Participação de mulheres entre investidores do Tesouro Direto cai a partir de 2020; por quê?

Presença de mulheres em outros mercados, como o de ações, também é pequena - e, de algum modo, a pandemia pode estar por trás disso

Equipe InfoMoney

(Unsplash)

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Porta de entrada para quem está chegando ao mundo das aplicações financeiras, o Tesouro Direto – programa que permite a compra de títulos públicos emitidos pelo governo federal – viu o número de mulheres investidores crescer consistentemente na década passada.

Mas de 2020 para cá, a participação feminina entre as pessoas cadastradas para operar no sistema passou a recuar. Elas já chegaram a representar 32,6% dos investidores do Tesouro Direto em dezembro daquele ano. Agora, as mulheres somam 27%, aproximadamente 6,2 milhões de um total de 23 milhões de cadastrados, segundo os dados relativos a janeiro.

No relatório Lugar de mulher é onde ela quiser? A disparidade de gênero no mercado de trabalho e investimentos, Camilla Dolle, head de research de renda fixa da XP, avalia que a pandemia de coronavírus pode estar por traz desse recuo.

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“Em nossa visão, o movimento pode ser atribuído à pandemia, que teve impacto financeiro maior sobre mulheres”, diz. “Embora leve, já houve evolução do percentual em janeiro de 2023”. Em dezembro de 2022, a participação feminina havia chegado a 26,8%.

Camilla destaca que, apesar da evolução das mulheres investidoras no Tesouro Direto em relação à população feminina brasileira, há o que avançar nesse também nesse quesito. “Cerca de 6% das mulheres investem no programa. A tendência é positiva, porém ainda há um longo caminho para ser trilhado”.

Participação das mulheres como investidores no Tesouro Direto (Fonte: XP)

A participação no Tesouro Direto pode ser tomada como bom parâmetro da chegada das mulheres ao mercado de renda fixa. “Afinal, o título mais comprado historicamente (o Tesouro Selic) tem o risco mais baixo dentre outros do mercado local, tanto em termos de crédito quanto de mercado e pode considerado um investimento conservador”, diz Camilla.

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Na Bolsa, o número de investidoras aumentou “dramaticamente” nos últimos vinte anos: de apenas 15 mil para os atuais 1,4 milhão. É um crescimento de 88 vezes, contra um avanço de 67 vezes entre os homens, destacam Jennie Li, estrategista de ações, e Rebecca Nossig, analista da XP, no mesmo relatório.

“Embora o aumento de investidoras tenha sido mais rápido, a proporção entre investidores homens e mulheres não mudou tão significativamente”, ressaltam. Os dados mais recentes mostram que cerca de 23% das pessoas cadastradas para operar na B3 são mulheres, contra 18% em 2002.

“Mais importante, considerando a população de cerca de 108 milhões de mulheres no Brasil, isso representa menos de 2% delas investindo”, afirmam.

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No relatório, Paula Zogbi, head de conteúdo da XP, lembra que a participação das mulheres tanto nos ambientes de investimentos quanto no mercado de trabalho ainda está longe do ideal. “Acreditamos que equiparação salarial, estímulos para que mulheres ocupem posições de liderança e a busca pela maior participação feminina no universo dos investimentos são alguns dos ingredientes chave na busca por uma participação mais igualitária da mulher na sociedade como um todo”, ressalta.