“O morro tá muito calmo, chaveco”: por que você deveria ter (alguma) cautela com o mercado

Antes de bolhas, os noticiários e especialistas rasgavam elogios. Muitas perguntas, poucas respostas. Essa é a situação da minha mente.

Lucas Collazo

Pedestres em Wall Street perto da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) em Nova York (Michael Nagle/Bloomberg)

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Caros(as) leitores(as),

Eu passei a última semana que passou a trabalho no Rio de Janeiro. Talvez não seja conhecimento de todos, mas o Leblon é morada de muitas gestoras independentes de recursos de terceiros, o famoso “buyside”.

Dito isso, com alguma frequência, nós visitamos a praça para nos aproximarmos das ideias de investimento que florescem na região e das mentes por trás delas. Importante salientar que, embora pareça contestável, essa agenda acontecer na semana que antecede o carnaval é mera coincidência.

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Poderia fazer inúmeros destaques das conversas que tive, todo conhecimento construído deve ser compartilhado. Porém, algo me incomoda e chama atenção nos papos que realizei.

Dada a força da economia americana, após muitos questionamentos, a ideia de que não teremos uma recessão é mais bem recebida. A inflação recua de forma amigável, não houve necessidade de puxar o freio de mão e parar o trem econômico do “Uncle Sam”, como era esperado em 2023.

Os ativos de risco por lá demonstram isso em seus preços, renovações de máximas históricas, graças às sete empresas que lideram os movimentos altistas e a empolgação com o advento da inteligência artificial. Erros grosseiros em modelos preditivos macroeconômicos são o novo normal, e a humildade que foi construída com o capital destruído em posições contrárias à Bolsa americana são de mesma magnitude.

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Luis Stuhlberger, um dos maiores gestores da história do Brasil, disse em episódio do Stock Pickers: “há duas formas de ir para o inferno. Uma delas é morrer e de fato ir para o inferno, a outra é ficando vendido no S&P.”

Ele disse isso em janeiro do ano passado. Se todos os gestores tivessem escutado e seguido esse conselho, com certeza as cotas estariam mais bonitas na foto de 12 meses.

Dado que me considero um “jovem empreendedor insolente”, preciso pontuar: o morro está muito tranquilo, chaveco. Uma das frases que mais tenho dito nas rodas de mercado, referência ao filme Tropa de Elite.

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Em 2024, após a virada do ano, os agentes parecem ter esquecido dos problemas e riscos, o cenário ficou otimista e construtivo de forma repentina. Tudo parece perfeito, enquanto os preços seguem esticados. A volatilidade implícita das opções americanas se encontram no menor patamar dos últimos 17 anos, as opções de venda estão extremamente baratas.

Louros são arremessados à condução de acomodação econômica por lá, autoridades fazem afirmações fortes sobre alguns setores relevantes, como o imobiliário. A luz amarela no meu painel está ligada.

É difícil afirmar categoricamente algo na realidade atual. Vivemos forças com derivadas econômicas relevantes que são praticamente imensuráveis.

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Como dimensionar o ganho de produtividade da inteligência artificial? Os modelos preditivos utilizados por décadas, ainda funcionam com o mesmo grau de assertividade? Qual o futuro do quadro inflacionário do mundo? Juro neutro mudou de patamar? Qual o preço justo dos ativos?

Muitas perguntas, poucas respostas. Essa é a situação da minha mente.

O que posso afirmar é, algo que está em alta, tende a continuar. Historicamente, as máximas costumam ser renovadas após serem atingidas. Em janelas de 3/6/12 e 24 meses, o S&P manteve o rumo altista após seus “all time highs”.

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Não diria que tudo é “caro”, diria que alguns valuations são impraticáveis a depender da sua escola de investimento. Nada impede que eles continuem a ficar mais caros todos os dias.

O comportamento humano talvez seja uma das poucas verticais previsíveis no mundo. Antes de bolhas, os noticiários e especialistas rasgavam elogios.

Algo parece confuso, parece não se encaixar. Mais do que nunca, é válido revisitar seu risco e diversificação, e níveis de exposição às classes de ativos.

Melhor prevenir, meus amigos.

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Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney