Riscos fiscais levam dólar para maior patamar desde abril: ainda faz sentido investir em fundos cambiais?

Moeda valoriza quase 9% em 2021. Especialistas explicam quando vale o investimento, qual o prazo mínimo e como escolher o melhor produto

Mariana Zonta d'Ávila

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – O cenário de maior aversão ao risco que se intensificou nos últimos dias em meio às preocupações com um possível furo no teto de gastos tem pressionado a cotação do dólar, que já negocia acima dos R$ 5,65, no maior patamar desde abril, acumulando alta de quase 9% em 2021.

Com isso, o brasileiro que estava começando a se animar com as notícias de reabertura das fronteiras pós-pandemia enfrenta agora um novo revés.

Para quem deseja viajar para o exterior, os fundos cambiais costumam ser indicados como forma de planejamento financeiro. Isso porque eles buscam acompanhar a flutuação de preço de moedas estrangeiras ou a variação do cupom cambial (taxa de juros em dólares no Brasil).

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Mas com a forte valorização do dólar no ano, ainda faz sentido entrar hoje nesse produto financeiro? O InfoMoney conversou com especialistas do mercado para entender em que situações vale o investimento, qual o prazo mínimo e como escolher o melhor produto.

Sem bola de cristal

De acordo com o mais recente relatório Focus, do Banco Central, o mercado prevê o dólar encerrando o ano a R$ 5,25. Nesta semana, em meio ao vaivém do Auxílio Brasil, contudo, a moeda ultrapassou a marca de R$ 5,60, em um cenário de turbulência que não promete trégua tão cedo.

Acertar previsões sobre a taxa de câmbio é um dos exercícios mais difíceis a serem feitos por investidores, economistas, políticos e empresários. Como brincam especialistas, não há bola de cristal.

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Neste contexto, investir em fundos cambiais como forma de planejamento financeiro, para se proteger da variação do dólar pensando em uma viagem no próximo ano ou para fazer um intercâmbio no futuro, pode ser interessante, avalia Rogério Nakata, planejador financeiro certificado (CFP).

Regilaine Specia de Arruda, assessora de investimentos e sócia do escritório Sal Investimentos, diz gostar da escolha de fundos cambiais quando a pessoa já tem alguma previsão de despesa em dólar e um prazo “razoável” de investimento.

A estratégia, segundo ela, é investir pequenas quantias uma vez por mês até uma data mais próxima da viagem, de forma a evitar pagar muito caro na divisa americana. A ideia é fazer pequenos aportes de forma a conseguir, no fim do período, um preço médio da moeda.

Regilaine chama atenção ainda para a maior acessibilidade do produto, com uma série de fundos nas prateleiras de instituições financeiras, com valores mínimos na casa dos R$ 100 e taxa de administração de 0,5% ao ano.

Cuidado com prazos e taxas

Guilherme Wertheimer, planejador financeiro certificado (CFP), avalia que, de forma geral, o fundo cambial vale a pena para o investidor com foco no turismo, mas ressalta que o produto possui algumas ineficiências.

Entre elas, ele chama atenção para as taxas envolvidas, como a tributação no momento de resgate e taxas de administração, que podem corroer parte do retorno.

Desta forma, diz, quanto mais tempo o investidor puder ficar com a aplicação, melhor, dado que pagará menos imposto. Isso porque os fundos cambiais seguem a tabela regressiva do Imposto de Renda, mas os prazos e alíquotas variam de acordo com a classificação do fundo – de curto ou de longo prazo.

Os fundos de longo prazo são compostos por papéis com vencimento acima de 365 dias, em média. Já os de curto prazo, por papéis com vencimento abaixo de 365 dias.

Enquanto nos primeiros a alíquota inicial de 22,5% cai para 15% após 720 dias, nos de curto prazo, a alíquota mínima é de 20%, no caso de resgates após 180 dias da aplicação. A cobrança ocorre de forma semestral, por meio dos come-cotas.

Além disso, destaca Wertheimer, caso o investidor resgate o dinheiro em até um mês, ele pagará o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que é zerado após 30 dias.

