Renda fixa negativa? Saiba por que título atrelado à inflação pode ficar no vermelho – e o que fazer

Títulos Tesouro IPCA+ entregaram retorno negativo de 3,62% nos últimos 30 dias – veja motivos e caminhos para lidar com as perdas

Leonardo Guimarães

(Getty Images)

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Quem comprou um título do Tesouro IPCA+ no último mês viu seu patrimônio encolher. Nos últimos 30 dias até a última sexta-feira (27), a rentabilidade dos títulos públicos de inflação chegou a -3,62%.

Mas como isto é possível em um investimento considerado sem riscos e que supostamente protege as carteiras do efeito da inflação? E o que fazer nesses casos?

Por trás, está um exemplo prático dos efeitos da marcação a mercado na renda fixa, um mecanismo de atualização diária de preços dos títulos.

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A dinâmica é simples. Se a taxa de um ativo sobe, o seu preço cai. Isso porque, se novos ativos são emitidos com taxas maiores, os que já estão na mão dos investidores com retornos mais baixos ficam desvalorizados no mercado – se o detentor decidir vender, portanto, arcará com aquele prejuízo.

O oposto também acontece: se você comprou um papel que oferece 5% ao ano além da inflação, por exemplo, e logo depois o juro real do papel teve forte queda para 3%, a rentabilidade do investimento será potencializada.

Venda antecipada

Esses cenários, porém, só se concretizam se o investidor sair da aplicação antes da hora. Se os títulos são levados até o vencimento, o retorno contratado é garantido, sem oscilações para cima ou para baixo.

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“O investidor só corre o risco de perder dinheiro se resgatar a aplicação em momentos de volatilidade, como agora. Se carregar o título até o vencimento, aquela taxa que contratou está garantida, seja ela maior ou menor do que a praticada pelo mercado atualmente”, explica Ricardo Jorge, sócio da Quantzed.

Apesar dos riscos, investidores têm ao seu favor um estímulo para vender papéis do governo antes do vencimento: a alta liquidez do Tesouro Direto, já que o Tesouro Nacional garante a recompra do título, ou seja, a qualquer momento é possível se desfazer rapidamente de um papel adquirido.

Em outros investimentos, como debêntures e CDBs (Certificados de Depósito Bancário), a liquidez é reduzida e há o risco de não conseguir vender o título no momento desejado.

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Mesmo com a vantagem da liquidez do Tesouro Direto, é importante saber que o Tesouro recompra os títulos considerando a marcação a mercado. Logo, é possível ganhar mais, mas também perder dinheiro investindo nos títulos mais seguros do Brasil.

Há, inclusive, investidores que fazem questão de se aventurar na venda antecipada só para potencializar os rendimentos. No entanto, essa estratégia não é recomendada para o investidor em geral. “A atuação especulativa no mercado de títulos públicos é diferente da atuação com objetivo de geração de patrimônio”, diz Jorge.

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Por que os papéis estão caindo?

Por trás da rentabilidade negativa de uma carteira de títulos públicos está o momento de alta das taxas de novas emissões, em meio a um cenário em que investidores esperam juros mais altos nos Estados Unidos. No país referência para a economia global, incertezas sobre a inflação fazem os juros subirem e puxam com eles as taxas de outros países.

O cenário externo é o principal fator de pressão nas taxas, já que, por ora, não há expectativa de que o Banco Central altere o ritmo de queda da Selic. Na próxima reunião do Copom, que termina na quarta-feira (1º), espera-se que a taxa de referência seja mais uma vez cortada em 0,5 ponto percentual

Minha carteira está no vermelho; o que eu faço?

Se os títulos de renda fixa estão no vermelho por conta da marcação a mercado, a resposta é: se possível, não venda.

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“Acho que esse investidor não precisa vender, a não que esteja precisando muito do dinheiro”, afirma Jorge. “Se o investidor está precisando do dinheiro agora, é porque não dimensionou corretamente seu fluxo de caixa”.

Mesmo o investidor que comprou títulos do Tesouro IPCA+ na máxima recente, em novembro do ano passado, não teve bom retorno na marcação a mercado – caso queira resgatar antecipadamente.

Cálculos feitos por Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, mostram que a rentabilidade do Tesouro IPCA+ 2045 entre 23 de novembro de 2022 (máxima recente da taxa do papel) e 23 de outubro deste ano foi de 8,63%.

Para Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital, este “não foi um bom investimento”, já que o rendimento ficou abaixo da taxa Selic e teve um risco maior na comparação com pós-fixados (com retorno atrelado a um índice, como o CDI).