Retorno de debêntures incentivadas sobe com decisão do CMN sobre isentos; há efeito para os fundos?

Diminuição da oferta de debêntures incentivadas no mercado poderia levar fundos a fechar produtos para captação em breve

Bruna Furlani

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Quem aloca em crédito privado passou por fortes emoções nos últimos meses, com três transformações significativas na regulamentação da indústria de fundos e de papéis de renda fixa, que levaram o retorno de debêntures incentivadas a subir 1,95% apenas nos primeiros sete dias de fevereiro, com a alta nos preços dos títulos. Os dados são do IDA-IPCA infraestrutura, índice que reflete o desempenho de debêntures indexadas ao IPCA com isenção de Imposto de Renda.

A primeira mudança – e a mais relevante – envolveu medida do Conselho Monetário Nacional (CMN) que vedou emissões de vários títulos de renda fixa isentos de companhias de capital aberto não relacionadas ao agronegócio ou ao setor imobiliário, como explica Odilon Costa, head de renda fixa da SWM.

Na prática, a medida deve diminuir o volume de emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) ou Imobiliário (CRIs), além de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), Imobiliário (LCIs) e Imobiliárias Garantidas (LIGs) ao longo dos próximos meses – e intensificar a procura por outros produtos isentos, como as debêntures incentivadas.

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A segunda guinada veio com a criação das debêntures de infraestrutura no fim do ano passado, o que aumentou a concorrência de emissões desse tipo de ativo. As novas debêntures trazem benefício tributário aos emissores, enquanto as incentivadas, que seguem existindo, oferecem isenção para a pessoa física.

O terceiro ponto ficou por conta de mudanças, no fim do ano passado, na tributação dos fundos exclusivos, mais conhecidos como fundos dos “super-ricos”, o que também aumentou a procura por papéis isentos de renda fixa.

A diminuição da oferta de papéis isentos, porém, não foi acompanhada por uma redução na demanda. Pelo contrário. Ulisses Nehmi, CEO da Sparta, conta que desde janeiro, os spreads (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao dos títulos públicos, considerados de baixo risco) das debêntures incentivadas já vinham fechando e que o movimento foi acelerado pela decisão do CMN na última quinta-feira (1). O recuo nos spreads foi acompanha por uma alta nos preços.

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“Foi uma mudança de patamar. As incentivadas estão voltando para um nível de preço que ainda oferece vantagem para o investidor pessoa física de investir na debênture incentivada, mas não é tão grande quanto já foi”, destaca o gestor.

Para se ter uma ideia, o movimento foi tão expressivo que debêntures incentivadas que estavam pagando um prêmio de 0,80% sobre o título público de inflação (NTN-B) de mesmo prazo, por exemplo, começaram a oferecer um prêmio de 0,30% ou 0,40% sobre a NTN-B após a decisão do CMN, afirma Costa, da SWM.

Momento é de cautela para reinvestir

Após o forte e rápido fechamento dos spreads dos últimos dias, a visão é que a distorção maior já ocorreu e que agora os preços devem chegar a uma estabilidade. “É um nível que não deve oferecer ganhos de capital em ratings [papéis com classificação de risco de crédito] mais óbvios”, explica Nehmi, ao citar títulos com classificação AAA, considerados os de maior qualidade.

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Nesse sentido, o CEO da Sparta avalia que o momento é de cautela para os investidores pessoa física. Segundo ele, ainda há oportunidades no mercado, mas elas estão mais em ativos AA, ou em debêntures mais ligadas a projetos, o que exigiria um trabalho mais de “gestor” na seleção mais ativa dos papéis.

Costa, da SWM, também defende que o investidor precisa ter prudência neste momento até que haja uma referência de preço novamente, que será dada pelo mercado primário para o mercado secundário. “Quem tem isentos já observa um ganho de capital. Ele pode até vender, mas existe o desafio de realocar no curtíssimo prazo”, destaca.

Fundos de debêntures incentivadas podem começar a fechar

Diante de tais dificuldades, Costa diz que os investidores devem ver agora uma janela de fechamento de fundos de debêntures incentivadas, já que o carrego dos produtos ficou menor com a redução dos spreads dos títulos e a oferta dos papéis está reduzida, o que pode dificultar o giro das carteiras.

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“Alguns gestores estão vendo esse fluxo de entrada e estão mais atentos ao carrego. Precisa começar a fazer conta e reinvestir o dinheiro com prudência”, diz. “O gestor pode ter um desafio de gestão, se não fechar e tiver um capacity [capacidade] grande”, completa.

Depois de reabrir o Sparta Debêntures Incentivadas em abril do ano passado, a gestora informou que vai fechar o produto nos próximos dias. Ao ser questionada, a casa disse apenas que o movimento ocorre após registrar um ritmo de captação bastante expressivo nos últimos meses.

Após as cotas de fundos de debêntures incentivadas subirem em janeiro acompanhando a queda das taxas, e tendo em vista que as maiores distorções no mercado já parecem ter ocorrido, Nehmi, da Sparta, afirma que os investidores devem esperar retornos um pouco mais “comportados” nos próximos meses e não os 18% vistos no fundo desde que foi reaberto em abril até agora, contra 10% do CDI no mesmo período.