“Acho que Lula vai surpreender e será mais prudente com o orçamento”, diz Mark Mobius

Conhecido como "guru dos emergentes", Mobius se prepara para ampliar investimentos no Brasil com ações de empresas de software, educação e saúde

Mariana Segala

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Conhecido como “guru dos emergentes”, o investidor Mark Mobius espera efeitos positivos para a economia brasileira no próximo governo, capitaneado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em sua visão, o presidente eleito “vai surpreender” e será “mais prudente na forma como vê o orçamento”.

“A boa notícia é que a ênfase será nos pobres, como foi na sua administração anterior, o que será muito bom para a economia”, disse Mobius, sócio-fundador da Mobius Capital Partners, em entrevista ao InfoMoney.

Em sua visão, dados os desdobramentos da Lava Jato e a evidência que a operação recebeu nos últimos anos, é improvável que novos escândalos tenham espaço no novo governo. E mesmo que bancos públicos, como o BNDES talvez elevem a concessão de crédito, o setor privado está tendo uma participação cada vez maior no segmento, o que beneficia todo mundo.

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Por essas e outras, Mobius diz que não há razão para ceticismo e está animado para investir mais em ações de empresas brasileiras. Atualmente, seu fundo – o Mobius Emerging Markets Fund – mantém posição em apenas duas companhias: Totvs (TOTS3) e Yducs (YDUQ3). Sua intenção é ampliar a exposição aos setores de educação e saúde.

Confira os principais trechos da entrevista abaixo:

InfoMoney: O senhor disse recentemente que estava esperando as eleições terminarem para voltar a investir no Brasil, e aqui estamos. Está comprando Brasil novamente?

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Mark Mobius: Estamos mantendo o que temos. Certamente não estamos vendendo, mas, como você sabe, os fluxos de recursos para os fundos de mercados emergentes não estão altos. Ainda não está vindo muito dinheiro, então acredito que quando o fluxo voltar, aumentaremos o que temos no Brasil, definitivamente.

IM: Em que empresas seu fundo investiu no Brasil nos últimos quatro anos?

Mobius: Investimos na Totvs, nessa área, também na área de software. De um modo geral, gostamos de empresas de software e de educação. Agora, estamos olhando mais de perto para a área médica, exames médicos, entre outros. Portanto, temos vários interesses diferentes que queremos analisar.

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IM: Nos segmentos de educação e saúde, em quais empresas seu fundo está investindo?

Mobius: Ainda não investimos em saúde, mas estamos olhando toda essa área porque achamos que, no final das contas, ela pode ter um crescimento muito interessante no Brasil. Dado o fato de que a renda per capita está subindo, assim como o interesse por cuidados com a saúde e hospitalares está aumentando, esse é um setor muito importante para analisarmos. Mas ainda não escolhemos nenhum nome específico.

Estamos na Yducs, companhia de serviços educacionais que oferece cursos técnicos, de pós-graduação, mestrado e outros programas relacionados.
Essas são as únicas duas empresas em que estamos agora. Daqui para frente, certamente olharemos para algumas outras possibilidades, mas sem nomes específicos neste estágio.

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IM: A corrida eleitoral foi bastante apertada no Brasil. O que o senhor espera do próximo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva?

Mobius: Acho que Lula vai surpreender no sentido de que não se sair tão mal, não será tão exagerado nos gastos. Acho que vai ser mais prudente na forma como vê o orçamento. E acho que a boa notícia é que a ênfase será nos pobres, como foi na sua administração anterior. Isso seria muito bom para a economia. Em outras palavras, vai tentar colocar dinheiro nas mãos de pessoas muito, muito pobres do Brasil.

Outra boa notícia é que por causa do escândalo da Lava Jato e tudo mais, é improvável que esse tipo de situação volte a acontecer, e isso significa que os gastos do governo serão muito mais responsáveis.

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Também gostamos da ideia de que, apesar de que o BNDES talvez aumente seus empréstimos, o setor privado está tendo uma participação maior no mercado de crédito. E isso, claro, é muito bom, porque o setor privado tende a fazer empréstimos mais sensatos. Isso seria bom para a economia de modo geral.

Acho que Lula será limitado de alguma forma pelo Legislativo no que ele poderá fazer. Mas, ao mesmo tempo, acho que ele gastará muito dinheiro em infraestrutura para ajudar os pobres, o que seria bom para a economia em geral.

IM: No Brasil, os agentes do mercado estão bastante céticos em relação ao governo Lula.

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Mobius: Eu não estou cético. Se você olhar para o passado, lembro que sempre que Lula ia ser eleito, todo mundo ficava com medo. Diziam: “Oh, Deus, vai ser uma coisa terrível”. Mas descobriu-se que não era o caso. Ele ele era muito melhor para os negócios do que as pessoas esperavam.

Percebeu-se, no primeiro turno das eleições, que Bolsonaro se saiu melhor do que o previsto, com uma diferença menor e inesperada em relação a Lula do que as pesquisas sugeriam. No segundo turno, Lula superou Bolsonaro por uma pequena margem. Isso significa que as políticas de Bolsonaro ainda são bastante populares. E por isso vai ser muito difícil para Lula se afastar muito das políticas mais conservadoras de ambos.

Além disso, no primeiro turno foi eleito um Congresso mais pró-mercado, no geral, com os escolhidos para a Câmara e o Senado. Essa composição do Congresso deve limitar políticas pouco ortodoxas nos próximos anos.

Também devemos lembrar que as eleições dos governadores dos grandes estados, nas principais regiões que representam uma grande porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB), também são uma exibição para Bolsonaro.

Acho que todos esses indicadores apontam para o fato de que Lula não vai conseguir ser irresponsável nos gastos, o que será bom.

IM: Então, na sua opinião, não há razão para estar cético neste momento?

Mobius: Exatamente. Também é preciso lembrar que agora existem vários impedimentos legais e específicos por má gestão de empresas controladas pelo governo, incluindo a atribuição de responsabilidade a indivíduos pelas decisões nessas companhias. Portanto, isso limitará os indicados políticos e impedirá a manipulação das empresas estatais.

IM: A esse respeito, as ações de empresas estatais, como Petrobras e Banco do Brasil, têm sido penalizadas na Bolsa. É melhor ficar fora desse tipo de empresa?

Mobius: A Petrobras vem vendendo ativos não essenciais e quitando dezenas de bilhões em dívidas. Está se ornando uma das maiores pagadoras de dividendos do mundo, então, estou francamente intrigado com isso. A Petrobras está fazendo a coisa certa, é provavelmente uma ação muito boa e está ficando muito melhor por causa dessas políticas.

IM: O mercado teme que essas políticas sejam alteradas.

Mobius: Eu duvido muito. Duvido que isso aconteça. Por causa da história da Lava Jato e todos os outros problemas, e a legislação que veio sendo criada desde então. Seria muito difícil que no curto prazo voltasse a se repetir esse tipo de situação. Não acho que isso aconteceria.

A boa notícia é que você tem no Lula um cara que quer muito favorecer a população de baixa renda, e isso é algo muito, muito bom. É disso que o país precisa. Mas ao mesmo tempo, você está tendo uma política fiscal mais responsável e conservadora.

IM: O que o senhor acredita que falta para seu fundo voltar a investir mais fortemente no Brasil?

Mobius: Provavelmente, acontecerá no início do ano que vem. Estamos quase terminando este ano, e acho que no início de 2023 você verá um retorno aos mercados emergentes novamente. Até lá, acho que toda a incerteza em relação às taxas de juros e outros fatores terão passado e as pessoas perceberão que precisam voltar a investir. Não apenas em mercados emergentes, mas no geral.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney