Puxados por e-commerce, FIIs de logística devem seguir com boas perspectivas

Antonio Wever, do Pátria Investimentos, Marcelo Fedak, da BlueMacaw, e Rafael Fonseca, da Bresco, debateram os fundamentos do segmento

Luciana Del Caro

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SÃO PAULO – Após o desempenho positivo do ano passado, as oportunidades no segmento de fundos imobiliários dedicados ao setor de logística não se esgotaram, sobretudo para os investidores com foco no médio e no longo prazo.

Isso porque o crescimento do e-commerce deve continuar forte, e essa tendência significa que os fundamentos para investir em galpões continuam bons. Entretanto, no curto prazo, espera-se que o aumento dos juros continue deixando as cotas desses fundos bastante voláteis.

Essa é a expectativa dos três gestores que participaram do painel sobre o setor de logística no FII Talks 2021, realizado nesta quarta-feira (29) pelo InfoMoney: Antonio Wever, CEO de real estate do Pátria Investimentos, Marcelo Fedak, CEO da BlueMacaw, e Rafael Fonseca, sócio e membro do comitê de investimentos da Bresco.

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“A visão de médio prazo para os FIIs logísticos é extremamente saudável, porque estamos vendo vacâncias bastante baixas, um início de tendência de crescimento dos aluguéis e toda demanda adicional causada pelo e-commerce”, afirmou Wever.

“Os investidores estão vendo uma volatilidade que os incomoda e ficam relutantes a entrar. Mas se eles têm uma visão de médio prazo, superior a seis meses, do ponto de vista dos fundamentos faz todo o sentido entrar”, completou.

FIIs de logística e a pandemia

Após darem bons resultados no ano passado, quando o e-commerce se expandiu significativamente, impulsionado pela pandemia e pelo isolamento social, os fundos de logística recuaram. Neste ano, eles vêm apresentando desempenho negativo, acompanhando a maioria das categorias de fundos imobiliários.

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“O desempenho dos fundos imobiliários têm sido relacionado à expectativa de elevação dos juros, que impactou na precificação das cotas. Ao tentar antecipar as tendências, o mercado às vezes exagera na dose, e isso vem acontecendo agora”, ressaltou Fonseca.

Dessa forma, atualmente, os FIIs que menos vêm sendo afetados são os de papel, que compram Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e outros títulos.

Conforme Fedak, os investidores preferem os fundos de papel nos momentos de inflação elevada, como o atual, porque o repasse dos índices de preço para os ativos vem de forma mais imediata, enquanto nos fundos de tijolo esse repasse ocorre de forma mais lenta, via correção dos aluguéis e valorização dos ativos.

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Boa hora para compra?

Assim, os investidores acabam por se perguntar se a boa onda dos FIIs de logística já passou (e mesmo se já há superoferta de ativos do tipo) ou se a queda nas cotas pode ser uma boa oportunidade para entrar.

Para os três, a resposta é a de que os fundamentos do setor são fortes e a classe de FIIs seguirá atrativa.

Fedak considera, inclusive, que o momento é bom para o ingresso no setor, uma vez que os fundos de logística estão, de forma geral, sendo negociados a R$ 2 mil – R$ 3 mil por m2, valor inferior ao custo de reposição na maior parte dos mercados.

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Para ele, essa situação de baixo valor das cotas deveria ser corrigida: “O que deveria acontecer é que os fundos listados deveriam subir de valor, e o aluguel também”, disse. Isso porque, embora a média de vacância dos galpões seja de 10-12%, há alguns mercados, como o de São Bernardo do Campo (SP), onde ela é zero.

Contudo, ele considera que essa correção de preços ainda não aconteceu porque há uma certa defasagem temporal nesse mercado, além do efeito manada que costuma afetar os investidores – e a alta dos juros afastou-os da renda variável.

O gestor lembrou ainda que os fundos de logística hoje são negociados com um spread de 300 pontos-base (3%) acima das Notas do Tesouro Nacional – série B (NTN-Bs), remuneração que “deveria ser mais que suficiente para trazer gente para esse mercado”, até por conta da isenção do Imposto de Renda (IR) dos FIIs.

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Espaço de crescimento

Com relação aos fundamentos para os imóveis ligados à logística, os gestores dizem que eles são fortes: “A demanda ainda deve ficar forte por um bom tempo”, disse Fonseca.

Em sua avaliação, o e-commerce está apenas engatinhando no Brasil e as malhas logísticas ainda estão sendo montadas. Dessa forma, à medida que os contratos de locação forem vencendo, os imóveis devem ser alugados por valores mais elevados, acredita.

Fedak afirmou que, no Brasil, o e-commerce ainda tem uma penetração de 10%, enquanto na Europa e nos Estados Unidos, é da ordem de 20%, avançando para 30%, e, na China, de 50%.

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“Estamos no começo de uma tendência”, afirmou, pontuando que os benefícios do e-commerce são tangíveis para os consumidores, que podem comparar melhor os produtos, comprar por preços mais baixos e ainda com a comodidade de receber os produtos em casa. “A comodidade, o sortimento e a economia só vão fazer com que ele cresça”.

Mais capacidade

Wever considera ainda que mais capacidade (novos galpões) deveria ser agregada ao sistema, uma vez que a vacância média está na ordem dos 10% – patamar que começa a “tensionar os preços”.

Segundo ele, existe uma demanda por entregas de pedidos cada vez mais rápidas. Contudo, até mesmo para a cidade de São Paulo, é difícil efetuá-las em menos de 48 horas. Dessa forma, a concorrência pelos ativos próximos dos grandes centros consumidores (“last mile”) é atualmente forte.

“É muito difícil conseguir área para novos galpões perto dos centros consumidores. O segmento de last mile deve ter desempenho acima da média do setor e ainda está longe da sobre oferta”, diz Fonseca, da Bresco. Nos ativos de “last mile”, a vacância é da ordem de 4% em São Paulo (ele considera que um mercado está em equilíbrio com vacância de 12%).

No momento, além da dificuldade de conseguir ativos próximos de grandes centros, os gestores dizem que o mercado deu uma parada por conta da elevação dos juros, que também eleva a expectativa de retorno dos investidores.

“Tivemos alguma dificuldade de originação no primeiro semestre porque os vendedores ainda estão se ajustando ao aumento dos juros. Mais recentemente, começou a haver alguma flexibilidade nas negociações”, avaliou Wever.

Luciana Del Caro

Jornalista colaboradora do InfoMoney