Conteúdo editorial apoiado por

Como investir em dólar em 2023? Cinco formas de atrelar a carteira à moeda estrangeira – e um alerta

Moeda americana é recomendada como forma de diversificação e proteção da carteira, mas envolve riscos que devem ser avaliados pelos investidores

Márcio Anaya

(Getty Images)

Publicidade

O cenário de grandes incertezas para 2023, com a economia global bastante fragilizada e o risco fiscal trazendo preocupações no mercado brasileiro, reabre a discussão sobre proteção do patrimônio em moeda forte. De um lado, a alta dos juros nos Estados Unidos tende a atrair recursos e puxar o dólar para cima, mas especialistas alertam que o momento exige cuidado.

“O dólar como estratégia de proteção e diversificação dos recursos faz todo sentido”, diz Wander Vicente, planejador fiduciário na Fiduc, fintech de planejamento financeiro e gestão de patrimônio. “No entanto, é preciso ter em mente que as modalidades de investimento têm características próprias e, assim, reúnem vantagens e desvantagens comparativas.”

Por aqui, a moeda americana teve queda de 5,10% em 2022. Para 2023, o cenário ainda é nebuloso e o único consenso dos especialistas é sobre a necessidade de o investidor refletir sobre seu perfil de risco e analisar com atenção as alternativas de diversificação internacional.

Continua depois da publicidade

“É importante estar ciente que há riscos de se investir no exterior, assim como no Brasil, pois o mercado está sob a influência dos fatores e condições daquele país onde os ativos se encontram”, diz Marcos Almeida, diretor da WIT Exchange. Confira cinco formas de dolarizar a carteira no ano novo:

O clássico: fundos cambiais

Quando se pensa em dólar, o produto é uma das primeiras opções que vêm à mente do investidor. Tais portfólios podem alocar pelo menos 80% do patrimônio em ativos ligados à moeda estrangeira e à variação cambial. Entre as vantagens está a gestão profissional, alta liquidez e baixo valor de entrada.

A tributação parte de 22,5% sobre a rentabilidade para aplicações de até 180 dias (seis meses) e cai para 15% se o prazo for superior a 720 dias (dois anos). Adicionalmente, se houver resgate em menos de 30 dias, há incidência de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

Publicidade

ETFs para apostar na diversificação

Os fundos de índices com cotas negociadas na Bolsa são outro caminho bastante citado para investir na moeda americana. Para isso, no entanto, o interessado precisa escolher um produto que siga um referencial no exterior e esteja exposto à variação cambial – diferente de portfólios que não incorporam esse efeito.

Um dos ETFs de mercados internacionais mais conhecido – e que incorpora a oscilação do câmbio – é o IVVB11, que busca acompanhar a variação do S&P 500, um dos principais índices de ações do mercado americano. O produto ocupa o segundo lugar entre os fundos de índice mais negociados na B3.

Na visão de especialistas, proteger-se em dólar via ETFs pode ser interessante em razão das características do produto.

Continua depois da publicidade

Uma vantagem nítida é a maior diversificação do investimento [uma vez que os recursos estão alocados em uma cesta de ativos] a um custo reduzido, além da facilidade de negociação

Wander Vicente, da Fiduc

Do ponto de vista operacional, os ETFs podem ser adquiridos diretamente na B3, semelhante à compra de uma ação, via home broker – plataforma eletrônica de negociação vinculada a uma corretora. A tributação é fixa em 15% sobre o ganho de capital, independente do prazo da aplicação.

O planejador da Fiduc alerta, no entanto, que se trata de um produto de alto risco e que a liquidez de alguns ETFs pode ser mais limitada, não atendendo à expectativa de resgate imediato, por exemplo.

BDRs para escolher papéis específicos

Os Brazilian Depositary Receipts (BDRs) são recibos negociados na B3 que possuem lastro em ações emitidas no exterior e seguem a variação desses papéis. O investidor pode adquirir os ativos em lotes ou de forma unitária e a transação é simples, também via home broker.

