Muito além do mercado de capitais: os segredos dos vencedores do Desafio B3

A grande campeã deste ano foi a escola particular Prisma, de Osasco (SP), com rentabilidade de 268,36% na simulação de investimentos em ações.

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – Levar educação financeira a adultos é um desafio e tanto no país em que 51% estudantes saem da escola sem a capacidade mínima de interpretação de texto, segundo dados mais recentes do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Quando o assunto é matemática, 70,3% dos alunos mostraram desempenho abaixo do esperado no exame – realizado a cada três anos – de 2015. 

Não à toa, o programa da B3 Educação, antes BM&FBovespa, com o objetivo de levar conhecimento sobre o mercado de ações é chamado de Desafio B3. Realizado anualmente, a disputa coloca alunos do ensino médio de escolas públicas e privadas em uma competição teórica e prática sobre o assunto.

Depois de um sorteio entre as escolas inscritas, o Desafio B3 conta com seis eliminatórias ao longo do ano. As cinco primeiras colocadas de cada etapa foram para a final, com 30 colégios. 

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A partir de informações fornecidas pela B3 sobre cenários macroeconômicos e situações que envolveram empresas de diversos setores, as equipes das escolas definem suas carteiras de ações para, em simulações de investimento, obter as maiores rentabilidades. O valor virtual para a simulação era determinado por uma avaliação que antecedia cada etapa prática.

A grande campeã deste ano foi a escola particular Prisma, de Osasco (SP), com rentabilidade de 268,36% na simulação de investimentos em ações. A Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, de São Caetano do Sul (SP), foi o colégio público com melhor colocação, 4º lugar, com rentabilidade de 85,87% na simulação de investimentos. 

É claro que, para uma competição sobre o mercado acionário, conhecimento técnico e específico sobre o tema era uma habilidade necessária, mas o InfoMoney conversou com os professores das duas melhores escolas – particular e pública – do Desafio B3 para entender o que levou os alunos, em meio a um quadro geral precário do ensino nacional, a se destacarem na educação financeira. 

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Henrique Silva, professor e orientador da equipe do Prisma, conta que é investidor há 11 anos e dá aulas de educação financeira para os alunos da escola desde o ensino fundamental. “No 6º ano eles trabalham em um projeto de criar um cofrinho. São atividades como essa que fazem com que o jovem comece a se interessar pelo assunto”, explica Silva.

Para ele, o diferencial que levou sua equipe ao 1º lugar do Desafio foi o trabalho em equipe. “Saber respeitar o seu colega, a reclamação que é passada pelo amigo e saber debater de maneira consciente”, explica. O professor também destaca a proatividade dos alunos em irem atrás de informações.  

“Tem um trabalho coletivo porque a pressão da competição é muito grande”, conta Silva. Ao longo do ano, o professor do Prisma também recomendou alguns filmes que retratam o mercado  financeiro aos alunos, como “O Lobo de Wall Street”. 

A E.M. Alcina Dantas Feijão não possui aulas dedicadas à educação financeira, mas o professor Agostinho Rodrigues, economista e orientador dos alunos no Desafio B3, destaca que o ensino médio com viés técnico oferecido pela instituição ajuda na escolha dos alunos que farão parte da equipe. Estudantes do curso com ênfase em administração e logística se destacam, segundo Rodrigues. 

O professor destacou como diferencial dos alunos da escola também a capacidade de trabalhar em grupo e habilidades para trabalhar sob pressão. “O problema nem foi estudar, mas o ambiente porque eles ficam na pressão. E isso é bom porque eles vão trabalhar pressionados pelo resto da vida”, explica. Diante disso, o professor buscou colocar na equipe um aluno com perfil de liderança e que fosse capaz de manter a turma calma e centrada. 

Rodrigues enfatiza ainda o esforço dos alunos envolvidos na competição. “Houve muita preparação, eles se dedicaram muito e eu exigi muito deles”, conta.

Como base para a competição, a área de educação da B3 disponibilizou cursos online preparatórios para alunos e professores participantes do Desafio. Contudo, a base escolar traz perfis diferentes para a competição, reconhece Carlos Ratto, diretor de marketing e branding da B3. 

 

“Os alunos de escolas públicas trazem uma historia de vida mais difícil, em sua maioria, e existe uma preocupação maior de investir e de formar uma poupança”, avalia Ratto, que destaca o fator familiar como peça importante nessa formação. 

“A economia tem passado por vários momentos ruins e vale lembrar das rentativas de soluções mágicas, como o plano Collor, que gerou um pensamento ruim e afugentou a população do hábito de poupar. Ficou o sentimento de que o banco é o vilão”, explica. 

Pensando no futuro, Ratto adianta que a B3 pretende ampliar a atuação na educação financeira em sua nova fase – pós fusão entre BM&FBovespa e Cetip. “Queremos ser o elo entre o mercado financeiro e a sociedade. Reforçar essa mensagem e encarar a educação financeira como algo que faz parte da educação básica”, explica Ratto.