harmonizar a política fiscal e a monetária”, com o propósito de “crescer com baixa inflação e com justiça social” − mantra da atual administração.

Continua depois da publicidade

[O Galípolo] Não vai agir sem observar o estatuto do BC, vai ter autonomia para cumprir a lei do BC, a mesma lei que os outros sete membros do Copom têm que respeitar. Os dois indicados hoje do presidente Lula vão observar rigorosamente a mesma lei, e com o seguinte comando: harmonizar a política fiscal e a monetária, com o propósito de crescer com baixa inflação e com justiça social, essa é nossa obsessão”, afirmou.

“Eu sempre fui um crítico do divórcio da política fiscal e da monetária. Sempre defendi a harmonização, a coordenação das políticas fiscal e monetária. (…) Esse movimento (a nomeação de Galípolo) vai fortalecer ainda mais a aproximação [entre Fazenda e BC], de buscar a convergência plena da política econômica para oferecer ao país as condições de crescer com inflação baixa”, pontuou.

Para Flavio Conde, analista da levante, Gabriel Galípolo, indicado para assumir a diretoria de Política Monetária do BC, tem bom trânsito em todo o governo. “Ele deve levar uma visão ao Copom um pouco diferente da atual, que é muito rígida e inflexível e muita centrada em levar a inflação para o centro da meta”, afirma.

Publicidade

Focus

Após cinco semanas de alta, a projeção de inflação para 2023 feita pelo analistas de mercado caiu de 6,05% para 6,02% nesta semana, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (8) pelo Relatório Focus, do Banco Central. A estimativa para 2024 também caiu, enquanto as de 2025 e 2026 foram mantidas nos mesmo patamares da semana anterior, segundo a pesquisa.

A previsão para o IPCA de 2024 recuou de 4,18% para 4,16%, enquanto as de 2025 e a de 2026 permaneceram em 4,0%.

Especificamente para os preços administrados, a projeção do IPCA para 2023 interrompeu a tendência de alta verificada há 22 semanas e recuou de 10,73% para 10,70%. Há um mês, a projeção estava em 9,79%. A estimativa para 2024 foi mantida em 4,50% e as 2025 e 2026, continuaram em 4,0%.

Para o crescimento do PIB, a estimativa para 2023 se manteve em  1,0% na semana. A projeção para 2024 caiu de 1,41% para 1,40% e as de 2025 e 2026 continuaram em 1,80%.

A previsão da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) continua em 12,50% há três semanas. A de 2024 foi mantida em 10,0% pela 12ª semana seguida e a de 2025 está em 9,0% há 13 semanas. A de 20226 subiu de 8,88% para 9,0%.

A estimativa para o dólar em 2023 foi mantida R$ 5,20. A projeção para 2024 também continuou em R$ 5,25, enquanto a projeção para 2025 recuou de R$ 5,30 para R$ 5,25 após 19 semanas de estabilidade. Para 2026, a projeção caiu de R$ 5,32 para R$ 5,30.

As projeções do resultado primário foram mantidas no prazos mais curtos: para 2023, continuou em -1,0% do PIB, enquanto para e 2024 permaneceu em -0,80% do PIB. Mas as projeções mais longas tiveram melhora: a de 2025 passou de -0,40% do PIB para -0,39% na semana e a de 2026 passou de -0,15% do PIB para -0,10% do PIB.

Para a dívida líquida do setor público, a projeção para este ano passou 60,55% do PIB para 60,70%, enquanto a de 2024 subiu de 64% do PIB para 64,10%. Pra 2025, a estimativa foi mantida em 67,0% do PIB. A de 2026 avançou de 67,0% do PIB para 67,20%.

Senado x Campos Neto

“Não há cogitação de qualquer medida mais drástica em relação ao Banco Central. As críticas são à realidade fática da taxa de juros, que entendemos que está em patamar elevado. Não são críticas ao que fizemos no Senado de aprovar a autonomia do BC. Cabe ao Senado apontar, de forma responsável, o problema da taxa de juros e discutir soluções”, afirmou o senador Rodrigo Pacheco, hoje, a jornalistas, em São Paulo. (Estadão Conteúdo)

Perspectiva para a Selic

De acordo com dados da B3 (B3SA3), o mercado precifica uma pequena chance de redução da taxa Selic em 0,25 ponto percentual na reunião dos dias 20 e 21 de junho – de 8,3%. Há ainda quem acredite que a queda pode ser de 0,50 p.p (3%), de 0,75 p.p. (0,80%) e até mesmo de 1,0 p.p. (0,70%). A maior parte dos agentes financeiros, no entanto, espera a manutenção dos juros em 13,75%, com 85,5% de probabilidade. Os dados são reflexos dos contratos de opções de Copom, que permitem a negociação da variação da taxa Selic decidida a cada reunião do Comitê de Política Monetária.