Já Nakata chama atenção para os prazos de resgate. Embora alguns contem com cotização D+1 – o que significa que se o investidor solicita o resgata hoje, o dinheiro cai na conta amanhã – há fundos com prazos maiores de resgate, como D+3, o que pode ter impacto sobre o valor final a ser recebido, dado que a cotação da moeda oscila a todo momento com base no mercado.

Como escolher um fundo cambial?

Com uma grande variedade de opções nas corretoras é importante que o investidor saiba selecionar bem o produto antes de investir.

Wertheimer sugere que o investidor estude quem é o administrador do fundo, o gestor, se tem boa reputação e bom histórico de gestão.

Analisar a taxa de administração também é importante. “Hoje, com a democratização dos fundos, esse tipo de produto é considerado mais commodity, então o investidor deve buscar uma taxa baixa, na casa de 0,5% a 0,8%”, diz.

Como é um fundo com estratégia mais passiva, isto, é, que busca acompanhar o desempenho do dólar, o investidor deve fugir de fundos que cobrem taxa de performance, ressalta.

“A pessoa deve escolher um fundo com taxa de administração mais baixa, boa gestora e se puder ser um investimento de mais de seis meses, um ano, deve escolher um fundo cambial com denominação de longo prazo”, diz, referindo-se à tributação.

Nakata sugere ainda que o investidor analise o histórico do gestor e veja como ele se comportou nos diferentes períodos, não apenas em momentos favoráveis, de alta da moeda, como também em cenários de queda, analisando o trabalho ativo do gestor.

“Às vezes o gestor cobra uma taxa mais elevada, mas entrega um resultado melhor, então é importante ficar atento”, disse.

De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os fundos cambiais foram os que tiveram o melhor resultado entre todos os fundos em setembro, com retorno de 5,18%. No período, a classe teve uma captação líquida (aportes menos resgates) de R$ 171,7 milhões. Já o dólar valorizou 5,70%.

No acumulado do ano até setembro, os fundos cambiais têm ganhos de 5,06%, com captação líquida de R$ 991,5 milhões, ante alta de 4,80% do dólar.

Fundos cambiais como investimento

Além de poder ser utilizados como forma de acumular capital por meio de um preço médio da moeda americana, os fundos cambiais também podem ser usados como instrumento de diversificação do portfólio.

Nakata chama atenção para a correlação negativa do instrumento financeiro em relação aos ativos locais. Em outras palavras, normalmente quando a Bolsa brasileira está em queda, o dólar está em alta, funcionando como hedge (proteção).

Wertheimer afirma que, para o investidor que busca diversificar, o investimento não depende do patamar do dólar, isto é, se está caro ou barato, dado que a diversificação sempre faz sentido porque balanceia o portfólio.

Dito isso, os investidores com ativos de risco na carteira deveriam ter alocação em dólar independentemente do preço da moeda, avalia.

Wertheimer afirma, contudo, que, caso esse seja o objetivo, os fundos cambiais perderam o sentido.

Isso porque há uma série de novos instrumentos financeiros no mercado, defende, como fundos multimercados com exposição internacional, fundos de índice (ETFs) e outros produtos de gestão ativa que oferecem para o investidor, além da variação da moeda, um potencial maior de retorno.

Regilaine, da Sal Investimentos, também diz preferir outras formas de ter exposição à moeda americana, como fundos internacionais e BDRs (os Brazilian Ddepositary Receipt).

Fatia de dólar nas carteiras

Wertheimer avalia que a exposição ao dólar na carteira como forma de diversificação ou hedge só faz sentido se o investidor tiver ativos de risco Brasil, como ações em Bolsa, por exemplo, de forma a ter uma contrapartida.

“Se tiver só CDB na carteira e colocar ativos de dólar, o investidor pode perder dinheiro”, destaca.

Investidores com portfólios mais diversificadas, que incluam ações, multimercados, fundos imobiliários – que tendem a andar na mesma direção –, diz, os investimentos internacionais irão complementar a estratégia.

Para um investidor moderado, com cerca de 15% a 20% em Bolsa, 15% a 20% em multimercados e 15% em títulos públicos atrelados à inflação, uma fatia de 25% em ativos internacionais forneceria um bom equilíbrio para a carteira, segundo Wertheimer.

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