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11 ações americanas para diversificar enquanto os juros nos EUA permanecem elevados

Para valorização, ativos defensivos e que repassam inflação nos preços; para dividendos, há opções com retorno de até 4%

Katherine Rivas

(Paweł Szymczuk/Pixabay)

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O processo desinflacionário da economia americana já começou, mas ainda há um longo caminho de juros elevados a percorrer. A visão é de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano).

Juros altos não costumam ser boa notícia para o mercado de ações, que costuma sofrer quando as taxas estão elevadas. Mas é possível encontrar alternativas nas bolsas americanas para quem quer diversificar e investir lá fora?

De modo geral, os analistas dizem que as bolsas americanas não estão baratas. “O índice S&P 500 negocia a um múltiplo de preço sobre lucro [P/L] de 18 vezes, acima da sua média histórica de 16 vezes”, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP. Por outro lado, tampouco estão nos picos – o P/L do índice estava em torno de 23 vezes no final de 2021.

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A necessidade de diversificar a carteira de investimentos em moeda forte é um ponto de consenso no mercado, assim como a oportunidade de ter acesso a outros setores e a um maior número de empresas investindo no exterior.

Fora isso, analistas também argumentam que o mercado deve precificar o fim do ciclo de alta dos juros antes de o Fed interromper o aperto monetário de fato. Por isso, Raphael Rocha, analista de ações internacionais da Dica de Hoje Research, acredita que a bolsa americana começará a subir no segundo semestre do ano.

Dada essa soma de fatores, analistas dizem que é possível encontrar boas ações para comprar nos Estados Unidos, mas é recomendável fazer esse movimento nos momentos de baixa no mercado. Para Rafael Nobre, analista internacional da XP, o ideal é que o investidor faça aportes periódicos, sem se assustar com a queda dos mercados. “É possível que a gente veja o dólar perder força e a Bolsa americana cair. Mas no longo prazo, a tendência é de que os ativos apreciem e possam gerar retorno”, diz.

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A preferência na XP é por ações defensivas, dada a possibilidade de recessão nos Estados Unidos. Segundo Nobre, estudos indicam que em períodos recessivos as empresas têm uma queda média nos lucros de 12%, mas o consenso de mercado projeta um crescimento de 2% para as empresas americanas. “Os resultados das empresas vieram melhor do que esperado. Pode haver revisões baixistas em caso de recessão, mas não será agora”, avalia.

Por outro lado, há quem goste de se arriscar em empresas de tecnologia, desde que sejam identificados negócios dominantes com oportunidades de crescimento evidentes. É o caso de Gustavo Aranha, sócio da GeoCapital, que vê algumas techs com bons olhos para quem estiver disposto a carregar os ativos por pelo menos cinco anos.

Especialistas ouvidos pelo InfoMoney selecionaram 11 ações que podem representar boas oportunidades para quem quer investir diretamente nas bolsas americanas. Confira:

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De lítio a dividendos

Como um dos objetivos de investir no exterior é a diversificação, Rocha enxerga potencial no setor de lítio, que deve acelerar com a fabricação de baterias para veículos elétricos. Segundo o analista, a reabertura da China também vai beneficiar empresas do setor.

Ele cita a empresa Albemarle Corporation (ALB) – maior produtora de lítio no mundo, com operações nos Estados Unidos, Chile e Austrália – como uma oportunidade para quem busca valorização.  “É uma empresa de commodities, com dinâmica semelhante a Vale e Petrobras. Se o preço do lítio sobe, a ação acompanha, e vice-versa”, aponta.

A companhia, contudo, valorizou bastante nos últimos anos. Cotada atualmente a cerca de US$ 276, a ação da Albemarle já chegou a custar em torno de US$ 80. Mesmo assim, tem espaço para chegar aos US$ 300, seu preço justo, na avaliação de Rocha.

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“A companhia passa por uma fase de amadurecimento do investidor. Mas quando há queda, surge uma boa brecha de entrada”, reforça. Isso já aconteceu após declarações do empresário Elon Musk sobre o preço do lítio, que fizeram as ações cair.

Rocha explica que a companhia também paga dividendos crescentes há 28 anos consecutivos. Em 2022, pagou em torno de US$ 1,58 por ação. Mas o seu dividend yield (taxa de retorno com dividendos) é de apenas 0,55%, dado o preço elevado do ativo.

Outra ação que Rocha indica para estratégias de valorização é a Amazon (AMZN). Ele acredita que quando os juros caírem, a operação de varejo da companhia vai se beneficiar. Mas destaca as outras frentes, como cloud (nuvem), que vem crescendo em duplo dígito nos últimos anos. Fora as áreas de publicidade e serviços, como Amazon Prime e Amazon Music.

“A Amazon chegou a subir muito as despesas com operações e funcionários, mas está reduzindo estes gastos trimestre após trimestre. As ações seguem subindo bem”, destaca.

Para quem busca dividendos, Rocha apresenta duas opções: o JP Morgan Chase (JPM) e a Kraft Heinz (KHC).

Ele afirma que o JP Morgan foi penalizado em 2022 diante de uma possível recessão, mas apresentou sinais de recuperação deste outubro. Os juros elevados também acabam favorecendo a receita do banco.

“O banco paga cerca de 3% de dividend yield, enquanto a média de dividendos do índice S&P 500 é de 1,65% ao ano”, comenta. Os proventos do JP Morgan crescem há oito anos consecutivos. Em 2022, o banco chegou a pagar US$ 4 por ação no ano. O JPMorgan remunera os investidores trimestralmente.

A Kraft Heinz, por sua vez, tem também um dividend yield acima da média – projetado em 4% para 2023, segundo Rocha.  A empresa deposita proventos trimestralmente e, em 2022, chegou a entregar US$ 1,60 por ação. Enquanto a ação é negociada a 15 vezes seu lucro, os pares do setor chegam a 22 vezes, o que indica que está descontada, segundo o analista.

Se você lembra da Kraft Heinz por causa do ketchup, saiba que nos últimos anos a empresa de molhos adquiriu a brasileira Hemmer, também focada em condimentos, no intuito de expandir para mercados emergentes.

A 3G Capital, gestora de private equity de Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles, Carlos Alberto Sicupira, acionistas de referência na Americanas, também tem participação na Kraft Heinz. No entanto, Rocha destaca que a companhia tem uma operação diferente e conta com acionistas relevantes como Warren Buffett. Problemas contábeis aconteceram, mas ficaram no passado.

Rocha lembra que o investidor que deseja começar a investir no exterior não precisa gastar necessariamente US$ 100 ou mais para comprar uma ação, é possível também comprar pequenas frações dos papéis por valores menores. No entanto, a valorização e os dividendos recebidos também serão proporcionais a fração adquirida.

Telecom, saúde e holdings

Na XP investimentos, a preferência é por empresas defensivas. As big techs, por exemplo, não são contempladas pelo risco de sofrerem com os juros elevados.

No setor de saúde, Nobre cita a Zoetis (ZTS), que produz medicamentos para animais e é líder de mercado no seu segmento.

Segundo o analista, é uma tendência estrutural que as famílias tenham menos filhos e adotem mais pets, o que traz uma perspectiva de crescimento para a companhia. “O negócio é resiliente. Mesmo em recessão, ninguém deixaria de tratar o seu pet”, destaca.

Outra empresa citada é a Merck (MRK), que detém o quarto medicamento mais vendido do mundo para tratamentos de câncer. A companhia também atua com terapias biológicas e produtos para a saúde animal.

“É uma empresa que gera caixa recorrente e sólido, o que pode ajudar em caso de recessão”, aponta Nobre. Embora tenha valorizado nos últimos meses, a ação não é considerada cara.

No setor de telecomunicações, Jennie aponta a Verizon (VZ), uma telefônica americana. Além de ser provedora de internet, telefone e televisão, a companhia fornece serviços de voz, dados e entretenimento. Cerca de 70% da sua receita vem de clientes corporativos e 30%, do governo americano. “É uma empresa resiliente para compor a carteira”, diz a analista.

