Quando começar a falar de finanças com os filhos e como investir em nome deles

Tão importante quanto planejar o futuro financeiro de um filho é começar cedo - e dentro de casa - a educação financeira

Pedro Ladislau Leite | Mariana Zonta d'Ávila

(Shutterstock)

SÃO PAULO – Planejar o futuro financeiro de um filho é fundamental, mas, tão importante quanto a constituição de um patrimônio, é a educação financeira, que deve começar dentro de casa.

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Seja com a criação de uma rotina de semanada ou mesada, ou participando as crianças em discussões do orçamento familiar, tratar do tema é essencial para a formação e para um melhor conhecimento do universo econômico.

Mas qual a melhor maneira de abordar o assunto, de forma que a criança tenha uma boa compreensão e que a discussão esteja de acordo com sua idade? E quando começar? 

De acordo com Cássia D’Aquino, educadora com especialização em crianças e autora de livros sobre educação financeira, pais podem iniciar a educação financeira dos filhos a partir dos dois anos e meio de idade.

Nessa fase, conta, as crianças falam pouco, mas já sabem da existência do dinheiro e começam a pedir aos pais para que comprem coisas – o que mostra que estão prontas para serem introduzidas ao assunto. 

O primeiro ponto que desperta a atenção dos pequenos quando falamos em dinheiro são as moedas, diz a educadora. “Nesse momento, é importante ensinar os cuidados com elas, como guardá-las para não perder, mostrar as cédulas e, com uma lupa, apontar os segredos de segurança. Essas coisas são fascinantes para uma criança”, diz. 

À medida que as crianças crescem, as conversas podem ganhar mais complexidade, e elas podem assumir mais responsabilidade com o dinheiro. 

“Os seis anos de idade são uma fase muito interessante, porque as crianças têm interesse em organizar as coisas, ficam mais curiosas, começam a ler, e é um bom momento para os pais começarem a dar uma ‘semanada’”, afirma Cássia.

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O objetivo é que as crianças comecem a se habituar a desenvolver um orçamento para que sejam capazes de construir pequenas poupanças e identificar objetivos, a princípio de curtíssimo prazo. “Quanto menor a criança, menor deve ser o objetivo no tempo. Não adianta começar a poupar para daqui a seis meses ou um ano; é muito tempo”, diz. 

Junto com o dinheiro, os pais podem dar um caderno aos filhos para que anotem os gastos, de forma que possam ter um planejamento de maneira mais palpável. A partir dos 11 anos, uma mesada já pode ser introduzida, pensando em prazos mais longos, de no mínimo 30 dias. 

Outra forma de ensinar os filhos a lidar com o dinheiro, segundo Cássia, passa por sua inclusão em conversas que tratem da organização do dinheiro da família, como montar a lista de supermercado. “Isso é uma aula extraordinária de domínio sobre o consumo e, por si só, já mostra a importância de se ter uma poupança e como se organizar para planos futuros. 

Do bê-á-bá ao primeiro investimento 

Muitos pais costumam começar a poupar especificamente para o futuro dos filhos desde cedo. O InfoMoney conversou com cinco gestores, de casas como BlackRockDahlia, Fama, Studio e XP, para conhecer como eles lidam com as finanças em casa e como pensam o patrimônio para o futuro dos pequenos. O resultado você confere aqui. 

Para facilitar o seu primeiro passo, confira como investir em nome das crianças em produtos como Tesouro Direto, planos de previdência, fundos de investimento, ações e fundos imobiliários.

Vale lembrar que as corretoras de valores permitem que menores de idade tenham contas em seu nome, desde que haja um responsável legal, que inclusive será responsável pelas movimentações financeiras.

Tesouro Direto 

Para investir para uma criança no Tesouro Direto, programa de compra e venda online de títulos públicos por pessoas físicas, o menor precisa ter CPF e ser cadastrado em uma instituição financeira habilitada a operar o Tesouro.

A partir de então, o processo de transferência dos recursos para a conta do pequeno vai depender das exigências de cada corretora, mas a tendência é que as movimentações tenham que partir de contas dos responsáveis legais.

Além da segurança e da facilidade, uma das principais vantagens do programa está no baixo custo das aplicações. 

Previdência 

Planos de previdência privada também podem ser criados para as crianças. A contratação pode ser feita por um responsável financeiro, que não necessariamente será um dos pais. O CPF do adulto pode ser usado se a criança ainda não tiver um próprio. 

A modalidade pode ser atrativa por conta das vantagens tributárias (o responsável é quem pode deduzir as contribuições no Imposto de Rendae por facilitar o planejamento sucessório, já que o montante investido não entra em inventário no caso de falecimento dos pais. 

Um ponto de atenção recai sobre a liquidez: resgates antecipados costumam ser caros e comprometer o retorno. As distintas alíquotas no pagamento do Imposto de Renda podem fazer grande diferença no bolso de quem investe em previdência privada.

O Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL) é recomendado para quem faz a declaração completa do Imposto de Renda, dada a possibilidade de dedução das contribuições da base de cálculo até o limite de 12% da renda bruta anual. Em contrapartida, no momento do recebimento, o imposto recai sore todo o valor resgatado. 

Já o Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL) é indicado para quem declara o Imposto de Renda no formulário simplificado e também para quem é isento. Nesse caso, o investidor não pode abater as aplicações feitas ao longo do ano, mas, na hora do resgate, o IR incide apenas sobre os rendimentos. 

Outro detalhe importante está na escolha entre uma tabela de tributação progressiva ou regressiva. No primeiro caso, a tabela é a mesma utilizada na tributação dos salários, crescente segundo o valor do capital a ser resgatado, no PGBL, ou dos rendimentos, no VGBL. 

A tabela regressiva é recomendada para aplicações de longo prazo: ela começa com tributação de 35% para até dois anos de aplicação, e cai cinco pontos percentuais a cada dois anos, até chegar em 10% para prazos acima de dez anos. 

Ações e fundos imobiliários 

Corretoras já permitem a abertura de contas com o CPF da própria criança. O adulto responsável se torna então administrador da conta até a maioridade do investidor-mirim. Isso dá acesso a aplicações em ações, fundos e fundos imobiliários, por exemplo. 

Ao comprar a ação de uma empresa, o investidor participa dos resultados dela. Os ganhos podem partir da valorização do papel ou de dividendos, isto é, parte do lucro paga aos investidores.

Nos fundos imobiliários, a aplicação é semelhante à do mercado de ações, com a compra pelo investidor de cotas de um fundo negociado em Bolsa, normalmente com aplicações mínimas de cerca de R$ 100. Os FIIs são conhecidos pela facilidade, liquidez maior que a de um imóvel e pela diversificação. Uma das grandes vantagens é a isenção de IR sobre os rendimentos.

Fundos de investimento 

Os fundos de investimento são uma opção interessante para quem busca diversificação, já que a classe oferece estratégias que variam das mais conservadoras, como de renda fixa, às mais arrojadas, caso dos fundos de ações. 

Além de acessar produtos muitas vezes não disponíveis ao investidor pessoa física, os fundos contam com uma gestão profissional. Consequentemente, é preciso ter em mente que é cobrada uma taxa de administração. Demais custos incluem come-cotas e Imposto de Renda.

Para investir, a criança pode virar cotista de um fundo de investimento por meio de uma corretora ou banco — ambos distribuem os produtos —, ou aplicando diretamente via gestora do fundo escolhido.

Nos grandes bancos, os documentos necessários para a abertura de conta do pequeno incluem RG, CPF, comprovante de residência e certidão de nascimento.

Lembrando que nos três casos é necessário que os pais ou responsáveis legais representem o menor e realizem as movimentações até que ele alcance a maioridade.

Pedro Ladislau Leite

Repórter de investimentos do InfoMoney, cobre os mercados de renda fixa (Tesouro Direto e títulos privados) e de renda variável, acompanhando as movimentações dos principais gestores de fundos no país.