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Com retorno de 15% em 12 meses, fundos de renda fixa que investem no exterior escapam dos resgates

Diversificação do portfolio é uma das vantagens oferecidas na alocação fora do país

Neide Martingo

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Na infinita busca por melhores rentabilidades, todos os investimentos podem ser considerados – inclusive os internacionais. Há quem diga que enquanto a taxa Selic for mantida em 13,75% ao ano, não há porque buscar ganhos lá fora. Mas os especialistas garantem que existem, sim, bons motivos para deslocar parte da carteira para além das fronteiras.

Além da saudável diversificação, a opção pode render frutos positivos. Com os juros altos, a renda fixa pode alcançar retornos de aproximadamente 14% ao ano no Brasil. No exterior, por outro lado, a rentabilidade é de cerca de 5% – considerando o patamar atual dos juros básicos dos Estados Unidos, por exemplo. Mas é preciso levar em conta o câmbio.

“O investidor ganha um pedaço da variação cambial. No momento atual, o dólar está mais fraco. Mas no longo prazo, a classe pode se favorecer. Se houver queda nos juros brasileiros, para 12% ou 10%, existirá um problema para a renda fixa por aqui”, diz Rodrigo Sgavioli, chefe de alocação e fundos da XP Investimentos.

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Aparentemente, há quem já esteja encampando esse movimento. Nos últimos 12 meses, os fundos de renda fixa brasileiros sofreram resgates líquidos (descontados os depósitos) de cerca de R$ 216 bilhões.

Mas das 16 subcategorias de fundos de renda fixa, cinco tiveram captação positiva (mais depósitos do que resgates) – e uma delas é a das carteiras que investem no exterior, que levantaram perto de R$ 1 bilhão no mesmo período (até a última sexta-feira, 12).

Segundo Sgavioli, é preciso levar em conta o tamanho que as carteiras de renda fixa internacional têm no Brasil, que corresponde a menos de 0,1% do patrimônio dos fundos. Ao mesmo tempo, é a subcategoria que acumula melhor desempenho nos últimos 12 meses: a rentabilidade soma 15%, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

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Debora Mendeleh, responsável pelo relacionamento com alocadores da Principal Claritas, diz que com o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) encerrando o ciclo de alta de juros – o que muitos esperam para breve – o crédito internacional se tornará mais atrativo.

“Esse processo teve início ano passado, pois o mercado tinha uma crença de que o Fed estava próximo do fim do ciclo de aperto monetário. No entanto, com a inflação mais resiliente, principalmente em serviços, as taxas permaneceram altas por mais tempo”, detalha.

De acordo com ela, depois da quebra do Silicon Valley Bank  (SVB), houve uma reprecificação dos ativos dadas as perspectivas de juros mais baixos e com um possível corte pelo Fed no segundo semestre. “Como o mercado de high yield [carteiras com maior risco e maior potencial de retorno] possui correlação mais alta com o de equities [ações], os prêmios começaram a fechar na curva, o que contribuiu para o desempenho e a captação positiva”, ressalta.

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Oportunidades

Para Deborah, há boas oportunidades no mercado em setores com capacidade de repassar preço, que possuem maior potencial de proteção em um cenário de inflação resiliente. Muitas empresas passaram por um forte processo de ajuste na pandemia e estão com balanços mais sólidos.

Somado a isso, no mercado local, apesar do elevado patamar de juros que favorece a renda fixa doméstica, os eventos registrados no mercado de crédito – os problemas com empresas como Americanas (AMER3) e Light (LIGT3) – contribuíram para que os investidores começassem a buscar diversificação internacional, capturando um bom momento de entrada nos ativos internacionais.

Já Ian Caó, sócio e diretor de investimentos da Gama, afirma que o ambiente local para fundos que investem no exterior vem se tornando mais favorável principalmente por conta do desenvolvimento das plataformas de investimento e da democratização do acesso do investidor pessoa física a opções que só “os grandes” tinham há até pouco tempo.

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“Os investidores precisam entender que a diversificação é quase uma obrigação”, pontua.

“O exemplo são os Estados Unidos, o centro financeiro do mundo, com um mercado de capitais desenvolvido. Mesmo lá, que oferece um milhão de possibilidades de investimento, uma boa parte dos investimentos é feita fora do país, justamente em razão da diversificação”, explica Caó. “Esse processo no Brasil vai crescer muito”.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney