Cisnes negros, suas consequências e muitas lições: O que 2020 ensinou aos investidores

Confira as orientações para investir melhor em 2021, evitando os erros cometidos ao longo deste ano

Mariana Segala

(Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – Um ano atrás, o clima no mercado era de euforia. Ao fim de 2019, analistas projetavam que o Ibovespa poderia chegar aos 150 mil pontos ao longo de 2020. As manchetes variavam entre “Ano promissor para a Bolsa de valores” e “Há espaço para mais no ano novo”.

O que ninguém esperava, naquela época, era a reversão completa das expectativas causada pela pandemia de coronavírus. Como se costuma dizer no mercado, foi um “cisne negro” – um evento considerado improvável que, no fim das contas, acabou acontecendo.

Os desdobramentos da pandemia causaram um rebuliço no mercado e desencadearam uma série de consequências – algumas parcialmente entrelaçadas com a questão sanitária, outras totalmente decorrentes dela.

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Lidar com todos os efeitos não foi simples para os investidores, muitos deles recém-chegados ao mercado. Diante de tamanha ruptura, quais são as lições de 2020 para quem pretende seguir investindo em 2021?

Eventos conectados, estratégias desmobilizadas

A lista é longa, e começa com a constatação de que eventos econômicos e financeiros se interconectam de forma estreita, com implicações diretas no bolso dos investidores. O mercado como está hoje é uma consequência direta do que o mundo viveu ao longo do ano.

“A taxa Selic só foi baixada ao menor nível da história em decorrência da necessidade de estímulos para a economia. O dólar só atingiu quase R$ 6 devido à bomba fiscal instalada pelo coronavírus. A inflação só caiu quanto caiu por conta da redução de demanda entre o segundo e o terceiro trimestres”, diz Daniel Pegorini, CEO da gestora de fundos Valora Investimentos.

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A necessidade de abandonar estratégias de investimentos dadas como certas também entra nessa lista. Aquelas que tinham potencial para ser a “bola da vez” em 2020 acabaram ficando, uma a uma, pelo caminho.

A expectativa envolvendo as reformas e as privatizações de empresas públicas brasileiras, por exemplo, que era grande ao fim de 2019, reforçava as apostas sobre as ações de empresas como Eletrobras, Banco do Brasil e até Petrobras. Ocorre que, diante de uma emergência sanitária com implicações seriíssimas, enxugamento do Estado e leilões de portos e aeroportos ficaram em segundo plano.

“Falava-se muito do ‘kit privatização’, conjunto de papéis de estatais bem cotadas”, diz Raphael Figueredo, sócio e head da análise técnica da Eleven. Porém, acabou não se revelando o “Shangri-lá” imaginado.

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Coisa parecida aconteceu fora da Bolsa também. “As estratégias de crédito destinado à infraestrutura foram adiadas”, diz Pegorini. Da mesma forma, teses com viés macroeconômico perderam brilho. No lugar de olhar para os grandes movimentos da economia, buscando indícios sobre como aplicar em classes de ativos, foi preciso focar a lupa no desempenho e nas histórias específicas de cada papel ou emissor.

“Foi um ano trabalhoso, houve muitas mudanças estratégicas com o objetivo de surfar cada momento do mercado”, conta Pegorini. “Muitas vezes foi necessário esquecer os livros para navegar no sentimento, com a bússola da experiência, pois estávamos vivendo situações completamente desconhecidas na prática.” Um exemplo: quando as pessoas voltarão a sair de casa para consumir? Essa é, em certo aspecto, uma pergunta ainda sem resposta.

O que não mudou: empresas sólidas para o longo prazo

Embora muito tenha mudado, alguns analistas reforçam que certas verdades do mercado seguem valendo. É o caso da estratégia de investimentos de longo prazo em empresas com balanço sólido, boa gestão e vantagens competitivas, segundo Alberto Amparo, analista da área internacional da Suno Research.

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“Ela trará retornos ao investidor mesmo com a ocorrência de cisnes negros”, afirma. Segundo Amparo, sofreram mais as empresas que tiveram sua capacidade de geração de caixa de longo prazo permanentemente impactada, além das que possuíam dívidas ou custos fixos elevados. “Quem não tinha um balanço sólido entrou em apuros.”

