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Não, na verdade. O conceito de crescimento potencial ou crescimento natural é aquele que, se verificado na prática, leva a um aumento da utilização dos fatores de produção da economia: capital e trabalho. De fato, ao longo dos últimos trimestres, o nível de utilização da capacidade instalada da indústria (NUCI) vem subindo sistematicamente (indicador da utilização do capital) e a taxa de desemprego vem caindo (indicador de utilização do trabalho).
E o fato do crescimento potencial do país ser, digamos, 4,5%, não significa que não possamos rodar acima deste patamar por algum tempo. Significa que, se isso acontecer, a economia irá ocupar a folga de recursos existentes naquele momento. Foi exatamente o que aconteceu em 2007.
“O crescimento potencial é como o limite de velocidade na estrada” |
Quando comparados com outros ciclos de crescimento do passado, os indicadores de utilização de capacidade citados acima sugerem que estamos muito próximos do limite e se continuarmos com a demanda agregada acelerada, que exija do setor produtivo um aumento excedente da contratação de recursos, provavelmente o custo de contratação será bem mais alto do que no momento em que tínhamos recursos excedentes.
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Esse aumento de custos será repassado para preços, uma vez que a demanda está aquecida, aumentando a inflação corrente e detonando um processo de aumento de expectativas de inflação, que fará com que a inflação siga elevada também no futuro. Em outras palavras, o crescimento potencial é como o limite de velocidade na estrada: não significa que o carro não consiga correr a 150 km/h; significa que, se ele o fizer, será multado. No caso da economia, a multa é a inflação.
E no caso do perfil do crescimento brasileiro, existe ainda outra “multa” que vem sendo apresentada. Como a demanda interna vem crescendo acima de 7% ao ano nos últimos dois anos, a oferta nacional de produtos e serviços não consegue atendê-la, o que exige um volume crescente de importações. Este movimento está reduzindo rapidamente o superávit da balança comercial, que rodava em torno de R$ 45 bilhões anuais em meados do ano passado, e hoje está próximo a R$ 20 bilhões.
Em suma, apesar da retórica, o presidente Lula sabe que, nas atuais circunstâncias, manter o crescimento no mesmo ritmo de 2007 implica que a inflação, com alta probabilidade, subirá acima da meta estabelecida ao Banco Central e os superávits comerciais, que marcaram o primeiro mandato do governo Lula – e que ajudaram a promover a badalada posição de “credor líquido internacional” – provavelmente acabarão.
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Desta forma, é muito provável que tenhamos medidas concretas, em diversas frentes, que busquem esfriar o consumo das famílias. São nessa linha as medidas sobre contenção de crédito que vem sendo ventiladas pela imprensa, e é provável que o BC inaugure um processo de elevação das taxas de juros básicas, podendo começar tão logo quanto à próxima reunião do Copom, em abril.
Apesar de essas medidas serem justificáveis do ponto de vista macroeconômico, é uma pena precisar esfriar o ímpeto do consumo das famílias e do investimento das empresas, justo no momento em que essas variáveis – que são tão importantes para aumentar o bem estar da sociedade brasileira no longo prazo – apresentam o primeiro ciclo de crescimento contínuo em muitos anos.
O mais recomendável seria esfriar a demanda agregada através da redução dos gastos do governo. Assim, teríamos poupança interna suficiente para financiar o ciclo de expansão sustentada sem pressionar a inflação e/ou incorrer em déficits mais preocupantes nas contas externas, mas, a julgar pela dinâmica recente dos gastos públicos como percentual do PIB, que apresentam continuo crescimento, não parece ser essa a opção do governo brasileiro.
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Caio Megale é sócio da Mauá Investimentos e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.
caio.megale@infomoney.com.br