Com a paridade, é hora de comprar dólar, euro ou os dois? Especialistas sugerem parcimônia a investidores

Na visão deles, moedas devem ser encaradas mais como reserva de valor do que como investimento e participação na carteira precisa ser pequena

Wellington Carvalho

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Com uma queda acumulada de mais de 10% em 2022, influenciada principalmente pela preocupação com uma possível recessão na Europa, o euro negocia próximo ao valor do dólar. A moeda americana, por sua vez, se fortalece diante da expectativa de que o Federal Reserve – banco central dos Estados Unidos – intensifique o ritmo de aumento dos juros, dada a inflação crescente no país. Nesta manhã, o euro subia 0,48% e estava valendo US$ 1,0067.

Historicamente mais valorizado, o euro tinha sido negociado no mesmo patamar do dólar pela última vez em julho de 2002. E dada a paridade entre as duas moedas, a luz de alerta dos investidores para eventuais oportunidades na compra e venda acendeu.

A atual desvalorização da moeda única europeia reflete o cenário de inflação, preços elevados de energia e risco de corte do fornecimento de gás natural da Rússia na Europa. A zona do euro – que atualmente tem taxa de juros negativa – não tem acompanhado o aperto monetário realizado nos Estados Unidos, refletindo na desvalorização da moeda.

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“Lá o aperto de juros deve ser mais suave, diante da complexidade da região”, explica Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos. “Há países crescendo um pouco, nações que não estão crescendo e lugares que já estão em recessão”. A elevação dos juros na Europa é mais delicada, porque afetaria, de forma diferente, todos os países, avalia o economista.

A situação nas duas regiões tem elevado a aversão ao risco no mercado financeiro, movimento que estimula a compra da moeda americana, considerada mais segura em momentos de adversidades.

“Os Estados Unidos são vistos como o lugar mais seguro para investir. E agora, ainda pagam o juro um pouquinho maior”, afirma Marcatti. “Por conta disso, o dólar se valoriza não só em relação ao euro, mas frente a todas as moedas”.

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É hora de comprar euro, dólar ou os dois?

Especialistas ouvidos pelo InfoMoney recomendam parcimônia aos investidores que buscam oportunidade de ganhos na paridade entre o euro e o dólar. Na visão deles, moeda deve ser encarada como reserva de valor, e não como investimento.

“A moeda não gera valor ao longo do tempo e não distribui dividendos”, pontua Marcatti, da Veedha. “Por isso, apostar em uma moeda não é algo que costumamos recomendar como investimento”.

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Ele explica que, do ponto de vista de alocação e por uma questão de segurança, ter uma parte do portfólio dolarizado é importante. No entanto, recomenda que a diversificação não seja feita diretamente com a compra de papel moeda. “Compramos ativos que estão dolarizados, como fundo de investimento americano e papéis negociados nos Estados Unidos, como ações ou títulos de renda fixa”, diz.

Marcos Weigt, head da tesouraria da Travelex – instituição financeira especializada em câmbio – concorda, e pondera ainda que a renda fixa brasileira está pagando atualmente rendimentos na casa de 13% ao ano, percentual que deve ser levado em conta pelo investidor antes de ingressar em outros produtos.

Além disso, Weigt sinaliza que a participação recomendada de moedas em uma carteira de investimentos costuma ser pequena, entre 10% e 20%. Diante do atual cenário e observando uma proporção saudável do portfólio, ele defende a diversificação também entre as duas moedas.

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“O investidor poderia fazer metade euro e metade dólar”, recomenda. “Atualmente os riscos são maiores na região do euro, mas pensando em uma carteira de investimentos, eu teria os dois”. A aplicação poderia ser realizada por meio de fundos de investimentos focados em câmbio, disponíveis em bancos e corretoras.

“É possível também investir em fundos que compram cotas de fundos no exterior e ganham com a variação cambial”, sugere Weigt, que prevê a manutenção do cenário de paridade no curto prazo. “O euro só voltará a valorizar quando a situação delicada no fornecimento de energia da Europa for resolvida”, arrisca.

Quais são as perspectivas para o euro e o dólar?

Os especialistas ouvidos pelo InfoMoney não acreditam em mudança de cenário no curto prazo. Mas diante do que se observa atualmente, ativos ligados ao dólar parecem ter mais chance de um desempenho melhor do que os ligados ao euro.

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“Acredito que, no médio e longo prazo, o euro se recupere frente ao dólar, mas talvez não alcance o câmbio médio dos últimos 20 anos, de 1,25 sobre a moeda americana”, avalia Francisco Nobre, economista da XP.

Para ele, o valor do câmbio – tanto do euro como do dólar – vai depender do desempenho econômico da zona do euro e dos Estados Unidos daqui para frente.

No caso da Europa, Nobre considera importante uma solução rápida para a inflação na região antes de um prejuízo ainda maior para a atividade econômica e uma queda ainda mais acentuada do euro.

Nesta quinta-feira (14), a Comissão Europeia – braço executivo da União Europeia – elevou consideravelmente as projeções de inflação para a região, saltando de 6,1% para 7,6% em 2022 e de 2,7% para 4% no ano que vem.

“Por isso é importante que o banco central europeu comece a agir para garantir a convergência da inflação para a meta e a normalização da economia”, diz Nobre.

Já os Estados Unidos são hoje um país em crescimento, que gera emprego, tem uma moeda forte e uma economia mais sólida, avalia Marcatti, da Veedha. Para completar, agora paga juros mais altos, inclusive em relação aos dos títulos europeus.

No curto prazo, há uma possibilidade de os Estados Unidos entrarem em recessão, mas seria por um período curto e com uma queda leve do produto interno bruto (PIB), aponta o especialista.

“Neste momento, com as duas moedas valendo a mesma coisa, se for para decidir por uma, eu optaria pelo dólar”, finaliza Marcatti.

Em circulação como moeda física desde 1º de janeiro de 2002, o euro é usado hoje por 19 dos 27 Estados-membros da União Europeia.

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Wellington Carvalho

Repórter de fundos imobiliários do InfoMoney. Acompanha as principais informações que influenciam no desempenho dos FIIs e do índice Ifix.