Para quem está planejando os investimentos para 2021, os especialistas ouvidos pelo InfoMoney deixam recomendações para lidar com o sobe e desce do mercado. Elas valem tanto para situações extremas, como a ocorrência de um novo cisne negro, quanto para a volatilidade do cotidiano da bolsa de valores e das aplicações em geral. Confira:

1) Quando bate o desespero, vale a pena parar e esperar

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Pode parecer brincadeira, mas há momentos do mercado em que o mais aconselhável é não fazer nada. “E não por desconhecer ou ignorar o problema, mas sim porque o estresse entre os investidores é tão agudo e as situações, tão complexas, que qualquer coisa que se faça pode dar muito errado antes de dar certo”, diz Figueiredo, da Eleven Financial.

Nas semanas entre meados de março e abril desse ano, por exemplo, foi o possível para os investidores da B3 fazerem. “É importante dar um tempo para o mercado reencontrar a racionalidade e se normalizar, para então remodelar as estratégias.”

2) A preocupação deve ser proporcional ao impacto potencial

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Ao enfrentar uma crise aguda nos mercados, investidores deveriam fazer uma conta simples antes de entrar em pânico: qual é a exposição real da carteira a ativos com possibilidade de perdas expressivas.

“Tenho clientes que não moveram um fio de cabelo, mesmo com toda a volatilidade, pois tinham uma posição em Bolsa de apenas 5% do patrimônio. Já outras pessoas tinham 70% dos recursos alocados em renda variável, e obviamente sentiram muito mais”, diz Figueiredo.

Por isso, o especialista recomenda ajustar o tamanho das posições em ativos de risco ao perfil do investidor, equilibrando aspectos como objetivos de investimento, tamanho do patrimônio e, especialmente, tolerância a risco. “É preciso conseguir dormir com tranquilidade”, ressalta.

3) Buscar referências para além do mercado local pode ajudar

Quando a volatilidade impede os investidores de entender os rumos que o mercado pode seguir, uma boa prática para tentar tomar pé da situação é buscar referências. Muitas vezes, guardadas as diferenças e ainda que com algum atraso, os movimentos verificados em outras economias dão pistas do que pode acontecer por aqui.

Foi o que muitos analistas fizeram nesse ano, assim que amainaram os movimentos mais bruscos da Bolsa registrados nas primeiras semanas com a pandemia oficializada. “Fazer uma leitura mais apurada do que estava acontecendo nos mercados internacionais nos permitiu entender quais poderiam ser as consequências de toda aquela situação para o Brasil também”, diz Figueiredo.

4) Diversificar a carteira realmente faz diferença

Não é novidade para os investidores que os ovos devem sempre devem ser colocados em cestas diferentes. “Mas, em tempos de bonança, as pessoas acabam esquecendo um pouco da importância da diversificação”, diz Pegorini.

Ter um portfólio equilibrado com variados tipos de ativos – como renda fixa pública, crédito privado, ações, fundos multimercados, fundos imobiliários, entre outros – foi, na visão do especialista, o principal elemento para os investidores passarem pela crise do coronavírus com maior tranquilidade.

5) Atenção às suas fontes de informação

Uma pesquisa divulgada nessa semana pela B3 mostrou que os novos investidores da Bolsa – os cerca de 2 milhões que passaram a negociar ações do ano passado para cá – se informam sobre o mercado pela internet, sendo que 36% apontam as redes sociais e 34%, os grupos de WhatsApp.

São vias rápidas de obter informação, é claro. Mas os especialistas deixam um alerta importante: “Resista à tentação dos grupos com orientações, por exemplo, de concentrar o portfólio em renda variável. Nas histórias do WhatsApp, todos sempre ganham”, diz Pegorini, da Valora Investimentos. Na vida real, no entanto, o fim da história de estratégias como essa nem sempre é feliz.

6) Hoje é hoje, amanhã é amanhã

2020 também ensinou que nos investimentos – assim como em muitas outras esferas da vida – os cenários não estão dados. O fim de 2019 dava a entender que esse ano seria de bonança e tranquilidade nos mercados, mas a realidade se mostrou diferente. “Diz o ditado que ‘dia de muito, véspera de pouco’.

Portanto, nas épocas boas, não podemos projetar o futuro como se fosse uma perpetuação dos momentos de crescimento”, diz Amparo, da Suno Research. “Devemos reconhecer que o mundo é cíclico e que cisnes negros, sim, acontecem.”

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Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney