Investidores se queixam de congelamento de saques em corretora de criptos brasileira

Diversos clientes se queixam de não conseguir fazer retiradas na corretora brasileira de criptomoedas BitcoinToYou, cujos sócios brigam por R$ 258 milhões em Bitcoin

Lucas Gabriel Marins

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Clientes da exchange brasileira de criptomoedas BitcoinToYou, uma das mais antigas do país, alegam que não estão conseguindo mais realizar saques na plataforma. Há dezenas de comentários no site de defesa do consumidor Reclame Aqui e nas redes sociais da empresa.

A reportagem do InfoMoney entrou em contato com o proprietário da empresa, André Horta, via aplicativo Whatsapp, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. Uma funcionária também foi contatada, mas não respondeu. O espaço fica aberto para o contraponto.

A empresa também deixou de reportar as transações no agregador CoinMarketCap, que compila as transações feitas nas exchanges. O volume de negócios na corretora nos últimos dias também despencou, segundo dados do livro de ofertas e análise feita pelo desenvolvedor Guilherme Steinkopf, a pedido da reportagem.

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“Nós plugamos uma API e verificamos o volume dos últimos dias. Hoje, por exemplo, houve uma única operação de R$ 500 no par Bitcoin/BRL. No dia 18 de abril ocorreu apenas uma operação e no dia 17 somente quatro”, falou. No aplicativo da corretora já não há mais botão de saques.

Os números de reclamações não param de crescer.

Livro de ofertas da BitcoinToYou mostra lacunas e apenas uma negociação nesta sexta-feira (Reprodução/BitcoinToYou)

“Sou cliente desde a fundação da empresa. Há quase um ano venho tentando sacar meu dinheiro da BitcoinToYou e eles não permitem. Já mandei várias fotos de documentos e confirmações de dados. Já validei a minha conta dezenas de vezes. Não consigo sacar o meu dinheiro”, escreveu um dos clientes.

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“Estou tentando realizar saque/transferência via Pix do dinheiro que tenho na plataforma BitcoinToYou para minha conta corrente cadastrada, porém ao tentar realizar a transação, acontece um erro. Já faz dias que estou tentando retirar o valor que estou precisando e não resolvem o problema que está acontecendo na plataforma. Isto está me causando preocupação e está me prejudicando”, disse outro cliente.

Desde 2021 também corre na 33ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, em Minas Gerais, um processo de um investidor que alega ter perdido na corretora 20 unidades de Ethereum (ETH), o equivalente a R$ 302 mil. O processo foi motivo pelo advogado especialista em blockchain Artêmio Picanço.

Briga entre parentes

Ao mesmo tempo em que enfrenta problemas para liberar saques dos clientes, a exchange vive um drama empresarial e familiar. O empresário André Horta acusa seu antigo sócio e parente, Thiago Henrique Horta Lourenço, de roubar 775 unidades de Bitcoin (BTC) do negócio em janeiro de 2019. Na cotação atual da moeda digital, o montante é o equivalente a R$ 258,6 milhões.

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André moveu um processo contra o Thiago no final de 2021, distribuído 5ª Vara Cível da Comarca de Contagem, em Minas Gerais, pedindo a devolução dos criptoativos, além de uma indenização por dano moral de R$ 100 mil. O processo ainda corre na Justiça.

“Como se verifica, apesar de se apoderar indevidamente das criptomoedas transferindo-as para sua carteira, no montante total de 775,69507314 Bitcoins, o réu–Thiago se nega a restituir os Bitcoin, objeto do ilícito perpetrado, não socorrendo à autora-Vivar outra solução senão a busca de seu direito junto ao Judiciário”, diz petição acessada pela reportagem.

A Vivar, citada como autora da ação, era o nome empresarial da BitcoinToYou. Em 2022, um termo de distrato foi assinado pelos dois, desfazendo a sociedade. Consulta na Receita Federal indica que foi dado baixa na empresa no dia 29 do dezembro daquela ano. Em meio à anulação do negócio, André Horta relatou “a hipossuficiência de recursos financeiros” da empresa, pedindo o benefício da Justiça Gratuita, o que foi negado. Thiago Henrique Horta Lourenço não foi localizado pela reportagem para comentar.

Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney