Fundos de ação e ETFs de renda variável aumentam captação com volta ao risco após 1º semestre difícil

Há tempos que os produtos que alocam em ações não registravam um mês com saídas líquidas (mais resgates do que depósitos) "apenas" na casa dos milhões

Bruna Furlani

(Getty Images)

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O bom humor com os ativos de risco, diante da possibilidade de início do ciclo de corte de juros pelo Banco Central no começo de julho, não contagiou apenas quem aloca diretamente em ações. No mês passado, fundos de ações e ETFs (fundos de índice) também registraram uma recuperação na captação após meses de forte resgate ao longo deste ano.

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os fundos de ações tiveram, no mês passado, o melhor resultado em termos de captação desde agosto de 2021. Embora julho ainda tenha sido um período de mais saídas do que entradas, o montante final captado ficou em R$ – 261,6 milhões.

Há tempos que os fundos de ações não registravam um mês com saídas líquidas (depósitos menos resgates) na casa dos milhões. Até então, o montante girava em torno dos bilhões.

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Segundo dados da Anbima, o ápice em termos de saques ocorreu em janeiro de 2021, quando os resgates líquidos chegaram a R$ 23,3 bilhões. Já olhando um horizonte menor, como este ano, o maior montante retirado desse tipo de fundo ocorreu em janeiro, quando as saídas líquidas somaram R$ 9,2 bilhões.

O aumento do fluxo também é reflexo do maior interesse pelo risco e por fundos de ações. Uma pesquisa feita pela XP com assessores entre os dias 7 e 14 de julho mostrou que o percentual de investidores interessados no produto chegou ao maior percentual desde o começo deste ano, batendo 24% em julho.

O resultado foi obtido após o questionário perguntar: fora da renda variável, em quais outros ativos os clientes estariam interessados em alocar?

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Apesar do avanço já registrado pela Bolsa ao longo dos sete primeiros meses deste ano, a chefe de economia da Rico, Rachel de Sá, reforça que ainda há oportunidades.

Em relatório, a especialista destaca que a queda nos juros ajuda a reduzir o custo de capital para as empresas, além de elevar os lucros e melhorar a saúde de financeira de companhias que possuem uma dívida alta e que precisam de financiamento.

Na avaliação da economista, o processo de redução dos juros pelo Banco Central será gradual, mas a casa projeta que a Selic caia para 10% até meados de 2024.

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Não é possível precisar uma data, mas, diante da perspectiva de novos cortes, a tendência, segundo especialistas, é que o fluxo para fundos de ações tenda a se reverter para o campo positivo ao longo deste ano e do próximo.

Em termos de retorno, os fundos de ações que lideraram em julho foram os setoriais, com avanço de 7,90%, em média. No ano, os ganhos dessa subclasse chegaram, em média, a 21,90%.

ETFs de renda variável também são destaque

Depois de registrar mais saídas do que resgates em junho, os ETFs (fundos de índice) com foco em ativos de risco apresentaram captações líquidas positivas de R$ 966,4 milhões. No mês anterior, esse tipo de produto tinha registrado saídas líquidas de R$ 84 milhões.

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No topo da lista de produtos com melhor desempenho em julho estão ETFs de renda variável ligados a finanças descentralizadas e criptoativos, como o (ativo=DEFI11), com avanço de 17,30% no mês, segundo levantamento feito pelo TradeMap a pedido do InfoMoney.

ETFs relacionados a empresas de crescimento como o SHOT11 e a companhias que estejam envolvidas com o mercado de hidrogênio, como o YDRO11, também foram destaque – com ganhos de 15,93% e 14,28% em julho, respectivamente, de acordo com os dados do TradeMap.

Movimento oposto foi visto com ETFs de renda fixa, que finalizaram julho com resgates líquidos de R$ 139,5 milhões.

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Situação ainda difícil para multimercados e fundos cambiais

O mês passado também não foi muito positivo para fundos multimercados, que encerraram o período com saques líquidos de R$ 8,9 bilhões.

O volume de saques em multimercados vem reduzindo, mas fundos de ações têm reagido primeiro a essa volta ao risco.

Neste ano, o pior mês em termos de saídas líquidas em fundos multimercados ocorreu em janeiro – quando a classe registrou uma captação líquida negativa de R$ 17,6 bilhões.

Captação líquida em fundos de ações em 2023
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho
-R$ 9.165,70 -R$ 6.213,50 -R$ 7.982,80 -R$ 5.519,10 -R$ 5.123,80 -R$ 6.117,60 -R$ 261,60
Captação líquida em fundos multimercados em 2023
jan/23 fev/23 mar/23 abr/23 mai/23 Junho  Julho
-R$ 17.600,70 -R$ 14.996,40 -R$ 10.328,90 -R$ 12.682,30 -R$ 2.322,10 -R$ 9.513,90 -R$ 8.890,60

Fonte: Anbima

Apesar de sugerir que a virada dos multimercados esteja um pouco mais distante do que a dos fundos de ações, o mesmo estudo da XP com assessores mostrou que houve um aumento no interesse por produtos do tipo.

Segundo o levantamento, 49% dos clientes se mostraram interessados em alocar em multimercados em julho. O percentual está bem próximo do maior valor do ano, que foi registrado em janeiro, quando 50% dos entrevistados manifestaram vontade de alocar em multimercados, para além da renda variável.

No topo da lista entre os retornos estão os multimercados capital protegido, com ganhos de 2,78% em julho. Já no ano, o avanço dessa subclasse é de 11,24%, em média.

Esse tipo de fundo busca obter uma rentabilidade vinculada ao desempenho de algum ativo, como um índice de ações ou algumas commodities como o ouro.

Após um começo de ano complicado para fundos multimercados macro, a subclasse de fundos voltou a ter desempenho acima do CDI (taxa de referência dessa classe de ativos) em julho. Na média, segundo a Anbima, os ganhos dos multimercados macro ficaram em 1,37% em julho, acima dos 1,07% do CDI registrados no mesmo período.

O mês de julho também foi difícil para fundos cambiais, que terminaram o mês com saídas líquidas de R$ 200,3 milhões.

Captações positivas

Fundos de renda fixa, de previdência, além de fundos de investimento em direito creditório (FIDCs) e fundos de investimento em participações (FIPs) terminaram julho com mais entradas do que saídas.

No caso dos fundos de renda fixa e dos fundos de previdência, os depósitos líquidos chegaram a R$ 12,6 bilhões e R$ 4,5 bilhões, respectivamente, em julho. No ano, porém, os fundos de renda fixa ainda estão no negativo, com captação líquida de R$ 63,4 bilhões.

FIDCs e FIPs, por sua vez, apresentaram entradas líquidas de R$ 4,7 bilhões e de R$ 1,4 bilhão em julho. Apesar disso, ao longo deste ano, os fundos de direito creditório acumulam resgates líquidos de R$ 1,4 bilhão.

Já tomando como base toda a indústria de fundos local, as captações líquidas chegaram a R$ 14,7 bilhões em julho – resultado bem melhor do que no mês anterior, quando houve mais saídas do que entradas, no valor de R$ 58,4 bilhões.