Retorno com dividendos dos Fiagros sobe para 1,25% em outubro mesmo com fim do ciclo de alta da Selic

Como Fiagros são isentos de IR, rendimento equivale a 1,47% no mês, segundo levantamento da Órama e antecipado ao InfoMoney; campeões pagam até 1,84%

Katherine Rivas

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Enquanto a Selic, taxa básica de juros, permanece estagnada em 13,75% ao ano, os Fiagros – fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais – seguem aproveitando o cenário para entregar dividendos atrativos aos investidores.

Segundo levantamento de Anna Clara Tenan, CFA, especialista em Fiagros da Órama, antecipado para o InfoMoney, considerando a média dos rendimentos pagos em outubro pelos Fiagros do tipo FII (que reproduzem a estrutura dos fundos imobiliários) listados na B3, a taxa retorno com dividendos (dividend yield) do segmento foi de 1,25% no mês.

Dado que os dividendos dos Fiagros são isentos de Imposto de Renda, o dividend yield equivale a um retorno de 1,47% fazendo a conta com o gross-up da tributação, mais de 130% da taxa do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) no mês. Gross-up é um cálculo que permite a comparação de investimentos isentos e não isentos de impostos.

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Anna Clara destaca que embora a renda variável tenha enfrentado um cenário desafiador desde o segundo semestre de 2021, por conta dos juros elevados, em 2022 os Fiagros em média entregaram retornos consistentemente acima do CDI. Veja os detalhes no gráfico abaixo:

Dividendos Fiagros

Na visão da especialista, o cenário pode melhorar nos próximos meses, diante da queda dos juros – que, no caso dos Fiagros, seria compensada pela atratividade da renda variável, ampliando o número de investidores. Segundo dados da B3, até setembro, os Fiagros listados na Bolsa reuniam 116.493 investidores, dos quais 115.949 eram pessoas físicas.

Qual o motivo de dividendos tão elevados?

Os Fiagros mantiveram bons dividendos aos investidores por conta da indexação das carteiras, majoritariamente atreladas ao CDI (principal indicador da renda fixa), que segue o desempenho da Selic.

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Boa parte dos Fiagros, segundo Anna Clara, investem em CRAs (certificados de recebíveis de agronegócio), que historicamente apresentam mais operações atreladas ao CDI. “No cenário atual de juros em patamares elevados e inflação arrefecendo (com meses apresentando deflação pontual) essas carteiras conseguem se destacar”, explica a especialista.

De acordo com o levantamento, em setembro, 89% das carteiras dos Fiagros ofereciam CDI mais um spread médio (taxa adicional) de 5,02% ao ano, rentabilidade superior à vista em agosto, que era de CDI mais 4,9% ao ano.

Segundo a especialista, o spread das carteiras pode ter aumentado por conta de uma maior alocação dos recursos captados pelos fundos. Em agosto, muitos Fiagros poderiam ainda não ter investido o recurso captado em follow-on e emissões.

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Já a parcela de Fiagros com carteiras indexadas ao IPCA (índice de inflação) era menor: 11% dos fundos, que ofereciam IPCA mais 8,52% ao ano, em média.

“Obviamente, devemos considerar também as despesas dos fundos, como taxa de administração, gestão, performance e custos de transação, que reduzem o retorno ao cotista”, destaca Anna Clara.

O segmento, segundo a analista, tem um cenário promissor pela frente, por integrar o agronegócio, um setor resiliente e defensivo que até 2021 representava 27,5% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Ela destaca que o crédito subsidiado não era suficiente diante da demanda e, por esse motivo, o mercado de capitais se tornou uma alternativa para empresas e produtores rurais, principalmente de menor porte.

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Confira os Fiagros que pagaram os maiores dividendos em outubro de 2022:

Fundo Gestor Segmento Periodicidade dos dividendos Dividendos em out/22 Dividend yield em out/22 Data de Pagamento Regra de Distribuição
LSAG11 Leste CRAs Mensal R$ 1,92 1,84% 17/10/2022 No 10º dia útil do mês subsequente
VGIA11 Valora Investimentos CRAs Mensal R$ 0,16 1,55% 20/10/2022 Até o 13º dia útil do mês subsequente
EGAF11 Eco Agro CRAs Trimestral* R$ 4,36 1,45%* 17/10/2022 Até o 10º dia útil do mês subsequente
OIAG11 Fator ORE CRAs Mensal R$ 0,14 1,41% 17/10/2022 No 10º dia útil de cada mês
FGAA11 FG/A Gestora CRAs Mensal R$ 0,14 1,40% 17/10/2022 No 10º dia útil do mês subsequente
XPCA11 XP Asset Management CRAs Mensal R$ 0,14 1,39% 17/10/2022 Até o 10º dia útil
CPTR11 Capitânia Investimentos CRAs Mensal R$ 1,40 1,38% 20/10/2022 Não informado
RZAG11 Riza Asset Management CRAs Mensal R$ 0,14 1,36% 17/10/2022 No 10º dia útil do mês subsequente
NCRA11 NCH Capital Brasil CRAs Mensal R$ 1,25 1,33% 19/10/2022 No 17º dia útil do mês subsequente
KNCA11 Kinea Investimentos CRAs Mensal R$ 1,40 1,30% 14/10/2022 Não informado
VCRA11 Vectis Gestão CRAs Mensal R$ 1,38 1,30% 14/10/2022 No 9º dia útil do mês subsequente
JGPX11 JGP CRAs Mensal R$ 1,19 1,21% 17/10/2022 No 10º dia útil do mês subsequente
GCRA11 Galapagos Capital CRAs Mensal R$ 1,20 1,21% 17/10/2022 No 10º dia útil do mês subsequente
SNAG11 Suno Asset Híbrido Mensal R$ 1,20 1,19% 25/10/2022 Não informado
RURA11 Itaú Asset Management CRAs Mensal R$ 0,12 1,17% 07/10/2022 No 5º dia útil do mês subsequente
DCRA11 Devant Asset CRAs Mensal R$ 0,11 1,15% 17/10/2022 No 10º dia útil após o encerramento do período de apuração
PLCA11 Plural CRAs Mensal R$ 1,05 1,08% 17/10/2022 No 10º dia útil do mês subsequente
AGRX11 Exes Gestora de Recursos CRAs Mensal R$ 0,11 1,06% 17/10/2022 No 10º dia útil do mês subsequente
BBGO11 BB Asset Management CRAs Mensal R$ 0,80 0,95% 17/10/2022 Não informado
HGAG11 HGI Capital CRAs Mensal R$ 0,37 0,36% 07/10/2022 Não informado

Fonte: Órama com dados da Quantum Axis. Data base: 19/10/2022

Os três Fiagros que mais pagaram dividendos em outubro

O Fiagro que apresentou o maior dividend yield em outubro foi o LSAG11, da gestora Leste. O fundo entregou 1,84% no mês, com uma distribuição de R$ 1,92 por cota.

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Anna Clara explica que o LSAG11 é negociado na B3 desde abril deste ano e sempre se caracterizou pelos dividendos elevados. Em setembro, por exemplo, o fundo pagou R$ 1,23 por cota e em agosto, R$ 1,51.

Segundo a especialista, a carteira do Fiagro tem retorno de CDI mais 7,1% ao ano. O perfil dos CRAs investidos é de risco elevado (high yield), por ter dívidas pulverizadas, fruto de vários produtores e cooperativas.

Anna Clara destaca, no entanto, que há também fatores externos. O LSAG11 chegou a anunciar em setembro que estava com R$ 492 mil de juros acumulados, valor que dividido entre todas as cotas corresponderia a um extra de R$ 0,87 por cota, distribuído nos meses seguintes.

O segundo maior pagador de outubro foi o VGIA11, da Valora Investimentos. O Fiagro  tem uma carteira que oferece CDI mais 5,8% ao ano, uma taxa elevada na visão da especialista. Anna Clara destaca que se considerado o CDI atual, de 13,65% ao ano, o Fiagro tem uma rentabilidade superior a 19% no ano.

Em outubro, o VGIA11 entregou um dividend yield de 1,55% e dividendos de R$ 0,16 por cota. Um retorno tão elevado também decorre de uma carteira com risco pulverizado, além da capacidade da gestora de originar e estruturar os próprios CRAs.

Já na terceira posição está o EGAF11, da Ecoagro, que teve um dividend yield de 1,45% em outubro e distribuiu R$ 4,36. Contudo, Anna Clara destaca que diferentemente dos pares, o EGAF11 paga dividendos trimestrais – em abril, julho, outubro e janeiro. Desta forma, os R$ 4,36 pagos seriam o acúmulo dos últimos três meses, enquanto o yield de 1,45% corresponde à média do período.

Segundo a especialista, a carteira do EGAF11 tem uma rentabilidade de CDI mais 5,5% ao ano, mas o perfil dos CRAs investidos não é high yield (de alto risco). Há empresas conhecidas no portfólio.

“A maioria das operações do EGAF11 pagam ao fundo trimestral, semestral ou até mesmo anualmente. Para não precisarem fazer gestão de caixa, os gestores optaram por pagar dividendos de forma trimestral”, destaca. É uma desvantagem em relação à concorrência, segundo a analista, já que os pequenos investidores têm buscado os Fiagros também por conta dos dividendos mensais.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.