Bolsa azeda com Trump e cenário doméstico: é hora de comprar ações?

Em meio às quedas recentes da Bolsa, gestores de recursos e de patrimônio estão aproveitando preços mais deprimidos para aumentar exposição ao mercado acionário

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – A sequência de três pregões de queda entre os dias 9 e 13, que levou o Ibovespa a cair 4,05%, para 91.726 pontos ontem, despertou mais temores sobre o futuro do mercado acionário, de um lado, e interesse em aproveitar os preços mais baixos para compra, de outro.

Em dia de leve retomada da Bolsa, gestores de recursos e de patrimônio disseram ao InfoMoney que estão de olho nos preços mais deprimidos para aumentar a exposição ao mercado acionário. As tensões com a cena política brasileira e as preocupações com a disputa comercial entre Estados Unidos e China permanecem no horizonte e ainda são vistas como fonte de incerteza, mas o momento está favorável para compras de ações de empresas de qualidade.

“Estou cauteloso em relação ao aspecto político, mas acho que os preços já tiveram uma correção. Estou comprando, ampliando algumas posições, gastando o caixa”, diz Wagner Salaverry, sócio responsável pela gestão da renda variável da Quantitas. “Os preços estão favoráveis.”

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Petrobras e Banco do Brasil respondem hoje pelas maiores posições da casa, mas, na margem, a Quantitas tem aproveitado para reforçar as compras de Movida, Embraer, Gerdau e Odontoprev. A percepção é de que, com o Ibovespa perto dos 90 mil pontos, a Bolsa já passou por uma “boa correção de preço” e há uma sinalização de que o segundo trimestre está sendo mais favorável às empresas.

Apesar do investimento, Salaverry destaca que os acontecimentos políticos e internacionais mais recentes deram um alerta amarelo nos mercados, em meio ainda a uma percepção de temporada de resultados brasileiros mais fracos e sucessivas revisões nas projeções de alta do PIB, além de preocupações com a articulação política do governo necessária para se aprovar a reforma da Previdência.

“Com um governo que não consegue formar maioria na Câmara, o calendário de reforma fica nebuloso. O mercado está mais desconfiado e até colocando no cenário a probabilidade de que [a reforma] não vai ocorrer”, diz o gestor.

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A Novus Capital está monitorando o cenário para decidir o melhor momento para aumentar a alocação em Bolsa. “Estamos avaliando voltar a aumentar a posição comprada em Bolsa, olhando mais para o índice [Ibovespa], para focar na liquidez. O ambiente está mais volátil agora”, diz Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor de portfólio de renda fixa.

O preço do mercado de ações é tido como “muito bom”, mas a gestora quer ter mais clareza de que a cena política está avançando e acompanhar o desenrolar do ambiente externo para tomar uma decisão.

Pânico = oportunidade

Já a Rico Investimentos não quis aguardar. A corretora aproveitou o “pânico” de ontem para aumentar a exposição em ações. “Aproveitamos uma parte do caixa (que deixamos na carteira justamente por esperar um maio difícil) e também a alta de 140% das puts (opções de venda) de Ibovespa que colocamos na carteira em maio para comprar algumas ações que caíram bastante no curto prazo”, afirmaram Thiago Salomão e Matheus Soares, analistas da Rico.

A casa elevou a exposição em CVC e Sabesp, ações que caíram 15,60% e 11,62%, respectivamente, entre os dias 9 e 13 de maio, e incluiu os papéis da Gerdau na carteira, depois de um recuo de 4,76% no mesmo intervalo.

“Acreditamos que, no curto prazo, as condições de mercado tendem a piorar antes de melhorar. Contudo, gostamos da ideia de comprar ‘com desconto’ ações de empresas de qualidade e com expectativa de bons resultados no médio e longo prazo”, reforçaram os analistas, em relatório a clientes.

Para Marcos Papaterra, sócio da gestora de patrimônio Tag Investimentos, a queda recente da Bolsa está mais associada à aversão ao risco mundial, em meio à guerra comercial entre EUA e China, do que às notícias negativas do Brasil.

“Esses fatores externos fazem com que a bolsas pelo mundo sofram no curto prazo e é uma boa oportunidade de entrada, principalmente na bolsa brasileira, que está no começo de um ciclo de tentativa de recuperação econômica”, diz.

Segundo ele, o único fator que poderia derrubar a Bolsa do patamar atual seria uma “implosão interna” na reforma da Previdência, isto é, sua rejeição completa pelo Congresso. “Temos mais possibilidade de ganho do que de perdas na bolsa brasileira”, afirma.

As posições no mercado acionário nas carteiras de clientes da Tag foram aumentadas há um ano e meio com as perspectivas de melhora econômica e juros baixos. O call é de alocação em renda variável acima da média, mantendo um viés de longo prazo.

Classe política subestimada

Já Michael Gagliardi, sócio da G5 Partners, destoa do grupo e não enxerga a Bolsa barata. “O momento é para se estar otimista, mas com uma posição pequena, porque há muita incerteza pela frente”, alerta.

O gestor de patrimônio destaca que, pelo segundo ano, o mercado projeta um crescimento econômico extremamente otimista para depois terminar o período de “forma pífia”. “Não enxergávamos de onde viria esse crescimento. No crédito, a capacidade ociosa é grande, então como serão feitos investimentos se o crédito não está se expandindo?”, questiona.

A G5 já vem há algum tempo trabalhando com um cenário pior para o PIB brasileiro. Gagliardi avalia que as discussões sobre a reforma da Previdência já sinalizavam que a aprovação não seria um jogo fácil, mas o mercado subestimou a classe política brasileira. Segundo ele, a reforma é importante, mas não é suficiente para melhorar a percepção para a retomada da economia. “Esse cavalo mágico da reforma da Previdência a gente não tinha comprado.”

A SPX também informou, em carta aos cotistas, que zerou a exposição direcional comprada da carteira em Bolsa e que seguiu alocada em empresas dos setores de óleo e gás e utilities contra o Ibovespa.

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