Twitter pode sofrer debandada de anunciantes se Donald Trump voltar

Com a chegada de Musk, temor é de que Twitter afrouxe regras contra discursos de ódio; caixa da empresa pode sofrer impacto

Wesley Santana

Elon Musk pagou US$ 44 bilhões pelo Twitter. Foto: Pixabay

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Nesta quinta-feira (27), finalmente a compra do Twitter por Elon Musk foi concluída, em uma operação avaliada em US$ 44 bilhões. A empresa, que era listada na bolsa de valores, teve a venda de ações interrompida e passou a ser, portanto, companhia de capital fechado.

Em um de seus primeiros atos como dono da plataforma, o empresário demitiu os principais executivos do alto escalão. Não demorou muito para que acendesse um alerta em relação à postura do bilionário frente à moderação de conteúdo, já que ele é conhecido por dar opiniões controversas na internet.

O jornal americano The Wall Street informou, nesta sexta (28), que alguns anunciantes estão ensaiando um boicote ao aplicativo, caso o novo proprietário permita a volta de personalidades banidas, como o ex-presidente Donald Trump. No ano passado, o político foi excluído da rede, depois de escrever postagens que incitaram a invasão ao Congresso dos Estados Unidos, que aconteeu no dia 6 de janeiro.

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Para Kieley Taylor, chefe da agência global GroupM, permitir a volta de Trump seria o limite para algumas grandes empresas que fazem publicidade no Twitter. Ela comentou que dezenas de clientes já pediram para pausar campanhas, caso o político tenha seu perfil reativado.

Musk, que se define como um ‘absolutista da opinião’, publicou uma carta aberta aos anunciantes dizendo que comprou a rede social porque acredita ser importante para a civilização ter uma praça comum digital. Segundo ele, o objetivo é que não haja separação de pessoas por plataformas em razão de seus posicionamentos políticos.

“É por isso que eu comprei o twitter. Não fiz porque seria fácil, não fiz para ganhar mais dinheiro. Fiz para tentar ajudar a humanidade, reconhecendo que o fracasso em perseguir esse objetivo, apesar de nossos melhores esforços, é uma possibilidade muito real”, escreveu em uma carta publicada justamente na plataforma.

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O empresário também destacou que pretende transformar o aplicativo na plataforma de publicidade mais respeitada do mundo. “É essencial mostrar aos usuários do Twitter anúncios que sejam tão relevantes quanto possível às suas necessidades. Anúncios de baixa relevância são spam, mas anúncios altamente relevantes são, na verdade, conteúdo”.

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Elon Musk pode tudo no Twitter?

Diferente de uma empresa que tem suas ações negociadas na bolsa, a companhia privada está desobrigada de uma série de questões, como a manutenção de um conselho de administração. Essa prática de governança corporativa serve para que os acionistas da marca tenham voz e consigam direcionar o negócio para o melhor caminho.

O Twitter é um dos poucos casos em que uma organização com este tamanho voltou a ter capital fechado, portanto, os especialistas dizem ser cedo para prever qual será a postura a partir de agora. O que se sabe, porém, é que, diferente de antes, a decisão sobre o modelo de negócio e até sobre a moderação de conteúdo está nas mãos do bilionário.

Para Henrique Martins, especialista em governança corporativa e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), se desejar, Musk pode estabelecer um comitê nos moldes de um conselho administração. No entanto, em sua visão, o grupo não teria o mesmo poder de decisão ou representatividade legal que tem em uma companhia de capital fechado.

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“Não existe um modelo específico de boa governança para empresa privada. Elon Musk vai ter a oportunidade de montar o modelo que quiser e que, claramente, vai ser mais fraco do que é hoje”, avalia Martins. “Ele tem falado muito sobre ‘free speech‘ (liberdade de expressão, na tradução para português) e muitos estão com expectativa sobre o posicionamento dele frente ao assunto”, avalia.

Sobre a saída de empresas, Martins pontua que este não seria um fator de perdas para o Twitter, já que deve haver um rebalanceamento de anunciantes. Mas lembra também que esta é uma das principais fontes de receitas da rede social.

“Algumas empresas vão deixar de fazer anúncios, mas eu imagino que outras vão substituir. E é comum essa organicidade de clientes”, explica. “Eu não acho que a volta de Trump, por exemplo, deva afetar significativamente a receita do Twitter. Uma vai sair e outra vai entrar, então o efeito líquido vai ser recompensado”.

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O fato é que a publicidade foi responsável por 89% da receita do Twitter no ano passado. Segundo balanço da companhia, os anunciantes gastaram mais de US$ 5 bilhões em campanhas na plataforma.

Conselho de moderação e Trump

Na tarde desta sexta, Musk publicou que a plataforma vai formar um conselho de moderação com pontos de vistas diversos.

“Nenhuma grande decisão de conteúdo ou reintegração de conta acontecerá antes que esse conselho se reúna”. O empresário não deu detalhes sobre a formação da equipe.

Durante o dia, a plataforma também reativou os perfis de Donald Trump e do rapper Kanye West, mas ambos permanecem sem atualização.