2023 será “ponto de virada” nos mercados? UBS aposta que sim – mas ativos defensivos ainda são preferência

Banco vê perspectiva de valorização de moedas de países com taxas de juros elevadas e crescimento econômico mais sólido, como o real no ano que vem

Bruna Furlani

(Getty Images)
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A chegada de 2023 traz consigo uma série de dúvidas para o radar dos mercados. A única certeza que os analistas do banco UBS possuem é de que o ano que vem será de “inflexões”, ou pontos de virada.

Na avaliação dos especialistas da instituição, a dinâmica inflacionária e as taxas de juros devem se manter elevadas ao longo de boa parte do ano que vem, o que deve adicionar volatilidade aos mercados.

Porém, é importante que investidores permaneçam com alocações mais voltadas para o longo prazo e com exposição a ativos de risco para que os portfólios não fiquem para trás, quando o mercado começar a antecipar o ponto de virada, avaliam os analistas.

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No cenário-base do banco (50% de probabilidade), a expectativa é que a queda na inflação permita que o Federal Reserve (Fed, banco central americano), o Banco Central Europeu (BCE), o Banco Nacional Suíço (SNB, na sigla em inglês) e o Banco Central da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) terminem o ciclo de alta das taxas de juros no primeiro trimestre de 2023 – ou, no máximo, no segundo trimestre do ano que vem.

Na avaliação dos especialistas, a inflação nos Estados Unidos e na Europa pode encerrar 2023 bem próxima da meta de 2%, o que poderia motivar cortes na taxa de juros a partir do término do ano que vem. Com isso, os bancos centrais de tais países poderiam voltar novamente as atenções para o crescimento das economias e do emprego, além de considerar o início de um ciclo de corte de juros.

Ao comentar sobre a situação dos Estados Unidos, os analistas observam que as taxas de inflação parecem ter atingido o pico na comparação ano contra ano. Segundo eles, indicadores de inflação futura mostram que o crescimento dos salários, dos preços de novos aluguéis e dos preços de bens duráveis, por exemplo, estão quase todos apontando para baixo.

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A única ressalva é referente à inflação de serviços, que está mais pressionada. Os especialistas, no entanto, defendem que a escalada de preços do setor é impulsionada, em grande parte, pelos lucros, o que tende a ser um fenômeno temporário e incomum.

Alocações: ações de valor e defensivas entram em um primeiro momento

Ainda que o cenário-base projetado pelo banco envolva uma chance de virada no fim do ano, com a possibilidade de início do corte de juros, investidores devem privilegiar carteiras mais defensivas e focadas em ações de valor até lá, na visão dos profissionais do UBS.

Segundo os especialistas, setores mais defensivos atrelados a produtos básicos de consumo e cuidados com a saúde devem oferecer certa proteção em meio a expectativas de menor crescimento global. Da mesma forma, ações de valor podem ter um bom desempenho em ambientes de pressão inflacionária.

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“Taxas de inflação acima de 3% historicamente têm beneficiado ações de valor em detrimento de ações de crescimento, e nós esperamos que a inflação volte a cair para abaixo de 3% apenas no fim de 2023”, observam os especialistas.

Além disso, ações de valor costumam ter desempenho melhor do que papéis de crescimento em meio a períodos de aperto monetário. Segundo eles, dados históricos mostram que o desempenho pode ser até 4 pontos percentuais maior, em média, no caso de ações de valor, cerca de 12 meses depois que o Fed encerrou o ciclo de altas.

Ações ligadas ao setor de energia também tendem a apresentar um retorno positivo em 2023. Segundo os profissionais do UBS, a desaceleração econômica global tende a ser negativa para o setor, mas a casa acredita que o mercado de gás está com a oferta muito apertada e que isso será capaz de fazer com que os preços permaneçam elevados, mesmo se a demanda cair. Nos cálculos do banco, os preços dos papéis de energia estão com um desconto de cerca de 50% em relação à média dos últimos dez anos.

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Já mais para o fim do ano, a expectativa dos analistas é de que surjam oportunidades mais atrativas para comprar ações cíclicas e de crescimento, à medida em que o mercado começar a antecipar a queda da inflação e um crescimento mais forte da atividade.

Olho no dólar, real e ouro

Outro trunfo para o ano que vem pode estar em uma proteção em dólar. Para os especialistas, o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos e a desaceleração da economia global devem manter a moeda americana forte nos próximos meses.

Já para o fim do ano, a situação deve mudar. Os especialistas observam que a moeda americana já apreciou cerca de 16% nos primeiros dez meses de 2022, atingindo níveis vistos na metade da década de 1980. Nesse sentido, eles avaliam que a possibilidade de altas muito mais fortes deve ser menor.

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“Nós esperamos que o dólar atinja o pico assim que o Fed alcançar a taxa alvo e os investidores começarem a antecipar quando a atividade econômica global atingirá o seu ponto mais fraco. Nós acreditamos que essas condições serão atendidas no primeiro semestre de 2023”, afirmam os especialistas.

Para além do dólar, as perspectivas da casa estão positivas com moedas de outros países com taxas de juros elevadas e crescimento econômico mais sólido, como o real, peso mexicano e o rand, além de moedas como o franco suíço e o dólar australiano e canadense.

Já ao comentar sobre a alocação em ouro, que costuma ser muito buscada como forma de proteção por investidores, os especialistas avaliam que o momento não é oportuno para compra. Segundo eles, há uma expectativa de que o preço do metal caia para abaixo de US$ 1.600 por onça-troy no primeiro trimestre do ano que vem e que aumente para US$ 1.650 a onça-troy até o fim de 2023.

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“Pensamos que agora não é hora de comprar ouro, mas que é possível que uma oportunidade de adicionar o metal à carteira surja em 2023”, resumem os especialistas.

Atenção aos fundos multimercados

Outra classe que está no radar dos especialistas do UBS é a de fundos multimercados. No documento, eles destacaram que as alterações nas expectativas com relação à política monetária dos países devem ser o impulsionador mais importante dos mercados em 2023.

Nesse contexto, fundos multimercados com foco mais macro, em estratégias diversas ou neutros em mercados de ações podem ajudar a diversificar portfólios.