Como ganhar dinheiro na bolsa, mesmo em épocas de crise

Além da capacidade de analisar e selecionar boas empresas, existe outro aspecto que pode impactar de forma importante os investimentos: o comportamental

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – Ganhar dinheiro no mercado de ações não é uma tarefa simples. É preciso escolher bons papéis e para isso é importante fazer uma análise profunda dos fundamentos da empresa – claro, caso você esteja pensando em investir no longo prazo, sem especular.

Se a bolsa estiver passando por um momento de crise é ainda mais complicado. Com a maioria das ações caindo, apenas quem seleciona muito bem os ativos consegue ganhar dinheiro, certo? Pois às vezes nem esses investidores têm sucesso. Isto porque além da capacidade de analisar e selecionar boas empresas, existe outro aspecto que pode impactar de forma importante os investimentos: o comportamental.

Para o sócio-fundador da Mint Capital, Cássio Beldi, é aí que mora a importância de entender sobre finanças comportamentais. “Todo mundo concorda que o ideal é comprar na baixa e vender na alta. O que acabamos fazendo, por causa da ganância? Compramos na alta e vendemos na baixa. O mercado está subindo e você resolve comprar. O problema é que aí já subiu tudo e o preço começa a despencar. Você fica com medo e vende tudo. É o efeito manada”, diz Beldi.

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Ou seja, mesmo que você tenha um bom método de análise de ações, para ganhar dinheiro na bolsa em épocas de crise é necessário controle das próprias emoções. Na Mint, os gestores aliam os conceitos do value investing (investimento de valor, que busca ações com um preço menor do que realmente valem) com bahavior finance (finanças comportamentais). Com esta estratégia, o fundo vem garantindo um bom rendimento nos últimos anos. Nos últimos 24 meses, o fundo de ações da casa rendeu 20,61%, ante queda de 7% do Ibovespa. Se olharmos um horizonte maior, a diferença do fundo para o principal índice da bolsa é ainda maior: enquanto o Ibovespa recuou 23,23%, o fundo acumula alta de 19,39%.

Apesar de toda eficácia da estratégia de valor, usar apenas este conceito de investimento pode não ser eficaz, já que o mercado não é sempre eficiente: as pessoas agem por impulso, motivadas pelo medo, ganância e outros sentimentos que impactam suas aplicações na bolsa de valores. “A parte psicológica, de racionalidade, influencia muito todo o processo decisório”, ressalta o sócio da Mint, Rafael Campos.

Viés de comportamento
Entender e controlar as emoções é fundamental para o sucesso neste mercado, principalmente em momentos de maior turbulência. Por isso, os gestores alertam sobre alguns comportamentos que impactam o desempenho dos investidores. Um deles é justamente a ‘aversão a perdas’, comum em praticamente todos os investidores. “Existem estudos que mostram que sofremos duas vezes mais quando perdemos do que ficamos alegres quando ganhamos. Por isso o medo é tão relevante no mercado financeiro e é capaz de gerar o efeito manada”, explica Beldi.

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A ‘autoconfiança’ é outro comportamento que pode prejudicar os investidores da bolsa. “Uma pesquisa americana com gestores de fundos mostra que 80% se acham acima da média. Isso é matematicamente impossível. E olhando os fundos dos EUA, menos de 50% bateram o S&P 500 nos últimos anos. Quem se acha acima da média tende e ser arrogante e assim tem mais chances de errar. Por isso é importante ter humildade para aceitar que existem muitas coisas que não entendemos”, diz Beldi.

Outro viés comum no mercado é o ‘discurso de consenso’. “Alguns analistas preferem errar com todos os outros, recomendando as mesmas ações, do que arriscar uma recomendação diferente”, afirma Beldi. Estudos também apontam que este comportamento é comum nos humanos – na maioria das vezes, a opinião da maioria acaba influenciando as nossas decisões, inclusive quando se trata de investimento.

A ‘futurologia’ também é comum no mercado de renda variável. Muitos profissionais arriscam ‘palpites’ sobre indicadores e possíveis rumos da bolsa, mas sem nenhum tipo de fundamento. São verdadeiras apostas, que podem ou não ser concretizadas. “É impossível prever o futuro”, lembra Rafael Campos.

Por fim, um último comportamento que provoca decisões equivocadas nos investimentos é o viés de ‘autoridade e confirmação’. Neste caso, buscamos informações que confirmem que nossa teoria sobre determinado assunto está correta, para nos sentirmos melhores e continuarmos agindo daquela maneira. Se alguma ‘autoridade’ no assunto confirmar determinada informação, existe a tendência de acharmos que ela é realmente verdadeira, o que nem sempre é verdade.

Para os gestores da Mint, entender que estes comportamentos existem e influenciam as decisões de investimento é fundamental para ganhar em um mercado como a bolsa de valores. “Esses comportamentos criam oportunidades, pois geram distorções de preços que nós tentamos aproveitar”, conclui Beldi.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip