Colunista InfoMoney: Chegando a grau de investimento por seus próprios meios

<div class="select">Por Nuno Camara</div> Deixar o Fundo Soberano na gaveta e implementar um corte de gastos correntes como resposta à não aprovação da CPMF daria uma maior velocidade ao avanço do país

Nuno Camara

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As reformas estruturais são fundamentais pois melhoram os fundamentos do país e geram, dentre outras coisas, uma expansão do PIB a um ritmo mais acelerado. No entanto, e na ausência de crises, as reformas passam para um segundo plano, principalmente quando o país já está crescendo a um ritmo mais forte e de forma sustentável.

Com isso o governo pode até relaxar (embora não deva). Mas “relaxar” não significa desfazer o bom trabalho feito até agora, principalmente quando o cenário global entra em evidente deterioração. Nesse sentido a criação do Fundo Soberano e a possível resposta do governo à não aprovação da CPMF pelo Congresso poderiam atrasar a obtenção do tão almejado grau de investimento.

Ainda que o ambiente externo tenha ajudado a melhorar os fundamentos do país, seria um exagero argumentar que esse tenha sido o único fator nesse processo pois o presidente Lula também teve um papel crucial na melhora dos mesmos. No início de seu mandato ele entregou um superávit primário acima do esperado pelo mercado e pelo FMI. O presidente Lula também deixou o Tesouro Nacional e o BC nas mãos de excelentes economistas que fizeram e continuam fazendo um excelente trabalho.

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“O ciclo virtuoso no qual o país se encontra continuará. A questão é se este avanço se dará de forma rápida ou não”

E ao dar continuidade às excelentes políticas macro de seu antecessor, o presidente Lula também mostrou que a retórica é importante para ganhar uma eleição, mas como presidente, o pragmatismo acaba sempre prevalencendo. Isso foi fundamental para reduzir o risco político no país, problema que ainda prevalece na América Latina.

Além disso, o Tesouro Nacional e o próprio BC tiraram bom proveito das condições externas favoráveis melhorando o perfil da dívida e os indicadores externos de risco do país. Isso ajudou a reduzir significativamente a vulnerabilidade do país a choques, sejam eles externos ou domésticos. Associado a isto, também temos uma maior estabilidade de preços e, conseqüentemente, uma redução da volatilidade do produto. Como resultado houve um aumento de previsibilidade enorme.

Essa maior previsibilidade é, sem dúvida, um dos fatores responsáveis pelo aumento forte do investimento nos últimos anos. E isso, nada mais é, que uma aposta de longo-prazo no país por parte do empresariado. Desta vez um crescimento a um ritmo mais acelerado e sustentável veio para ficar e com isso uma das maiores preocupações das agências de risco – o crescimento baixo do país – está começando a ficar para trás, apesar da falta de progresso no campo das reformas.

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Os mais otimistas até poderiam dizer que país está tão adiantado neste ciclo virtuoso que o governo poderia até ficar de braços cruzados que o Brasil facilmente chegaria a grau de investimento. No entanto, há uma grande diferença entre ficar de braços cruzados e desfazer o bom trabalho feito até agora.

Não fazer reformas estruturais seria ficar de braços cruzados, mas criar um Fundo Soberano que não seja fruto de superávits fiscais nominais seria desfazer o bom trabalho feito até agora. Compensar as perdas de arrecadação da não aprovação da CPMF reduzindo o superávit primário e/ou aumentando outros impostos seria também um retrocesso. Por isso a obtenção de grau de investimento vai depender muito destes dois fatores, principalmente quando caminhamos para um 2008 cheio de incertezas em relação ao cenário global.

Em suma, o ciclo virtuoso no qual o país se encontra (fruto de uma ambiente externo favorável e do trabalho do presidente Lula) continuará. A questão é se este avanço se dará de forma rápida ou não. Deixar o Fundo Soberano na gaveta e implementar um corte de gastos correntes como resposta à não aprovação da CPMF daria uma maior velocidade ao avanço do país e o deixaria ainda mais resistente a choques externos, algo muito importante se os ventos externos não forem favoráveis em 2008.

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Assim nem os mais cínicos poderiam continuar a atribuir a melhora do país somente a uma questão de sorte. O mérito desse avanço seria todo do presidente Lula.

Confira os gráficos:

Descricao do grafico

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Nuno Camara é economista sênior para a América Latina do Dresdner Kleinwort e escreve mensalmente na InfoMoney, às quintas-feiras.
nuno.camara@infomoney.com.br