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Investir em dólar: empresa brasileira sobe mais os juros de emissões lá fora do que no País; por quê?

Spreads de bonds - títulos de renda fixa emitidos no exterior - aumentou mais do que o das debêntures; vale a pena investir?

Ana Paula Ribeiro

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Os títulos de renda fixa emitidos no exterior por empresas brasileiras – os chamado bonds – estão com spreads de juros superiores aos dos papéis negociados no mercado local.

Um levantamento da gestora Octante Capital mostra que não é raro o spread dos bonds de empresas brasileiras ser maior que o das debêntures emitidas pelas mesmas companhias. No entanto, do início de abril para cá, a distância entre eles alcançou patamares que não eram vistos pelo menos desde o fim de 2020.

Atualmente, o spread dos bonds brasileiros está em 3,24 ponto percentual, contra um spread de 1,91 ponto percentual nas debêntures – resultando, portanto, em uma diferença de 1,33 ponto percentual. Há dois meses, a diferença chegou a 1,57 ponto percentual, nível mais alto identificado pela Octante.

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É uma situação muito diferente da vista no final de 2022, quando a diferença entre os spreads internacional e local ficava em torno de 0,70 ponto percentual. Em dezembro de 2020, era de apenas 0,18.

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O spread é a diferença entre a remuneração oferecida pelos emissores dos papéis em relação à taxa básica de juros do país em que são emitidos.

Na prática, significa que os investidores estão pedindo uma remuneração maior para comprar os títulos de empresas brasileiras no exterior. Por isso, o retorno que eles oferecem precisa ser ainda maior em relação à taxa livre de risco do que o spread aqui no País.

Para quem tem dinheiro para investir lá fora, significa a possibilidade de ganho adicional. Porém, o investidor precisa ter em mente que embora esteja dolarizando parte de seu portfólio, estará correndo o mesmo risco corporativo em relação às debêntures das mesmas empresas negociadas no Brasil.

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Por que o spread dos bonds aumentou?

São dois os fatores que contribuem para o aumento dos spreads. O primeiro, os eventos de crédito que ocorreram no início deste ano. A fraude contábil da Americanas (AMER3), revelada em janeiro, e o calote da Light (LIGT3), em abril, aumentaram a aversão a riscos corporativos do Brasil – ao menos no curto prazo.

Já o segundo fator foi externo, com a incerteza sobre os rumos dos juros nos Estados Unidos.

“A abertura de juros ocorreu nos dois mercados [local e internacional] após os eventos de Americanas e Light. Isso deixou os investidores lá fora ressabiados e levou a uma liquidação forçada, em especial nos papéis de menor qualidade creditícia”, explica Laszlo Lueska, sócio e gestor da Octante.

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Em sua visão, a alocação em bonds de empresas brasileiras com bom risco de crédito faz sentido, devido ao spread maior em relação ao mercado local.

Confira a evolução dos spreads médios dos bonds e das debêntures das empresas brasileiras nos últimos anos:

Fonte: Octante Capital

Mario Maia Nevares, sócio responsável por investimentos internacionais da G5 Partners, ressalta que a abertura – ou aumento – das taxas dos bonds de empresas brasileiras está um pouco superior ao registrado pelos papéis da América Latina.

“É uma abertura levemente acima dos bonds Latam, e reflete esse ambiente mais conturbado [de crédito no início do ano]. Mas de maneira geral, todos seguem a dinâmica internacional”, diz.

A taxa de juros nos Estados Unidos está na faixa de 5% a 5,25% ao ano. No último mês, começou a aumentar a expectativa de novas altas até o final do ano, como forma de o Fed (Federal Reserve, banco central americano) lidar com a inflação ainda em patamares considerados elevados. Atualmente, está em 4,9% anualizada, mas já foi de quase 9% um ano atrás.

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“Quando olhamos a Bolsa, o índice de volatilidade está dentro da média história. Já no mercado de renda fixa, está no maior patamar dos últimos anos. Isso acaba afetando os spreads de títulos de países emergentes como o Brasil”, explica.

O índice que mede a volatilidade do mercado de renda fixa americano é o MOVE (Merrill Lynch Option Volatility Estimate). Atualmente, ele está em 136 pontos, longe do pico de 180 registrado em março, mas ainda muito acima do patamar inferior aos 100 do início do ano.

Dolarizar ou internacionalizar?

Comprar ou não os bonds brasileiros que estão com spreads maiores, no entanto, depende do objetivo do investidor. Nevares explica que o rendimento pode ser atrativo para os que buscam apenas capturar no portfólio. Já para os que buscam internacionalizar parte da carteira, o investimento demanda um crivo maior.

Em suma, o especialista pontua que dolarizar é diferente de internacionalizar. “Um cliente que quer internacionalizar um portfólio não precisa ter um peso relevante em papéis de empresas brasileiras”, diz.

Para Phil Soares, analista da Órama Investimentos, os spreads estão mais elevados devido a um cenário de curto prazo. Com a suspensão do teto da dívida dos Estados Unidos, finalmente sancionada no último fim de semana, a expectativa é de uma redução da volatilidade, mesmo com as incertezas em relação aos próximos passos do Fed com os juros.

“A questão do teto da dívida afetou a negociação das Treasuries [títulos do Tesouro americano], o que tem efeito sobre todos os bonds, mas é algo pontual”, avalia.

Para ele, os bonds são uma alternativa para o investidor que deseja dolarizar a carteira de investimentos, embora esses papéis já tenham sido mais atrativos antes – especialmente antes da elevação de juros no Brasil, quando a rentabilidade deles era superior à Selic.

Como comparação, ele cita os bonds perpétuos (sem data de vencimento) do Banco do Brasil, que pagam cerca de 9% ao ano, e do Itaú Unibanco, em torno de 8,5%. “Não é uma taxa tão alta como no Brasil, mas o investidor ganha os juros com uma exposição da carteira ao dólar”, diz.

Confira os destaques do mercado nesta segunda-feira (5) assistindo ao Radar InfoMoney: