Bitcoin dobrou de preço em oito meses, mas analistas dizem: está barato. O que motiva tanto otimismo?

Criptomoeda saltou mais de 80% em 2023 e 100% desde novembro, mas potencial ainda está longe de ser alcançado, afirmam especialistas

Paulo Barros

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Em meio à falência da corretora de criptomoedas FTX, até então uma das maiores do mundo, o Bitcoin (BTC)  chegou a ser negociado a US$ 15.500 em meados de novembro de 2022. Aquele preço, hoje se sabe, era o “fundo do poço” do mercado: de lá para cá, a moeda digital passou por uma disparada de 100%.

Nesta sexta-feira (14), o BTC opera a cerca de US$ 31.000, consolidando uma forte recuperação em 2023. Mas, quem ficou de fora do movimento realmente perdeu a chance de navegar a retomada? Analistas que acompanham esse mercado apostam que não — e o motivo, dizem, é um evento programado no código do ativo digital.

Trata-se do halving, acontecimento que marca o corte pela metade na emissão do Bitcoin a cada 10 minutos: começou com 50 BTC em 2009, depois passou para 25 BTC e, então, para 12,5 BTC. Atualmente, a emissão está em 6,25 BTC a cada 10 minutos. Em abril de 2024, cairá para 3,125 BTC.

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“Essa programação é importante para o Bitcoin porque uma das grandes críticas às moedas [convencionais] é que o banco central emite muita moeda”, explica Alexandre Vasarhelyi, sócio da gestora BLP Crypto, que abriu o primeiro fundo de criptomoedas do Brasil, em 2018, em entrevista ao Cripto+ (confira a íntegra no vídeo acima).

Atualmente, a inflação do Bitcoin é de cerca de 1,7%, número que vai cair pela metade a partir de abril. “Depois do halving vai cair para 0,85%. O que isso quer dizer? O banco central americano diz que 2% de inflação é mais ou menos o aceitável, então o Bitcoin hoje já tem inflação menor menor que o aceitável, e vai ser ainda menor”, detalha o gestor.

Qual é o potencial de alta?

O Bitcoin tem um histórico de fortes disparadas antes e, especialmente, após o halving:

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Qual é o potencial de alta após o próximo halving?

A gestora Metrix relembra que os últimos halvings inauguraram períodos duradouros de forte alta, colocando grande expectativa para o evento de 2024. Dessa forma, aliado à recuperação do mercado após a correção do ano passado, o próximo halving apontaria para o início de um novo ciclo de alta da criptomoeda.

“Em ano de halving, o Bitcoin pelo menos renova sua máxima histórica antes”, relembra Bernardo Bonjean, fundador da Metrix, que tem um fundo quantitativo de cripto. A máxima histórica atual do Bitcoin é US$ 69.000. “Nos 12 meses seguintes ao halving, o Bitcoin tem uma disparada que, se acontecer de novo, pode levar o preço para perto de US$ 100 mil”, aposta.

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A previsão está em linha com a projeção de outras casas. Em relatório divulgado nesta semana, o banco britânico Standard Chartered revisou seu preço-alvo da criptomoeda para US$ 120.000 até o final de 2024, ou seja, um salto de cerca de 300% frente ao preço atual.

Outras projeções são ainda mais audaciosas, sendo uma das mais famosas a da Ark Invest, da “guru” dos investimentos em inovação, Cathie Wood. Com base na tese da escassez programa, a Ark projeta o Bitcoin a US$ 680 mil até 2030 (ou seja, dois anos depois do halving de 2028) em um cenário apontado como “conservador”. Em relação ao preço de hoje, o valor representaria uma valorização de 2.100%.

Fator BlackRock

O otimismo tem relação com o halving, mas sobretudo com a expectativa de maior demanda pelo Bitcoin após os Estados Unidos ganharem seu primeiro ETF (fundo de índice) com exposição direta ao criptoativo. O assunto ganhou força após a BlackRock apresentar, no mês passado, um pedido para listar um produto do tipo.

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“A gente sabe que os investidores institucionais têm muita dificuldade em comprar Bitcoin, mas na hora em que há um ETF, o pool de compradores aumenta em ordens de grandeza”, comenta Vasarhelyi.

O movimento do Bitcoin em 2023 já pode estar refletindo esse otimismo com a entrada de institucionais em Bitcoin.

Em relatório, a Binance Research aponta que o pedido da BlackRock gerou uma enxurrada de pedidos de outras instituições tradicionais, como Fidelity e WisdomTree, além Invesco, VanEck e a própria ARK Invest, “despertando confiança e otimismo no amadurecimento do mercado de Bitcoin, percebido como um sinal para legitimar
a indústria”.

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Esses elementos, na avaliação do gestor da BLP, tornam o salto de 100% do Bitcoin em oito meses irrelevante do ponto de vista do investidor que perdeu o movimento. “A tese é simples: se você acha que o Bitcoin tem futuro como possibilidade de moeda, o preço [de compra] tanto faz se é US$ 20.000 ou US$ 30.000”.

Paulo Barros

Editor de Investimentos