“Mercado de renda fixa segue em compasso de espera”, diz Anbima

As informações são do Panorama Anbima de dezembro

Arthur Ordones

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SÃO PAULO – O mercado de renda fixa permanece incerto e a formação das condições necessárias para a esperada “reancoragem das expectativas” dos investidores, que poderia resultar num ciclo de valorização dos preços dos ativos, ainda dependerá de novas sinalizações de política econômica e redução das incertezas em relação ao cenário econômico internacional para 2015, de acordo com o Panorama Anbima de dezembro. Até lá, segundo o relatório, a volatilidade deverá continuar sendo a tônica do segmento. “O mercado de renda fixa ainda segue em compasso de espera, refletindo o período de transição política e econômica do momento”, disse.

Após as eleições, os preços dos ativos de renda fixa voltaram a refletir em alguma medida os fundamentos econômicos, ainda que não seja possível indicar uma tendência para o curto e médio prazos. Segundo informações do Panorama, a divulgação da nova equipe econômica ajudou a reduzir o nível de incerteza dos agentes quanto à condução da política monetária e provocou uma revisão das apostas dos investidores, refletida especialmente nos índices de carteiras mais longas, que registraram variação positiva nos últimos dez dias de novembro. Esse movimento não se sustentou em dezembro, quando piorou a percepção de risco dos agentes em função dos efeitos esperados da forte valorização do dólar na economia brasileira, sobretudo sobre a inflação.

Contribuiu para a apreciação da moeda norte americana a expectativa de elevação dos juros pelo Fed, motivada pelos sinais de recuperação econômica dos Estados Unidos em um contexto de redução de crescimento de outras regiões, em especial na Ásia e Europa. No Brasil, a incerteza em relação à trajetória do câmbio foi reforçada por fatores domésticos, entre os quais a possibilidade de mudança da estratégia de swaps cambiais pelo Banco Central e os resultados negativos das contas externas, com destaque para o déficit da Balança Comercial de novembro. Em 9/12, a cotação do dólar norte americano superou o patamar de R$ 2,60. Apenas no segundo semestre, a variação cambial acumulada foi de 19%, com forte inflexão da trajetória da taxa para cima a partir de setembro, decorrente do acirramento de fatores internos e externos.

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Desta forma, o cenário inflacionário de curto e médio prazo segue desafiador. De um lado, o baixo nível de atividade e a redução do preço internacional do petróleo podem ajudar a reduzir as pressões inflacionárias, por outro, a perspectiva de correção dos preços administrados e de continuidade de desvalorização mais forte da moeda doméstica adicionam incerteza sobre a trajetória dos preços. Isso, em um contexto de mudança do mix de política econômica em que a intensidade do ajuste fiscal deverá definir a estratégia de política monetária e, por conseguinte, de variação dos juros.

A inflação no curto prazo ainda indica patamares acima do limite do teto da meta. As últimas projeções do Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da ANBIMA apontam variações de 0,79% e 0,95% em dezembro e janeiro/15, equivalentes a taxas acumuladas em 12 meses de 6,4% e 6,8%, respectivamente. A trajetória da curva de inflação implícita confirma a expectativa de elevação dos preços no curto prazo. O vértice até um ano indica um patamar de 8,0% em 10 de dezembro. Os vértices mais longos, 3 e 5 anos, indicam níveis mais baixos, da ordem de 6,32% e 6,10%, respectivamente. É importante mencionar que esse indicador embute, além da expectativa de inflação, um prêmio de risco de subestimar a inflação na precificação dos títulos prefixados.

A divulgação dos dados de carteira dos detentores de títulos públicos, referentes a outubro, confirmou a hipótese de um movimento de compra por investidores não residentes, levantada no Panorama ANBIMA de novembro. Entre agosto e outubro, período de maior influência do debate eleitoral nas expectativas dos investidores, os estrangeiros registraram saldo líquido de aquisições de R$ 10,5 bilhões, com aumento expressivo na parcela de LTN e NTN-B. Com isso, os não residentes mantiveram sua alocação majoritária em títulos prefixados, que representam 80% do total da carteira. Em segundo lugar aparecem as Tesourarias, com parcela prefixada ocupando 49% da carteira, e, finalmente, os fundos de investimento, que alocam 25% em LTNs e NTN-Fs. No mesmo período, os não residentes aumentaram sua participação relativa em títulos indexados ao IPCA, de 16,3% para 17,5%. Esse aumento ocorreu em um período de grande volatilidade, em contrapartida às vendas do ativo no mercado secundário por agentes com menor capacidade de suportar perdas contábeis.

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Entretanto, em novembro, o resultado negativo do câmbio contratado no segmento financeiro (US$ 2,1 bilhões) conjugado com a redução do volume médio negociado de NTN-B naquele mês – queda de 39% em relação a outubro, de R$ 4,0 bilhões para R$ 2,5 bilhões – sugere que possa ter ocorrido um arrefecimento dessa estratégia.