FIIs de papel devem ter espaço na carteira mesmo com Selic em queda, defendem analistas

Especialistas da Nord apontam disparidade entre patrimônio dos fundos e o valor de mercado dos imóveis

Ana Paula Ribeiro

Publicidade

O cenário de queda da taxa básica de juros, a Selic, vai mexer com a alocação nos fundos de investimentos imobiliários (FIIs) e um dos segmentos que deve se beneficiar é o de tijolos – mas os de papel ainda têm seu espaço. A avaliação é de Marx Gonçalves, sócio e analista da Nord Research.

“O mundo real está negociando [fundos de papel] a preços muito díspares dos FIIs de tijolos. Há fundos com o metro quadrado a R$ 13,5 mil e transações de imóveis similares saindo ao dobro disso”, contou o especialista durante o Liga de FIIs de última semana.

O Liga de FIIs é apresentado por Maria Fernanda Violatti, head de análise de fundos listados da XP e Thiago Otuki, economista do Clube FII. Também participou da discussão Marilia Fontes, sócia-fundadora da Nord.

Continua depois da publicidade

A taxa Selic começou a cair no início de agosto do ano passado, quando estava em 13,75% ao ano. Agora, está em 11,75% anuais e a expectativa é de um novo corte de meio ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que se encerra na próxima quarta-feira (31). Na avaliação do mercado, a taxa básica termina o ano a 9% ao ano, segundo o último boletim Focus do Banco Central (BC).

A Nord ainda dá espaço preponderante aos FIIs de papel em sua carteira de FIIs. De acordo com Gonçalves, a alocação está dividida entre 60% de fundos de tijolo, 28% dos de papel e 12% dos fundos de fundos (FoFs). No entanto, ressalta que os de papel ainda apresentam boas oportunidades.

“Muitos fundos de papel estão negociados abaixo do valor patrimonial e não possuem problemas de crédito. Isso abre uma oportunidade para esses ativos. Não existe receita de bolo”, diz.

Continua depois da publicidade

Os fundos de papel têm sofrido nos últimos meses com o processo de redução da taxa de juros, já que a maioria acompanha o CDI, cuja rentabilidade decresce acompanhando a Selic.

Maior risco

Na visão de Fontes, da Nord, os juros perto de 14% ao ano faziam com o que o investidor tivesse que fazer pouco esforço para conseguir retornos acima de 1% ao mês. Com a queda da Selic, manter a rentabilidade significa tomar mais risco.

Em sua visão, a Selic pode inclusive cair mais do que o mercado espera, cujo caminho estaria mais atrelado ao que ocorre nos Estados Unidos – onde também se espera queda de juros neste ano junto com o recuo da inflação. “O fiscal [no Brasil] não é tão bom como poderia ser e o arcabouço fiscal não é tão restritivo, mas o que a gente vê hoje não é uma piora”, opina.

Continua depois da publicidade

Nesse contexto, Fontes afirma que é preciso pensar em alternativas de investimento de maior risco. Ela lembra que até o ano passado era possível encontrar certificados de recebíveis imobiliários e agrícolas (CRIs e CRAs) pagando 7,5% ao ano além da inflação. Agora, as taxas desses papéis, que são isentos de IR, estão em torno de 5,5% ao ano para além do IPCA. “Nos FIIs, é possível encontrar retorno similares e com menor risco”, diz.