Por que o BDR de ETF que acompanha empresas do Reino Unido sobe após a saída de Liz Truss?

Listado na B3, BEWU39 reproduz o ETF Ishares MSCI United Kingdom, listado na Bolsa de Nova York; carteira é formada por ações de empresas britânicas

Mariana Segala

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A renúncia da primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, é um dos principais assuntos que circulam nos mercados nessa quinta-feira (20). Ela não resistiu à crise iniciada com o anúncio de um ousado plano de redução de impostos em setembro e anunciou que deixaria o cargo assim que um sucessor seja escolhido.

Nas bolsas mundo afora, o anúncio foi sendo digerido ao longo do pregão. Na Bolsa de Londres, o principal índice de ações (FTSE 100) subia antes da notícia, e reverteu o movimento para queda logo que a saída de Truss foi confirmada – mas o indicador terminou o pregão de volta no campo positivo, com ligeira alta de 0,30%.

No Brasil, o movimento foi parecido. Listado na B3, o BDR de ETF BEWU39 – que replica uma carteira formada por grandes empresas do Reino Unido – também registrava leve alta, ainda que seu volume de negociação seja bastante pequeno. Às 14h25, subia 0,23%.

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Os BDRs são recibos de ativos negociados em bolsas estrangeiras e listados no mercado local. No caso de BDRs de ETFs, trata-se de papéis que “espelham” fundos de índices negociados no mercado internacional.

O BEWU39 – ou Ishares MSCI United Kingdom ETF – é um BDR que reproduz um ETF homônimo, listado na Bolsa de Nova York (Nyse). O ETF é formado por 83 ações de grandes e médias empresas do Reino Unido e tem como objetivo expressar a visão geral do mercado sobre o país. No seu mercado de origem, o fundo registrava leve queda, de 0,06%, às 14h25.

Entre as principais ações incluídas no portfólio do fundo – que acompanha o índice MSCI United Kingdom Index – estão as da petroleira Shell (9,82%); da farmacêutica Astrazeneca (9,05%); da Unilever (5,95%), do segmento de bens de consumo; do banco HSBC (5,52%); e da Diageo (5,10%), fabricante de bebidas.

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Assim como as ações britânicas, a moeda do país também reagiu à renúncia de Truss. A libra esterlina se recuperou um pouco na manhã desta quinta-feira. O alívio veio com a possibilidade de volta à normalidade política, além dos humores esternos mais positivos.

Desde que foi anunciado, o chamado “mini-orçamento” – o plano de Truss que previa corte de impostos de até 45 bilhões de libras – desagradou quase que imediatamente os mercados e vários economistas, que consideravam o movimento muito arriscado dada a inflação e os riscos de recessão. Ato contínuo, a libra chegou a cair para seu patamar mais baixo em relação ao dólar e os juros dos títulos do governo subiram em alta velocidade, obrigando o Banco da Inglaterra (BoE) a criar um programa de recompra de até 65 bilhões de libras em papéis de longo prazo (gilts).

Primeiro passo rumo à normalidade

Para Rachel Sá, chefe de economia e head de conteúdo da Rico, a saída de Truss representou um primeiro passo para tentar reverter a instabilidade que foi se formando no último mês no Reino Unido – e, por isso, os mercados reagiram relativamente bem.

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Em entrevista ao Radar, programa diário do InfoMoney que resume os fatos mais relevantes do noticiário econômico e político do Brasil e do mundo, Rachel disse que a confiança dos investidores em relação à estabilidade institucional britânica era forte, mas foi sendo minada aos poucos, especialmente nos últimos meses.

“Não está tudo resolvido. Saiu a primeira-ministra, mas agora é precisa eleger um novo primeiro-ministro, e falta clareza sobre quem [o Partido Conservador] vai indicar”, afirmou. Também faltam informações sobre qual será a política econômica adotada no país daqui por diante. “Quando foi eleita, Truss foi chamada de a nova Thatcher, e quando chegou e a primeira coisa que falou foi ‘vou congelar os preços’. Menos Thatcher, impossível”, comparou. Primeira-ministra do Reino Unido entre 1979 e 1990, Margaret Thatcher era conhecida como a “Dama de Ferro”.

Para a libra, muito do impulso positivo da moeda já foi esgotado, avaliaram os analistas do J.P. Morgan em um relatório. “Do ponto de vista estratégico, portanto, mantemos a visão de que a alta da libra está limitada ao alívio político, enquanto as perspectivas de crescimento fraco amplificado por medidas de austeridade e inflação alta no próximo ano devem manter a libra sob pressão em uma crise ampla”.

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A pressão política já havia derrubado nomes importantes do gabinete de Truss nos últimos dias. Na última sexta-feira (14), o ministro da Finanças, Kwasi Kwarteng, caiu. A primeira medida anunciada pelo substituto de Kwarteng, Jeremy Hunt, já na segunda-feira (17) foi a reversão de quase todo o pacote fiscal de seu antecessor.

Na quarta-feira (19), a renúncia da ministra do Interior, Suella Braverman, provocada pelo uso de um celular pessoal para guardar documentos confidenciais, expôs a perda de poder do grupo político de Truss dentro do próprio gabinete. A falta de apoio entre os conservadores ficou clara na derrota de uma votação sobre a liberação do fracking no país para a exploração do gás de xisto.

Provavelmente, o sucessor será escolhido até o final da semana que vem, mas o clamor por novas eleições cresce na Inglaterra.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney