Frustração e reembolsos: a saga dos torcedores e familiares que não poderão ir a Tóquio na Olimpíada

Estorno dos ingressos começou a ser feito na semana passada, mas devolução não será no valor total

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Os Chapolins, grupo de amigos que viajam juntos em todas as edições dos Jogos Olímpicos (arquivo pessoal)

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Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2021 serão diferentes de todos os outros, principalmente no que diz respeito à torcida. Os locais de competição terão suas arquibancadas vazias pela primeira vez, uma sensação de frustração tanto para os atletas, como para os próprios torcedores e familiares.

Muitos deles, inclusive, já tinham ingressos, passagens e hospedagem comprados. E agora, começam a ser reembolsados aos poucos, recuperando, ao menos, a parte financeira. É o que aconteceu com o grupo Chapolins Torcedores, e com Mafuxinha Monteiro, grande fã de vôlei de praia, além dos familiares dos atletas Hugo Calderano e Luisa Baptista.

Depois do adiamento da Olimpíada no ano passado, a indefinição sobre a presença de público perdurou até março deste ano, quando foi anunciado que apenas japoneses poderiam ir às arenas, sem torcedores estrangeiros. No entanto, um estado de emergência foi decretado em Tóquio na primeira semana de julho e, com isso, não haverá torcida alguma nos eventos.

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A medida era esperada por boa parte das pessoas, mas não deixa de causar frustração. No caso dos Chapolins Torcedores, eles começaram a comprar os ingressos ainda em 2019, durante os Jogos Pan-Americanos de Lima-2019. Segundo Saulo Próspero, Erik Ullysses e Gustavo Cardoso, membros do grupo, foram adquiridos cerca de 225 ingressos, o que representa aproximadamente R$130 mil.

“Foi um ano de muita apreensão e de muita expectativa de que tudo fosse terminar bem e a gente poderia ir. Foram anos de planejamento, guardando dinheiro e traçando roteiro. E, apesar de já esperar por isso, não deixa de ter uma pequena frustração e um pouco de tristeza. Seria não apenas a oportunidade de acompanhar os Jogos in loco, mas também de conhecer um país novo e uma cultura nova”, lamentou Erik Ullysses.

O caso de Mafuxinha Monteiro foi um pouco diferente. Fã número um de vôlei de praia, ela ganhou os ingressos de um grupo, o qual chama de anjos da guarda. E em paralelo, ela vendeu broches e fez uma vaquinha para arrecadar dinheiro e viajar para Tóquio. Estava quase tudo pronto, com faixas pintadas e roupas personalizadas, mas Mafuxinha nem precisou comprar as passagens, uma vez anunciada a decisão.

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“Fiquei muito decepcionada. Fiquei muito triste por todo o esforço que eu fiz, de ter vendido minhas coisas, ter voltado para a casa da minha mãe, vendendo broches e tudo. Eu estava muito empolgada. Mesmo com as restrições, eu achava que daria para ir e estar lá de algum jeito. Mas hoje eu entendo, eles sabem o que fazem e serão Jogos totalmente diferentes”.

Mafuxinha, fã de vôlei de praia, teve que adiar os planos de ir a Tóquio (arquivo pessoal)
Mafuxinha, fã de vôlei de praia, teve que adiar os planos de ir a Tóquio (arquivo pessoal)

Reembolso dos ingressos

Passada a frustração de não poderem viajar para Tóquio, veio a preocupação com os gastos que haviam sido feitos. Passagens, taxas de embarque e reservas de hotéis foram logo reembolsados, após o anúncio do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Quanto aos ingressos, os estornos começaram a ser feitos na última semana, mas os torcedores não receberão o valor integral que pagaram. Como a compra foi feita através de uma revendedora oficial no Brasil, eles tiveram de pagar uma taxa extra de 20% sobre o valor dos ingressos. E esta taxa não será reembolsada.

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“Acho normal ter taxa, mas também acho abusivo cobrar 20%. Além disso, não foi um motivo de cancelamento nosso, porque a gente quis. Então acho abusivo eles cancelarem os Jogos e a gente ter esse prejuízo”, opinou Mafuxinha.

A revendedora oficial dos ingressos se posicionou sobre o caso. “Esclarecemos que a taxa de serviço é a remuneração da empresa pelos serviços de intermediação que foram prestados na venda de ingressos. Note que a empresa é internacional, com sede na Suíça, estando subordinada às leis do seu país, atendendo, entretanto, às regras de cobrança da taxa de serviço no Brasil, que trata do adiantamento e do cancelamento de serviços, reservas e eventos em função da pandemia”.

Longe da família

Além dos torcedores, quem sofreu com a notícia da ausência de público foram os atletas e suas famílias. Hugo Calderano, do tênis de mesa, e Luisa Baptista, do triatlo, foram dois deles. As famílias já haviam comprado passagem e reservado hotel em Tóquio, mas tiveram que cancelar.

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“Sinceramente, tem sido um ano e meio tão difícil e triste, que isso se tornou pouco importante no contexto maior. Claro que nós queríamos muito estar lá. Esperamos e torcemos até o último momento que fosse possível. Mas, mesmo em relação aos Jogos, nossa maior preocupação era que eles acontecessem e o Hugo estivesse bem para participar”, contou Elisa Calderano, mãe de Hugo.

Mãe de Hugo Calderano abraça o filho na Rio 2016: família ficou no Brasil e atleta foi sozinho ao Japão (Danilo Borges/Brasil2016.gov.br)
Mãe de Hugo Calderano abraça o filho na Rio 2016: família ficou no Brasil e atleta foi sozinho ao Japão (Danilo Borges/Brasil2016.gov.br)

“Tive vários estágios de sentimento. No primeiro, tentei manter o otimismo. Quando bateram o martelo e fui cancelar o voo, chorei muito, fiquei triste, porque não é toda hora que temos uma filha indo para uma Olimpíada. Mas deixei a tristeza de lado e passei a vibrar muito, porque a Lu estava realizando um sonho de infância. Independente da distância, nossos corações estarão com ela e só queremos que ela seja feliz”, acrescentou Jaqueline, mãe de Luisa.

E do ponto de vista dos atletas, é mais um desafio em uma caminhada cheia deles para realizar o sonho olímpico. “Será um momento duro e inédito. Eu estou habituada a competir com a presença de público, em especial a minha família. Mas o suporte e segurança emocional dos meus familiares foi fundamental para eu estar nos Jogos Olímpicos. E embora eles não estejam presentes fisicamente comigo, eu sei que vão estar torcendo e mandando vibrações positivas”, completou Luisa Baptista.

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Decisão correta?

A decisão sobre a ausência de público, agora total e antes de estrangeiros, causa divergência entre os torcedores. Saulo Próspero, que era o responsável pela programação e compra de ingressos dos Chapolins, por exemplo, discorda.

“Acho que foi um erro enorme de planejamento do governo japonês. A vacinação lá demorou muito a começar e há 10 dias dos Jogos eles só vacinaram 15% da população com duas doses. Isso usando vacinas de intervalo de 21-28 dias, não de 3 meses entre as doses. Como que o governo não começou a vacinar rapidamente meses atrás? Ainda mais num país com população idosa muito grande. Agora ficou puxado e tiraram o público de praticamente tudo. Erro grotesco”.

Por outro lado, mesmo com a tristeza em não poder acompanhar de perto os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, Erik Ullyses e Elisa Calderano consideram a decisão como correta.

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“Acho que a decisão é a mais acertada sim. Seria muito arriscado para o Japão receber torcedores do mundo inteiro durante duas semanas. Acho que a saúde dos atletas, dos japoneses, e consequentemente do mundo inteiro, deve vir sim em primeiro lugar. Então vamos curtir daqui, torcer à distância pelos nossos atletas e comemorar muito suas vitórias. Em 2024 estaremos de volta em Paris para celebrar o esporte e também a vida”, disse Erik.

“Organizar os Jogos nesse contexto deve ser um pesadelo. Eu acho que foi uma decisão correta, que mostra a responsabilidade que o governo japonês tem com sua população e com todos os envolvidos no evento. Claro que depois de jogar a Rio 2016 com uma torcida enorme gritando seu nome, vai ser um pouco melancólico para o Hugo jogar num ginásio vazio. Mas tenho certeza de que os atletas vão conseguir encontrar alegria de alguma forma. Cultivar o espírito olímpico nesse momento vai fazer bem a todos nós, estando ou não em Tóquio”, concluiu a mãe de Hugo Calderano.

**Por Fernanda Zalcman

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