Ainda entre as opções estão a empresa de cartão de crédito American Express (AXP), focada no público de alta renda. Segundo Nobre, a vantagem é que essa faixa de renda continua consumindo mesmo quando a economia desacelera.

“A companhia também é muito focada em viagens. Com a reabertura da China, as pessoas vão viajar mais e a empresa surfará essa tendência”, destaca o analista.

Jennie cita ainda a Berkshire Hathaway (BRK), holding do megainvestidor Warren Buffett como oportunidade. A holding tem no seu portfólio companhias como Coca-Cola, American Express, Gilette e até Apple. Mas cerca de 80% das receitas vêm do setor de seguros e 20% do setor ferroviário e de geração de energia. “Comprar Berkshire Hathaway é como investir no S&P 500. Gostamos pela diversificação”, diz.

Os analistas reforçam que o investimento nestas companhias deve ter um horizonte de pelo menos cinco anos.

Empresas dominantes e techs

Entre as maiores posições do fundo da GeoCapital estão Alphabet (GOOGL), Visa (V) e Booking (BKNG).

Gustavo Aranha, sócio da GeoCapital, destaca que a Alphabet vem crescendo por conta da publicidade digital. “As empresas podem pensar em cortar a publicidade no Facebook, Instagram, TikTok, mas não farão isso no Google”, diz, destacando a resiliência da empresa mesmo em crises. Para Aranha, no patamar de US$ 105 ou menos, a ação está “muito barata”.

Embora no horizonte de longo prazo muitas inovações possam acontecer, Aranha acredita que a Alphabet tem capacidade de ter uma posição dominante. “É uma empresa muito bem gerida. Muitas vezes, se ela não criou um determinado novo negócio, ela compra”, aponta.

Já em relação à Visa, Aranha destaca que se trata de uma companhia protegida da inflação. Isso porque na hora de processar pagamentos, a Visa fica com uma parcela do gasto feito pelo consumidor. “Se você gasta mais na sua viagem ou no supermercado por causa da inflação, a receita da Visa sobe também”, diz.

Por ser o que Aranha chama de “uma grande fábrica de transações e pagamentos no mundo”, a Visa conquista clientes mesmo entre os novos bancos digitais, que precisam dela ou da Mastercard para processar pagamentos. Para ele, a Visa tem capacidade de se adaptar a inovações como o open finance.

A Booking, empresa de tecnologia de viagens, segue uma lógica semelhante. Por se tratar de uma empresa digital, sofre menos a pressão de custos e se beneficia mesmo quando existe inflação. Fora isso, Aranha lembra que hoje uma grande parcela dos consumidores buscam alternativas de hospedagem primeiro no Booking. “Se você tem um hotel, vai querer estar no Booking. É uma companhia dominante, com poder de preço e bem gerida”, diz Aranha.

E a tributação?

Segundo Cassiano Menke, doutor em Direito Tributário, ao comprar ações em uma corretora internacional, o investidor precisará declarar que possui o ativo adquirido no exterior.

Se receber dividendos, há Imposto de Renda, com alíquotas diferentes em cada país. Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxação é de 30%, retidos na fonte. No Japão é de 20%, na Alemanha é de 25% e na China, de 10%.

Segundo Menke, o imposto é recolhido de duas maneiras. No caso dos dividendos, deve ser pago com o carnê leão no mês em que forem creditados – e incluídos na declaração de ajuste anual. O advogado esclarece que alguns países contam com acordos bilaterais de não-tributação de rendimentos com o Brasil.

É o caso dos Estados Unidos. Dado que o imposto lá é de 30%, superior à tabela brasileira, um acordo prevê que não seja cobrado novamente em território nacional.

Já em relação ao ganho de capital obtido com as ações, Menke explica que existe isenção de imposto para vendas de até R$ 35 mil por mês.

Se superar este valor, o investidor deverá recolher imposto de acordo com a tabela progressiva, com alíquotas entre 15% e 22,5%, dependendo do tamanho da operação. Os valores devem ser recolhidos em até 30 dias.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.