CDBs, LCIs e LCAs chegam a pagar juro real acima de 6% ao ano; é hora de comprar?

Aumento dos riscos no Brasil e no exterior tem levado investidor a exigir mais prêmio para emprestar recursos não só ao governo, como aos bancos

Bruna Furlani | Beatriz Cutait | Lucas Bombana

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SÃO PAULO – Investidores têm acompanhado semanas turbulentas nos mercados, com impacto direto sobre as taxas de retorno oferecidas na classe da renda fixa. No caso dos títulos públicos, a rentabilidade de papéis prefixados alcançou a marca dos 10,6% ao ano nesta semana, enquanto, entre os pós-fixados, os juros reais já se aproximam dos 5,0% ao ano, no Tesouro Direto.

No segmento da renda fixa privada, produtos de crédito bancário, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA), também ganham maior destaque no radar dos investidores.

No caso de produtos bancários indexados ao CDI, a remuneração como percentual do benchmark tem diminuído nos últimos meses, mas com um ganho nominal crescente, frente ao processo de alta de juros em curso pelo Banco Central.

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Levantamento da Quantum aponta que a rentabilidade média dos CDBs indexados ao CDI está em 101,4%, com a Selic em 5,25% ao ano, ante 103,3% em dezembro de 2020, quando a taxa básica estava em 2%. Se o investidor busca papéis com mais risco, de bancos médios, por exemplo, consegue taxas bem superiores à média.

Na plataforma da XP, o investidor encontrava nesta manhã CDBs como da GMAC, braço financeiro da General Motors, com vencimento em julho de 2023 e rating de crédito triplo A – o mais elevado –, com um retorno correspondente a 128% do CDI, o mais expressivo do dia.

No caso de CDBs pós-fixados atrelados à inflação, o investidor tinha acesso na segunda-feira (16) a CDBs como do banco Fibra com vencimento maior, em seis anos, e retorno real de 5,65%. A título de comparação, o mesmo papel oferecia juro real de 5,2% em 5 de abril deste ano. O CDB do Agibank, por sua vez, pagava taxa de 6,50% ao ano, acrescida da inflação, e tinha vencimento em 2027.

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No caso de produtos com retornos prefixados, também na XP, o investidor encontrava CDBs com vencimento em 2027 pagando taxa acima de 12% ao ano. Para prazos menores, como dois anos, os retornos chegavam a 9,65%, como no CDB do banco Pan, bem acima dos 7,65% pagos em abril deste ano.

No grupo das LCIs e das LCAs, que oferecem o benefício da isenção fiscal à pessoa física, os dados da Quantum mostram que a rentabilidade média atingiu 99% e 89,5% do CDI, respectivamente, em julho.

Entre as letras imobiliários de rating triplo A, o investidor encontra, contudo, papéis com vencimento em três anos com rendimento de até 117% do CDI, ou 8,90% prefixado ao ano.

Já entre as letras do agronegócio com a melhor qualidade de rating, as taxas indexadas ao CDI alcançavam 118% ao ano no caso de um papel com vencimento em dezembro de 2022. Para quem tem mais disposição a risco, havia alternativas na plataforma da XP de LCAs com prazo em sete anos e retorno prefixado da ordem dos 10% ao ano.

Análise dos riscos

Mais até do que a alta da Selic, o estresse no mercado local responsável por gerar o aumento recente da remuneração na classe está ligado a dois fatores, essencialmente: o aumento dos riscos fiscal e político, com discussões sobre a possibilidade de não cumprimento do teto de gastos em 2022, a proposta de reforma do Imposto de Renda, crise hídrica, além dos embates do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com membros do Poder Judiciário turvando as perspectivas para a economia brasileira.

O cenário mais incerto no mundo também não ajuda, com questionamentos sobre as consequências das novas variantes da Covid-19 sobre a retomada das economias contribuindo para o aumento da aversão ao risco.

Diferentemente da Bolsa, em que o aumento das incertezas provoca queda no preço das ações, com o Ibovespa perdendo nesta segunda-feira (16) os 120 mil pontos, na renda fixa, quanto maior o nível de estresse no cenário, mais polpuda tende a ser a remuneração que o investidor consegue capturar na classe.

Isso porque, para emprestar dinheiro para o governo, empresas ou bancos em um horizonte de maior risco, o investidor exige taxas de retorno mais elevadas. Na prática, para quem já tem alocação na categoria, a alta da rentabilidade oferecida representa uma perda momentânea para a carteira, pelo efeito da marcação a mercado. Essa perda só é concretizada, contudo, se o investidor decidir resgatar sua aplicação antes do vencimento.

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Da mesma forma como no Tesouro Direto, o olhar dos alocadores recai mais sobre novos investimentos na renda fixa do que sobre resgates propriamente.

Em meio ao aumento das incertezas e com expectativas cada vez mais altas para a inflação em 2021, a indicação dos especialistas recai principalmente sobre alternativas com retornos indexados ao IPCA, de modo a proteger a aplicação da alta dos preços, ou ao CDI, se beneficiando do rendimento crescente entregue pela taxa Selic.

No relatório Focus mais recente, economistas consultados pelo Banco Central (BC) mostraram que projetam a taxa Selic em 7,5% até o fim do ano, o que embute uma alta de 2,25 pontos percentuais ante os 5,25% atuais. A previsão para a inflação ultrapassou a marca dos 7%, com um avanço estimado de 7,05% para 2021.

Fato é que a expectativa de ganhos maiores no horizonte dos próximos seis a 12 meses tem atraído novos bolsos para o segmento de mercado.

Em junho de 2021, eram cerca de 61,5 millhões os investidores com CDBs em carteira, alta de 59,3%, na comparação com os 38,6 milhões, em igual período do ano passado, segundo dados do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

O montante aplicado no instrumento também cresceu, mas em ritmo bem menor, passando de R$ 1,40 trilhão para R$ 1,62 trilhão no intervalo, com uma evolução de 15,7%.

Na cola da Selic e do IPCA

Mauro Morelli, estrategista-chefe da assessoria patrimonial e de investimentos Davos Financial Partnership, divide os produtos bancários por indexadores de retornos e risco de crédito e vê o atual momento como interessante para a compra de ativos atrelados à inflação e ao CDI, especialmente de prazos mais curtos, com vencimento até 2026.

Com a visão de juros acima de 7,50% ao fim deste ano, diante das pressões inflacionárias e das discussões fiscais, Morelli espera novas altas das taxas de títulos prefixados, o que justifica sua preferência pelos demais papéis.

E mesmo para as outras categorias, os riscos não podem ser descartados. Caso a inflação siga acima da meta, títulos pós-fixados atrelados à Selic poderão ver boa parte do rendimento corroído pelo avanço do IPCA. “Nos últimos 12 meses [até julho], a inflação foi de quase 9% e o CDI estava em 2,45%. A inflação ‘comeu’ mais do seu capital do que o CDI remunerou”, destaca.

Embora o cenário local ainda seja marcado por tensões entre poderes no curto prazo, além de discussões sobre o pagamento de precatórios, inflação elevada e volatilidade maior com a aproximação das eleições, o momento também já é tido como favorável para comprar papéis de crédito privado dados os níveis de retorno, na visão de Camilla Dolle, analista de renda fixa da XP.

“Não podemos desconsiderar que as taxas podem abrir mais [aumentar] ainda até o ano que vem, mas já está valendo a pena comprar alguns produtos bancários.”
Camilla Dolle, analista de renda fixa da XP

Ainda que esteja otimista, Camilla diz que o cenário é desafiador e que o investidor precisa ter cuidado com a instituição responsável por emitir o título. Boa parte das instituições que oferecem papéis com retornos atrativos é formada por bancos médios, diz, e há setores de atuação que podem ser mais resilientes do que outros em cenários de maior instabilidade.

“Normalmente, bancos mais focados em crédito consignado, diretamente ligados à dedução da folha de pagamento de servidores, têm um pouco mais de resiliência nesse momento. Já bancos que atuam bastante com empréstimo para aquisição de veículos e crédito pessoal tendem a ter mais problemas, por causa da inadimplência, que tende a subir”, afirma a especialista da XP.

Outro ponto a verificar diz respeito à classificação de risco dos produtos. Para quem é mais conservador e não deseja correr um risco de crédito tão elevado, o ideal é buscar instituições que ofereçam títulos com notas “AAA” ou “AA+”. “Se optar por ter um pouco mais de segurança, tenha em mente que o retorno tende a ser menor”, afirma Camilla.

A preferência da analista da XP está em papéis pós-fixados atrelados à inflação ou atrelados ao CDI, mas ela também vê algumas oportunidades em títulos prefixados de prazo mais curto, entre dois e quatro anos.

No caso dos títulos pós-fixados, a especialista diz que a recomendação segue a visão de que a Selic deve subir até 7,25% neste ano e que deve se manter nesse patamar até o ano que vem. Ter, portanto, uma aplicação que acompanhe a alta da Selic faz sentido, pontua.

A aplicação em títulos atrelados à inflação, por sua vez, está vinculada às pressões inflacionárias, que devem seguir elevadas no curto prazo, mas com tendência a ceder no ano que vem, de acordo com a equipe de análise da XP.

A casa revisou, na semana passada, a projeção para a inflação medida pelo IPCA neste ano de 6,7% para 7,3%, diante do aumento de custos e da reabertura da economia. Também houve revisão nas expectativas para a inflação do próximo ano, de 3,6% para 3,7%.

Já no caso dos papéis prefixados, Camilla diz que o mercado tem uma visão de que a Selic deve subir para além dos 7,25% previstos pela XP. Logo, há um prêmio adicional de curto prazo a ser capturado nos títulos.

Compasso de espera

A Taler Gestão de Patrimônio tem analisado o comportamento das taxas de renda fixa desde o início do ano, mas não se posicionou até então por conta da preocupação com a inflação, mais especificamente sobre o quão passageira a pressão será e o tamanho do ajuste necessário na taxa Selic a ser promovido pelo Banco Central.

Mesmo com um cenário de juros a 7,5% ao ano mais consolidado e com uma sinalização clara por parte da autoridade monetária sobre seus próximos passos, Renato Iversson, gestor da Taler, assinala que o mercado continua a precificar ajustes mais fortes da Selic no horizonte, com elevação acentuada nas últimas semanas em meio ao aumento dos riscos.

Embora a gestora ainda queira aguardar mais tempo, de olho também na volatilidade que pode ser acrescentada com a intensificação dos debates das eleições presidenciais, Iversson ressalta que o momento oferece algumas boas oportunidades. “Estamos olhando para as taxas, que parecem mais interessantes, mas ainda não apertamos o gatilho”, diz.

Na prática, embora as taxas de papéis prefixados tenham alcançado novamente os dois dígitos, pode haver espaço para juros ainda mais altos. “Acho ótimo um investimento que pague 10% ao ano em cinco anos, mas amanhã pode ser 12%”, exemplifica.

A maior preocupação recai sobre títulos com retornos prefixados, diante do risco mais elevado associado à aceleração da inflação. Para entrar nesses papéis, é necessário ter uma visão mais clara do horizonte, afirma o gestor, ressaltando ainda ser sempre melhor entrar em momentos de queda das taxas (que se refletem em alta dos preços dos títulos).

De toda forma, para o investidor que não tem produtos bancários na carteira, Iversson assinala que, ainda que os riscos sejam relevantes, as taxas praticadas já são interessantes para carregar os papéis, especialmente contando com a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), no valor de até R$ 250 mil. Mas vale estar ciente que os prêmios ainda poderão aumentar, caso os riscos não sejam dissipados.

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