“Selic baixa veio para ficar, mas isso não vai beneficiar a bolsa”, diz analista

Mesmo com a taxa Selic baixa, a bolsa de valores brasileira está cada vez menos atrativa

Arthur Ordones

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SÃO PAULO – A taxa de juros brasileira, que há menos de dois anos estava em 12,5% ao ano, chegou ao seu menor patamar histórico, de 7,25% a.a, após o ciclo de afrouxamento monetário realizado pelo Banco Central. Apesar da alta de 0,25 ponto percentual ocorrida na última quarta-feira (17), que elevou a taxa para 7,5% ao ano, ela continua baixa para os padrões brasileiros – a Selic já chegou ao nível de 45% ao ano.

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Um dos efeitos da queda dos juros é o crescimento da economia. Com juros mais baixos, as pessoas consomem mais, as empresas crescem e a economia também avança. Outro efeito, ainda que secundário, é a maior atratividade do investimento em bolsa de valores. Como as aplicações mais conservadoras têm o rendimento baseado na Selic, se esta estiver muito baixa, é natural que o investidor aceite correr mais risco no mercado acionário. No entanto, mesmo com a taxa Selic a 7,25% ao ano, o crescimento econômico do País decepcionou (no ano passado, o PIB cresceu apenas 0,9%) e a bolsa não consegue andar.

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De acordo com Paulo Esteves, analista da Gradual Investimentos, o culpado disso é o próprio governo, que precisa mudar seu foco e suas prioridades, pois ele privilegia muito o crescimento da renda e do consumo, enquanto deveria estar mais focado nos investimentos, algo que está totalmente abandonado no Brasil. “O projeto econômico brasileiro está ancorado em cima do consumo e críticos dizem que isso está se esgotando. O Brasil precisa passar por um projeto de crescimento econômico voltado a investimentos, porque isso vai atrair investidores para o mercado acionário”, explicou.

Para o analista, sem essa mudança de foco, não há patamar da Selic que mude o cenário da bolsa no Brasil. “Essa nova fase do Brasil de juros baixos veio para ficar, mas, apesar de existir uma tendência clara e irreversível da renda fixa para renda variável, existem muitos obstáculos no caminho. O investidor tem que entender esse novo mercado, porque ele não é algo que se assemelha da noite para o dia e isso faz com que a mudança não seja imediata”, completou.

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Intervenções
Ainda segundo Esteves, os principais obstáculos que prejudicaram (e ainda estão prejudicando) o bom andamento da bolsa são as intervenções do governo. “Pelo fato do mercado acionário ser arriscado, o investidor busca previsibilidade de retorno, mas, quando o governo vem e interfere, o risco aumenta muito, junto com a incerteza no mercado. Tudo isso piora ainda mais a aversão a risco, que já está elevada por conta dos fatores externos”, disse Paulo.

Clodoir Vieira, economista-chefe da Corretora Souza Barros, também compartilha dessa visão. “O culpado de tudo isso é o governo com suas interferências na economia, na bolsa de valores, no setor elétrico. Foi exatamente o que acabou derrubando o índice. O setor elétrico foi o que mais derrubou a bolsa e, ainda por cima, o setor de commodities também não está ajudando a dar uma reação no mercado.”

“Quando a bolsa estava com uma campanha forte, os investidores estavam vindo, mas a partir de 2010, a bolsa não está tendo rentabilidade e o investidor está se sentindo muito inseguro de entrar no mercado de renda variável. A bolsa não dá segurança nenhuma, afinal, você nunca sabe qual será aproxima intervenção do governo”, finalizou.