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Investir seguindo princípios religiosos? Sim, essa alternativa existe nas bolsas dos Estados Unidos – e a partir desta quarta-feira (14) estará disponível também para os investidores na B3.
Trata-se do Global X S&P 500 Catholic Values ETF, um fundo de índice (ETF) global que passará a ter suas cotas negociadas na B3 na forma BDRs (Brazilian Depositary Receipt), que são recibos de ativos listados no exterior. Sob o código BCAT39, o ETF exclui da sua estratégia de investimentos empresas envolvidas em atividades consideradas inconsistentes com os valores católicos, conforme estabelecido pela Conferência dos Bispos Católicos dos EUA.
O BCAT39 é um dos últimos lançamentos da gestora americana Global X no Brasil neste ano. Concorrente da BlackRock, a gestora aterrissou no mercado local em abril e listou 27 BDRs de ETFs até outubro na B3. Ela deve fechar o ano com 30 ativos da categoria, considerando os três lançamentos desta quarta.
Além do ativo que leva em conta valores católicos, dois BDRs de ETFs que permitem geração de renda mensal com ações preferenciais americanas também estrearão no Brasil, segundo informação antecipada ao InfoMoney.
Segundo Rodrigo Araújo, estrategista-chefe de investimentos da Global X ETFs para América Latina, ações preferenciais oferecem historicamente um alto potencial de rendimento para os investidores. “Pode ser uma opção para investidores que desejam aumentar o rendimento de seus portfólios e, ao mesmo, tempo diversificá-lo”, diz.
Araújo destaca que o objetivo da gestora é dar cada vez mais acesso para os brasileiros aos investimentos globais “Lá fora, temos 101 ETFs e trouxemos 30 para cá. A ideia é que ao longo dos próximos meses e anos continuemos trazendo mais instrumentos que facilitem o investimento internacional”, afirma.
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A gestora tem cerca de US$ 40 bilhões sob gestão em ETFs globais. O plano para os próximos cinco anos no Brasil é atingir US$ 5 bilhões de patrimônio gerido no País – considerando BDRs de ETFs listados na B3 e ETFs que são adquiridos por investidores locais diretamente lá fora.
Todos os BDRs de ETFs estarão disponíveis para o investidor pessoa física. Confira os detalhes na tabela abaixo:
ETF Original | Ticker do BDR de ETF na B3 | Ticker do ETF nos EUA |
Global X U.S. Preferred ETF | BPFR39 | PFFD |
Global X Variable Rate Preferred ETF | BPFV39 | PFFV |
Global X S&P 500 Catholic Values ETF | BCAT39 | CATH |
Fonte: Global X
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A composição da carteira do BCAT39
O BDR BCAT39, espelha o ETF Global X S&P 500 Catholic Values (CATH), que, por sua vez, replica o desempenho do índice S&P 500 Catholic Values.
Segundo Araújo, o índice é uma adaptação do índice S&P 500 – que reúne as maiores empresas de capital aberto dos Estados Unidos – excluindo companhias que exerçam atividades não alinhadas com valores católicos, como entretenimento adulto, armas biológicas, químicas ou nucleares, trabalho infantil, aborto e até contraceptivos ou uso de células tronco embrionárias.
A metodologia do índice informa que ele é desenhado “para investidores que não desejam violar as normas religiosas em suas estratégias de investimento passivo”.
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De acordo com a Global X, recentemente a Conferências dos Bispos sinalizou também a sua preocupação com o combate às mudanças climáticas, ou seja, empresas que não melhorem suas práticas em relação ao clima, podem ser removidas do índice. “O CATH permite que investidores comprem e vendam uma ampla cesta de ações dos EUA, que seguem os valores católicos, com a eficiência fiscal de um ETF”, aponta Araújo.
Araújo explica que o índice reúne 441 ações, já considerando os critérios de exclusão, e que tem como estratégia preservar a distribuição setorial dos ativos, semelhante à composição do S&P 500. Até o final de novembro, por exemplo, o setor com maior peso era o de tecnologia, com 26,5%, seguido por cuidados da saúde (health care) com 15,2% de peso e o financeiro com 11,6%. Estão na carteira empresas como Apple, Microsoft, Berkshire Hathaway e até a Tesla.
BPFR39 e BPFV39 para receber renda mensal
Assim como as ações preferenciais brasileiras, os ativos americanos desse tipo, conhecidos como preferred stocks, dão prioridade na distribuição de proventos aos acionistas e não oferecem direito a voto.
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Segundo Araújo, no entanto, estas ações podem ser consideradas investimentos híbridos, porque reúnem algumas características presentes nos investimentos de renda fixa. É o caso do pagamento de dividendos recorrentes, da existência de um valor de face – ou seja, elas contam com um valor a ser resgatado no final do investimento – além de envolverem risco de crédito. “São características muito próximas a um bond [título de renda fixa no exterior]”, explica.
Por outro lado, como continuam sendo ações, as preferred stocks também são negociadas diariamente nas bolsas, estão expostas a apreciação e depreciação no mercado e, em caso de recuperação judicial, possuem preferência antes das ordinárias (commom stocks).
Diferentemente do visto no Brasil, Araújo explica também que os dividendos das ações preferenciais americanas podem seguir três formas de remuneração. Podem ser fixos, entregando todo mês uma taxa ao acionista; flutuantes, sendo ajustados conforme algum indicador, como uma taxa de juros; ou variáveis, mesclando as duas formas anteriores.
Estas estratégias são assimiladas pelos BDRs BPFR39 e BPFV39. O primeiro é um recibo do ETF Global X U.S. Preferred (PFFD), que replica o índice ICE BofA Diversified Core U.S. Preferred Securities. Sua estrutura reúne ações preferenciais de instituições como os bancos Wells Fargo e Citigroup, além de outras companhias do segmento de utilities (serviços básicos), comunicações, real estate, consumo discricionário, indústria e energia.
O BPFR39 tem na sua estrutura ações que pagam dividendos fixos (75,62%), flutuantes (4,07%) e variáveis (20,30%). Fazendo uma analogia com títulos de renda fixa, por exemplo Araújo, explica que em tempos de juros em alta, dividendos flutuantes e variáveis acabam se beneficiando porque eles podem ser ajustados pelas taxas do mercado. Em contrapartida, os dividendos fixos acabam sendo menores. Por mesclar as três classes de remuneração, no entanto, o ETF proporciona rendimentos em diferentes cenários.
Quando o ciclo se inverte e os juros caem, por exemplo, os 75,62% de ações com dividendos fixos oferecem retornos maiores. “O PFFD pode atrair investidores que desejam manter um maior potencial de renda e, ao mesmo tempo, reduzir seu risco durante um período de aumento das taxas”, destaca Araújo.
A frequência de pagamentos do PFFD é mensal. Nos últimos 12 meses, o retorno em dividendos (dividend yield) foi de 6,55%. No acumulado de 2022, o yield chega a 6,10%.
Já o segundo BDR, o BPFV39, espelha o ETF Global X Variable Rate Preferred (PFFV), que replica o índice ICE U.S. Variable Rate Preferred Securities Index. A estratégia é semelhante, com concentração em preferred stocks. A diferença, segundo Araújo, é que este ativo reúne mais ações com dividendos variáveis e flutuantes, beneficiadas em períodos de juros em elevação.
O PFFV também paga dividendos mensais. Nos últimos 12 meses, entregou um dividend yield de 6,59%. Já no acumulado do ano, o retorno é de 6,09%.
Como é o pagamento de dividendos em BDRs de ETFs?
Embora os ETFs ainda não paguem proventos no Brasil, por se tratar de BDRs lastreados nas cotas de fundos de índices, o investidor terá direito a receber os dividendos pagos pelos ativos originais na sua conta em reais, já considerando a conversão do câmbio e eventuais taxas de impostos descontadas na fonte.
Segundo a Global X, os ETFs PFFD e PFFV são negociados nos Estados Unidos, por este motivo, o imposto sobre a distribuição de dividendos é de 30%, retido na fonte. Além deste desconto, o dividendo está sujeito ainda a uma taxa da instituição responsável por emitir o BDR. Segundo o Banco B3, a retenção para o dividendo pago pelos BDRs BPFR39 e BPFV39 seria de 3%. Em média, o investidor estaria recebendo, 67% do dividendo pago no final.