Publicidade

Neste caso, especialistas destacam que o risco fica concentrando no ativo escolhido, cujo preço vai variar não apenas de acordo com o câmbio, mas também com os valores negociados no exterior. Demanda, portanto, conhecimento sobre a realidade da empresa estrangeira que foi escolhida.

Entre as vantagens, o site a B3 aponta o custo, pois o investidor evita pagar taxas na compra e venda de moedas estrangeiras, como o IOF de 1,1% e o spread (ganho do prestador de serviço de câmbio), que gira em torno de 2%.

Quanto à tributação, a alíquota para as operações comuns é de 15%, qualquer que seja o valor do ganho, subindo para 20% se o investidor fizer o chamado day trade (comprar e vender no mesmo dia). Se o detentor de BDRs receber dividendos pagos pelas empresas estrangeiras, terá que recolher o imposto com o carnê Leão a cada mês. Lembrando que em alguns países os proventos já são tributados na fonte.

Conta no exterior para ter acesso a mais opções

Nos últimos anos, com a expansão dos bancos digitais, a ideia de abrir uma conta no exterior, seja para movimentações simples ou investimentos mais sofisticados, tornou-se uma realidade cada vez mais acessível. “Creio que é um segmento no qual haverá crescimento exponencial no Brasil”, aposta Vicente, do Fiduc.

Em meio à desconfiança em torno da política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a migração de parte dos investimentos para fora do País se intensificou. A alocação de uma parcela do patrimônio em ativos internacionais como forma de diversificação da carteira é vista com bons olhos pelos especialistas – que chamam a atenção também para eventuais excessos.

Um destino buscado pelos brasileiros são os chamados bonds, títulos de renda fixa que ficaram mais rentáveis com a elevação dos juros nos Estados Unidos. “De forma geral, o brasileiro já conhece a renda fixa e essa é uma maneira de diversificar o patrimônio”, explica Diego Correia, gestor da área de investimentos internacionais da XP. “Lá, o recurso do investidor também está atrelado a uma moeda forte e a um mercado mais maduro”.

Leia também:

Cresce interesse por investimentos fora do País; volume duplica a cada 15 dias, sinaliza XP

Bruno Di Giacomo, CIO da Nero Capital, também é favorável à estratégia de dolarizar o investimento, inclusive com o envio de divisas para fora do País, mas considera que o timing atual não é o mais apropriado. A razão é a expectativa de recessão, algo que ele considera natural após 14 anos de expansão nas economias desenvolvidas.

Por considerar que a economia americana deve apresentar retornos piores do que a brasileira, Giacomo diz que a Nero tem optados por comprar ativos brasileiros nos Estados Unidos – basicamente, ADRs (recibos de ações brasileiras emitidos no exterior) e bonds (títulos de renda fixa) de empresas nacionais.

“Do ponto de vista de retorno, hoje preferimos correr o risco Brasil do que o dos Estados Unidos”, diz Giacomo.

Para os fortes, mercado futuro de dólar

De volta à B3, existem minicontratos futuros atrelados à moeda americana. Na prática, são acordos de compra e venda de dólar que serão liquidados no futuro. Em geral, servem para “travar” um preço e assegurar o custo para algum compromisso lá na frente, ou simplesmente apostar contra ou favor de uma tendência de curto prazo.

“É um tipo de investimento mais especulativo, sim”, comenta Vicente. “E tudo bem. Existe também para isso.” O acesso é simples, via home broker, e esses ativos possuem grande liquidez, lembra o especialista. Segundo ele, a modalidade é indicada para clientes que têm um patrimônio já sólido e não tenham a perspectiva de uso do recurso no curto prazo.

“Uma desvantagem é a alta volatilidade”, ressalta Vicente. Por isso, é algo que, em geral, demanda um acompanhamento sistemático do mercado. “Se a pessoa não está em um momento em que pode se dedicar a isso, com certeza não é indicado para ela.”

Quanto à tributação, o imposto incide sobre os ganhos do mercado futuro. Para operações tradicionais fica em 15% e sobe para 20% no day trade.

Márcio Anaya

Jornalista colaborador do InfoMoney