Fundos de previdência têm retorno acima do CDI no 1º trimestre; quais as chances de continuarem assim?

Levantamento mostra que as três grandes categorias – renda fixa, ações e multimercados – renderam, na média, de 104% a 368% do CDI no período

Mariana Segala

(Getty Images)

Publicidade

Os fundos de previdência começaram bem o ano. Um levantamento com 2.570 carteiras realizado pela startup Onze, do segmento de previdência privada, mostrou que as três grandes categorias de produtos – renda fixa, ações e multimercados – tiveram desempenho positivo no primeiro trimestre. A dúvida agora é se, diante da virada dos mercados de abril para cá, será possível repetir a dose nos meses seguintes.

De acordo com o levantamento, os fundos de previdência de renda fixa apresentaram, na média, ganhos equivalentes a 104% da taxa do CDI (certificado de depósito interbancário) entre janeiro e março.

Entre os fundos que se saíram melhor, de acordo com a Onze, estão os que possuem alocações maiores em títulos indexados à inflação com vencimentos curtos, beneficiados pelo avanço dos preços da economia no período, e os que concentram os investimentos em papéis pós-fixados, que capturaram os efeitos da elevação da Selic (taxa básica de juros da economia) no período.

Continua depois da publicidade

Já os fundos de previdência com grandes posições em títulos prefixados ou em papéis indexados à inflação com vencimentos longos, ambos com preços mais sensíveis aos movimentos dos juros, acabaram sendo prejudicados.

Os fundos de previdência do tipo multimercado – que podem investir em variados tipos de papéis, apostando tanto na alta quanto na desvalorização dos ativos – obtiveram um retorno médio de 162% do CDI, segundo o levantamento da Onze.

“No trimestre, de maneira geral, se beneficiaram os fundos que mantiveram posições compradas em ações brasileiras, aplicadas em títulos indexados à inflação de vencimentos curtos, tomadas em títulos prefixados e compradas em real contra o dólar”, avalia Samuel Torres, consultor financeiro da Onze e autor do levantamento.

Continua depois da publicidade

Os fundos de previdência com alta exposição em ações brasileiras, por outro lado, refletiram o bom desempenho da Bolsa durante o primeiro trimestre. Na média, essas carteiras renderam o equivalente a 368% do CDI no período.

Os mais beneficiados, segundo Torres, foram os de maior concentração em ações ligadas ao segmento de commodities, que se saíram bem dada elevação dos preços das matérias-primas no mercado internacional – especialmente as agrícolas e de energia, consequência da restrição de ofertada ocasionada pela guerra entre Ucrânia e Rússia, dois grandes produtores.

Daqui por diante, não será simples manter os resultados, avalia a Onze. “Dado o desempenho até o momento, acredito ser difícil uma performance positiva para ativos de renda variável, e até para alguns de renda fixa, no segundo trimestre”, afirma Torres.

Publicidade

Para o consultor, a elevação dos juros nos Estados Unidos tem sido um dos principais fatores a pressionar as cotações dos ativos. “Contudo, com os preços descontados, é possível que os investidores voltem a comprar os ativos com o fim da alta dos juros”, afirma. “Seus preços podem se recuperar”.

Ainda não é possível saber que mudanças os gestores dos fundos de previdência estão realizando nas carteiras, dado que a composição delas só precisa ser divulgada publicamente depois de três meses. “Porém, é esperado que fundos de gestão mais ativa, principalmente os multimercado, que têm maior liberdade de escolha dos investimentos, tenham feito modificações, já que o cenário mudou substancialmente nos últimos meses”, diz Torres.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney