Tesouro Direto: taxas dos títulos prefixados avançam com commodities, alta dos Treasuries e ata do Copom no radar

Prefixados oferecem até 12,24%; títulos atrelados à inflação recuam

Bruna Furlani Katherine Rivas

Publicidade

As taxas dos títulos públicos operam mistas na tarde desta segunda-feira (21). Enquanto as taxas dos prefixados avançam, os títulos atrelados ao IPCA recuam.

Segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, o movimento de juros local corrige a dinâmica da semana passada quando as taxas de juros caíram na expectativa de que o Copom estava próximo de terminar o ciclo de alta na Selic.

Entre os fatores que puxaram a alta nas taxas hoje estão: a disparada nos preços internacionais das commodities, principalmente agrícolas, pela falta de avanço nas negociações entre Rússia e Ucrânia. “Há temores de que o conflito seja prolongado, o petróleo subiu pela notícia do ataque em uma refinaria da Saudi Aramco no fim de semana”, destaca Borsoi.

Continua depois da publicidade

O economista também cita o avanço nas taxas de juros dos Estados Unidos, após comentário hawkish (maior inclinação ao aperto monetário) de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, banco central americano, e Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta. “Eles reforçaram que o FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto) pode ficar mais agressivo no ciclo de alta e que o processo de redução de balanço do Fed deve ser mais acelerado do que foi em 2018”, afirma o economista.

Estes movimentos reforçam a ideia de que os juros americanos devem continuar subindo neste ano e em 2023.

No cenário local, investidores monitoram o reajuste dos fretes da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e o debate em relação a subsídios sobre combustíveis. Borsoi avalia que estas pautas elevam o risco de uma agenda fiscal populista que reduziria o ritmo da política monetária, por causa do aumento da demanda.

Continua depois da publicidade

No radar do mercado está ainda a ata do Copom e o relatório trimestral de inflação que devem trazer uma noção mais clara sobre qual será a taxa Selic terminal no ciclo de alta.

Dentro do Tesouro Direto, a taxa do título prefixado de curto prazo era a que mais subia. O Tesouro Prefixado 2025 entregava uma rentabilidade anual de 12,24% às 15h24, superior aos 12,12% vistos na sexta-feira (18).

Enquanto o Tesouro Prefixado 2029 e o Tesouro Prefixado 2033 apresentavam um retorno anual de 12,16% e 12,22%, respectivamente, na última atualização desta segunda-feira (21), acima dos 12,12% e 12,20% vistos na sessão anterior.

Continua depois da publicidade

Nos títulos atrelados à inflação, o movimento era de queda. A maior baixa era na taxa do Tesouro IPCA+ 2026. O título público oferecia um retorno real de 5,50%, inferior aos 5,54% registrados na sexta-feira.

Os outros títulos recuavam entre 2 e 3 pontos-base. Já o Tesouro IPCA+ 2035 e o Tesouro IPCA+ 2045 operavam com estabilidade.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta segunda-feira (21): 

Continua depois da publicidade

Relatório Focus

Dentro da cena econômica local, investidores monitoram as projeções dos economistas consultados pelo Banco Central e que estão presentes no Relatório Focus, divulgado hoje. Mais uma vez, a expectativa do mercado para a inflação medida pelo IPCA em 2022 subiu e passou de 6,45% para 6,59%.

Por outro lado, houve pouca alteração nas projeções para o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) e para o câmbio neste ano, que agora estão em 0,50% e R$ 5,30, respectivamente, contra 0,49% e R$ 5,30, nessa ordem, na semana passada.

Além da elevação da estimativa de alta da Selic neste ano, o mercado reajustou a expectativa para a taxa básica de juros de 2023, de 8,75% para 9% ao ano. Também houve uma piora nas projeções para inflação oficial de 2023, que agora estão em 3,75%, acima dos 3,70% da semana anterior.

Continua depois da publicidade

Mudanças também nas expectativas de elevação do PIB em 2023, que saíram de 1,43% para 1,30%, e para o dólar. Agora, o mercado financeiro prevê que a moeda americana finalize o ano que vem em R$ 5,22 e não mais em R$ 5,21.

Juros americanos

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, não descartou nesta segunda-feira (21) um cenário de aperto monetário mais rápido do que o atual, caso um prolongado período de escalada de preços nos Estados Unidos impulsione as expectativas de inflação para um nível insustentável. Na semana passada, o BC da maior economia do planeta elevou a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual, à faixa entre 0,25% e 0,50%.

“Se concluirmos que é apropriado agir de forma mais agressiva, elevando a taxa dos Fed Funds em mais de 25 pontos-base em uma reunião ou reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) o faremos”, afirmou Powell, durante evento organizado pela associação Nacional de Economia para Empresas (Nabe, na sigla em inglês).

Powell também disse “há um clara necessidade” de retornar a política monetária a uma postura mais “neutra”, ou até “mais restritiva”, se necessário para assegurar a estabilidade de preços. “Estamos comprometidos em restaurar a estabilidade de preços, preservando um mercado de trabalho forte”, destacou.

Após falas de Powell, taxas do título americano com vencimento em dez anos chegaram a bater os 2,304%, maior nível desde maio de 2019.

Rússia X Ucrânia

A Ucrânia rejeitou ultimato russo para entregar cidades-chave. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, disse que seu país nunca se curvará a ultimatos da Rússia. Em entrevista à emissora pública ucraniana Suspilne (Natsionalna Telekompaniya Ukrayiny), citada pela Reuters, ele insistiu que cidades como Kiev, Mariupol ou Kharkiv não aceitarão a ocupação russa.

“Recebemos um ultimato, com alguns pontos nele. ‘Siga-o e então terminaremos a guerra’ (disserem os russos)”, contou Zelensky, que acrescentou que a Ucrânia simplesmente não pode nem vai cumprir tal ultimato.

Em meio a embates com a Rússia, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, pede a companhias americanas que endureçam defesas cibernéticas.

Segundo o presidente americano, há indícios de que a Rússia está “explorando opções para potenciais ataques cibernéticos”.

“Já alertei sobre o potencial de que a Rússia poderia realizar atividades cibernéticas maliciosas contra os Estados Unidos, inclusive como resposta aos custos econômicos sem precedentes que impusemos à Rússia ao lado de nossos aliados e parceiros”, afirmou em declaração.