Em ano de volatilidade, debêntures entregam rentabilidade acima de 1.000% do CDI

Casas veem oportunidades para títulos atrelados à inflação; setores mais resilientes são os prediletos

Bruna Furlani

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O “terremoto” provocado por eventos como Lojas Americanas e Light alterou os spreads (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao dos títulos públicos, considerados de baixo risco) oferecidos por debêntures ao longo do ano — com uma forte alta seguida por queda.

A estreia da marcação a mercado (precificação diária) em determinados títulos de renda fixa também turbinou a volatilidade. Apesar disso, alguns ativos apresentaram retorno surpreendente — chegando a 130% ao longo de 2023, percentual equivalente a 1.025% do CDI. É o que mostra um levantamento feito pela Economatica a pedido do InfoMoney e que considera os proventos pagos pelos papéis no ano.

Segundo o estudo, o papel de maior destaque foi uma debênture da BCBF Participações S.A., controlada indireta da Hapvida (HAPV3), que ofereceu um bom rendimento e realizou a primeira amortização do papel neste ano. Com isso, o investidor recebeu de volta uma parte do capital aplicado, o que impulsionou o retorno do título no período.

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Papéis da Itapoá Terminais Portuários, Tenda (TEND3), Taesa (TAE11) e Concessionária do Aeroporto Internacional de Guarulhos S.A, que obtiveram rentabilidade no ano entre 34% e 22%, apareceram na sequência.

Os dados levam em conta o acumulado do ano até o dia 19 deste mês e mostraram a força dos retornos de companhias mais voltadas para energia, imobiliário, assistência médica e concessões públicas.

Confira 10 debêntures com os melhores retornos em 2023:

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Nome e CódigoRetorno no Ano (%)Rentabilidade em percentual do CDI (%)
Bcbf Participações SA (BCBF15)130,111.024,95
Itapoa Terminais Portuarios SA (ITPO14)33,75265,85
Tenda (TEND19)25,81203,35
Taesa (TAEE18)25,80203,26
Conc do Aerop Inter de Guarulhos S/A (AGRU41)22,31175,78
Conc do Aerop Inter de Guarulhos S/A (AGRU21)22,03173,57
Tenda (TEND17)22,00173,33
Conc do Aerop Inter de Guarulhos S/A (AGRU12)21,96173,03
Conc do Aerop Inter de Guarulhos S/A (AGRU31)21,92172,69
Parintins Amazonas Transmissora de Energia SA (PTAZ11)21,89172,43
Fonte: Economatica. Obs.: Os dados levam em conta o fechamento do dia 19/12/23 e consideram os proventos pagos pelos títulos no ano.

Escolhas mais seletivas no crédito

Após um ano turbulento, a XP está com uma visão mais positiva para a renda fixa atrelada à inflação como um todo em 2024, o que engloba debêntures incentivadas, que garantem isenção de Imposto de Renda ao investidor pessoa física.

Rodrigo Sgavioli, chefe de alocação do research da XP, destaca que a curva ainda oferece taxas elevadas para carrego ou para marcação e que os títulos poderiam oferecer proteção contra a escalada de preço, caso houvesse um susto pelo caminho.

O especialista avalia que o nível de spread oferecido pelas debêntures já reduziu de forma considerável, mas ainda está “elevado”, quanto comparado a outros períodos. “A grande questão no ano que vem é que ficará menos óbvio para o investidor direto enxergar grandes fechamentos (quedas) da curva ou dos spreads“, resume.

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Por essa razão, a casa prefere delegar a função de seleção dos ativos para um gestor focado em ativos mais high grade (menor risco e retorno) em relação a produtos mais high yield (maior retorno e risco).

Apostas para 2024

Mas, se o investidor optar por realizar a alocação de forma direta, ou seja, sem a ajuda de um gestor, a preferência da Rico, por exemplo, é por nomes como a Engie Brasil (TBLE26), que entregava um retorno próximo de 5,5% acrescido de IPCA, com vencimento em 2026.

Já o foco do Itaú está em companhias como a Concessionária Rota das Bandeiras (códigos CBAN52 e CBAN72), além de CSN Mineração (CMIN12 e CMIN22) e Rumo (RUMOA2). Em relatório, a equipe de análise do banco destacou que as cinco debêntures apresentavam taxas indicativas entre 6,2% e 7,2% acrescidas de IPCA, com spreads atrativos e vencimento entre 2029 e 2037.

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A maior parte dos papéis é de companhias que costumam ter uma receita mais previsível, além de contratos mais longos e que tendem a ser reajustados pela inflação, caso do setor de energia e de concessões, por exemplo, que o Bocom BBM Asset Management manteve uma perspectiva mais otimista para 2024.

A gestora também está com uma visão mais positiva para ativos ligados ao setor financeiro, que teriam maior dinamismo para navegar em um cenário de um juro ainda elevado no país, em torno de 9% e 9,5% nas projeções da casa.

Leandro Nogueira, gestor da casa, acredita que 2024 deve ser de crescimento do mercado de capitais e de spreads mais atrativos no mercado primário de debêntures. “Estamos num momento em que existe um fôlego pra emitir com taxas acima do [mercado] secundário”, avalia o executivo, depois de ver retornos mais “amassados” nas emissões feitas ao longo dos últimos meses.

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Receio com alguns setores

Ao mesmo tempo em que está otimista com alguns setores, como o de energia, a gestora diz que está um pouco mais receosa com debêntures de varejo. “Zeramos posições no varejo. Eles estão bem alavancados [com endividamento mais alto] e dependem do consumo das famílias”, diz. “Não vejo uma recuperação no curto prazo”, alerta o profissional do Bocom.

Outro setor que a casa está mais preocupada é o setor de construção civil, que também é mais sensível a juros e que depende de financiamento de longo prazo. Mas há algumas exceções dentro do setor, caso da Cyrela e da Cury, por exemplo, na visão de Nogueira. “São companhias com balanço forte e que apresentam saúde financeira para dar certo conforto para a alocação”, pondera o executivo.