Fiesp

“É inconcebível que um país tão rico como o Brasil, que oferece tanta segurança para o credor do Estado brasileiro, continue praticando taxas de juros tão mais altas do que os países com os quais competimos no cenário internacional”, afirmou o presidente da entidade, Josué Gomes da Silva, hoje, durante reunião da diretoria da Fiesp. “Os juros reais praticados nos últimos 29 anos no Brasil são causadores do problema fiscal. Entramos em um círculo vicioso altamente danoso para a economia nacional. Brasil precisa romper esse ciclo, sob pena de continuarmos empobrecendo”, acrescentou. (Estadão Conteúdo)

Fed

“Tendo como pano de fundo a mudança do Fed para uma postura dependente de dados no início na semana passada, é improvável que os dados sejam fortes o suficiente para empurrar o Fed a novos aumentos. No entanto, podemos ver alguma pressão nas expectativas do primeiro corte de juros, já que os mercados já precificaram três aumentos de juros até o final do ano”, diz David Alexander Meier, economista do Julius Baer. “Mantemos nossa visão de que o Fed concluiu seu ciclo de aperto na faixa atual e esperamos o primeiro corte de taxa em dezembro de 2023, quando o impacto de taxas de juros mais altas começará a pesar na atividade econômica”.

Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar, no sábado (6), a manutenção da taxa básica de juros do País, a Selic, pelo Banco Central (BC) no nível de 13,75% ao ano, e disse que ela inibe os investimentos e o crescimento econômico. Lula afirmou que os empresários, varejistas e a população já não suportam mais a atual marca da Selic, e que isso tem levado à quebra de empresas.

O presidente negou que bata no Banco Central, e afirmou que apenas discorda da política adotada pelo presidente da instituição, Roberto Campos Neto. “Discordo da política, não concordo com juro a 13,75%. Você nunca me viu bater no BC, não bato porque não é gente, é banco”, completou, em declaração à imprensa após participar hoje da cerimônia de coroação do Rei Charles III, no Reino Unido.

Além de criticar o atual nível da Selic, Lula referiu-se diretamente a Campos Neto, ao afirmar que o presidente do BC não tem compromisso com o País e com a economia, mas com o governo anterior, que o indicou.

“Esse cidadão não tem nenhum compromisso comigo, ele tem compromisso com quem? Com o Brasil? Não tem. Tem compromisso com o outro governo, que o indicou”, disse. “Ele tem compromisso com aqueles que gostam de taxa de juros alta.”

Lula citou ainda afirmação recente de Campos Neto, segundo a qual para atingir a meta de 3% de inflação, a taxa de juros teria que superar 20%. “Tá louco? Esse cidadão não pode estar falando a verdade.”

De acordo com o chefe do Executivo, o Banco Central tem autonomia, mas “não é intocável”, e afirmou que não discute o assunto.

Lula disse que quando Henrique Meirelles comandava o Banco Central tinha mais autonomia que Campos Neto atualmente, e que quando a autoridade monetária aumentava a Selic, mexia na Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP), para incentivar o crédito à indústria. “Se quisermos gerar empregos, precisamos ter crédito. Preciso de um país que tenha o Banco do Brasil com capacidade de emprestar. Tenho que ter a Caixa Econômica com capacidade de emprestar; o BNDES com capacidade de emprestar. Se não tiver dinheiro circulando, não tem desenvolvimento econômico.”

O presidente também se mostrou confiante no crescimento econômico. Segundo ele, o governo está colocando dinheiro na “veia” do trabalhador, que consome e faz a economia girar. “Se o dinheiro não estiver na mão do trabalhador, não tem emprego em lugar nenhum do mundo.”

Segundo Lula, se for preciso, negociará com empresários para reduzir preços. Citou que os preços dos automóveis populares hoje estão impraticáveis, acima de R$ 70 mil.

IPC-S

O IPC-S da primeira quadrissemana de maio de 2023 subiu 0,61% e acumula alta de 3,55% nos últimos 12 meses. A evolução recente da variação acumulada em 12 meses encontra-se no gráfico do release.

Arcabouço fiscal

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, disse à CNN, no último domingo (7), que, na tramitação da nova âncora fiscal no Congresso, os parlamentares devem endurecer as regras e incluir punições mais severas para o caso de descumprimento das metas fiscais anuais estipuladas pelo novo arcabouço. O projeto para a legislação que deverá substituir o teto de gastos foi apresentado pelo governo no fim de março e está agora sendo analisado pelo relator, na Câmara dos Deputados, para ter sua análise e votação iniciada nos próximos dias. Na proposta, o governo propôs punições mais brandas para os governantes caso não cumpram a meta de resultado primário estipulada para o ano. Nesse sentido, Lira disse que não deve ser incluída uma responsabilização à pessoa do agente público, mas o governo como um todo tem que ter alguma restrição quando não cumprir as metas a que se propõe na nova regra fiscal.

Zona do euro

“A inflação da zona do euro deve desacelerar acentuadamente este ano, mas, por enquanto, ainda há muito impulso no crescimento dos preços, inclusive para bens e serviços subjacentes”, disse hoje o economista-chefe do Banco Central Europeu, Philip Lane. “Há muita desinflação chegando no final deste ano (mas) ainda estamos (vendo) muito impulso na inflação nos alimentos e no núcleo.

Haddad no Japão

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, embarca na noite desta segunda-feira (8) para o Japão, onde participa como convidado da reunião do G7, grupo formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá. Esta é a primeira vez que um ministro brasileiro da Fazenda participa do encontro, que reúne ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das sete maiores economias do mundo.

Na agenda de Haddad, há um encontro com a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, para discutir a reforma do Banco Mundial e uma reunião com o economista Joseph Stiglitz para tratar de política industrial verde. Está prevista ainda uma reunião com o ministro das Finanças do Japão, Shunichi Suzuki, e encontro com a ministra da Índia, Nirmala Sitharaman, para alinhar a atual presidência do G20 (grupo formado por ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo e da União Europeia), exercida pelo país asiático, com a próxima, que será do Brasil.

Agenda

A segunda semana do mês de maio vai ser marcada por dados de inflação no Brasil e nas principais economias do mundo. Os números sucedem as recentes decisões sobre juros pelos Bancos Centrais e tendem a indicar os próximos passos das autoridades monetárias, diante de um cenário de preços ainda elevados, mas com perspectivas de recessão.

Por aqui, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) do mês de abril vai ser divulgado na sexta-feira (12). O consenso Refinitv aponta para uma variação mensal positiva de 0,55% e de 4,10% em 12 meses.

“A leitura deve ser pressionada por preços regulados, em especial farmacêuticos. Levando em conta o núcleo da inflação, serviços e bens industriais devem acelerar na margem”, escreveu Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú.

Antes, na terça-feira (9), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) vai tornar pública a ata de sua última reunião. Na semana passada, o BC manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, em decisão unânime. O comunicado do Copom manteve o tom cauteloso sobre a inflação, mas com menor chances de uma nova alta nos juros.

“Ainda esperamos que o Copom inicie um cauteloso ciclo de alívio no início de novembro, levando a Selic a 12,5% ao final do ano”, disse Mesquita.

Além do IPCA no Brasil, a semana também trará indicadores de inflação nos Estados Unidos e na China. O índice de preços ao consumidor americano (CPI, na sigla em inglês) vai ser divulgado na quarta-feira (10). Na média das projeções do mercado, o núcleo da inflação deve apresentar uma elevação mensal de 0,4% e acumular 5,6% em doze meses.

Na noite da mesma quarta-feira, saem os dados de inflação ao consumidor e ao produtor na China. Mas antes, na terça-feira, haverá a divulgação da balança comercial chinesa.  O consenso Refinitiv prevê superávit de US$ 74,3 bilhões em abril, cifra menor que os US$ 88,19 bilhões de março. A expectativa é que haja uma desaceleração das exportações, com crescimento mensal de 8% (ante variação positiva de 14,8% em março).

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney