Reino Unido diz não à compra da Activision pela Microsoft

Revés pode pôr fim ao maior negócio mundial da história do setor de jogos, numa operação de US$ 69 bilhões; Microsoft diz que vai recorrer

Bloomberg

(Chesnot/Getty Images)

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(Bloomberg) — A aquisição da Activision Blizzard Inc. pela Microsoft Corp. por US$ 69 bilhões foi vetada pelo órgão regulador antitruste do Reino Unido, em um golpe potencialmente fatal para o maior negócio da história do setor de jogos.

A Autoridade de Concorrência e Mercados (CMA, na sigla em inglês — equivalente ao Cade no Brasil) disse que suas preocupações sobre concorrência não poderiam ser resolvidas por soluções — os chamados remédios — como a venda do título de grande sucesso “Call of Duty” ou outras soluções envolvendo promessas de permitir que rivais ofereçam o jogo em suas plataformas, de acordo com um comunicado divulgado nesta quarta-feira (26). A Microsoft disse que vai recorrer da decisão.

A pressão vinha aumentando sobre a Microsoft, que fazia lobby nos EUA e na Europa para convencer os reguladores a fechar o negócio — uma das 30 maiores aquisições de todos os tempos. Crucialmente, as conclusões da CMA vêm antes das decisões da União Europeia e da Comissão Federal de Comércio dos EUA, que aguarda uma audiência no verão depois de entrar com um processo formal para vetar a transação.

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As ações da Activision caíam mais de 10% nas negociações de pré-abertura em Nova York hoje. A Microsoft, que reportou separadamente resultados financeiros melhores do que o esperado na terça-feira (25), subiu 7,4%. Se o acordo for eventualmente bloqueado, a Microsoft pode estar sujeita a pagar uma taxa de até US$ 3 bilhões.

“A Microsoft já desfruta de uma posição poderosa e de vantagem sobre outros concorrentes em jogos em nuvem e este acordo fortaleceria essa vantagem, dando-lhe a capacidade de minar concorrentes novos e inovadores”, disse Martin Coleman, presidente do painel independente de especialistas que conduz o processo.

A CMA considerou que a fusão poderia resultar em preços mais altos, menos opções e menos inovação para os jogadores do Reino Unido. No entanto, no início deste mês, estreitou seu escopo original para se concentrar em jogos em nuvem em vez de consoles, depois de avaliar novas evidências.

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“Continuamos totalmente comprometidos com esta aquisição e apelaremos”, disse Brad Smith, vice-presidente do Conselho e CEO da Microsoft. “A decisão da CMA rejeita um caminho pragmático para abordar as questões de concorrência e desencoraja a inovação e o investimento em tecnologia no Reino Unido.”

A Microsoft vinha travando a batalha regulatória no Reino Unido e na Europa com um atraente road show de conferências de imprensa em Bruxelas e anúncios de página inteira em jornais britânicos para tentar influenciar o sentimento sobre o negócio.

A CMA disse que o acordo solidificaria a vantagem da Microsoft no mercado, dando-lhe o controle sobre os títulos “Call of Duty”, “Overwatch” e “World of Warcraft”. A investigação apontou que, sem a fusão, a Activision seria capaz de começar a fornecer jogos em plataformas de nuvem no futuro.

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O último lançamento do “Call of Duty“, chamado “Modern Warfare II“, que foi lançado em outubro de 2022, superou US$ 1 bilhão em vendas em 10 dias. Tornou-se o jogo mais vendido de 2022, de acordo com o NPD Group, referência em números da indústria.

Concorrência

“Já começamos o trabalho de apelar ao Tribunal de Apelações de Concorrência do Reino Unido. Estamos confiantes em nosso caso porque os fatos estão do nosso lado, este acordo é bom para a concorrência”, disse Bobby Kotick, CEO da Activision, em nota aos funcionários.

O órgão regulador da concorrência da Grã-Bretanha disse que qualquer remédio em potencial precisaria de algum grau de supervisão regulatória e normalmente é contra remédios comportamentais.

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A entidade tem tentado se afirmar como um poderoso regulador global desde que o país deixou a União Europeia. Em recentes demonstrações de força, ela enfrentou grandes big techs, inclusive ordenando que a Meta Platforms Inc. — dona do Facebook e do Instagram — revertesse sua aquisição da Giphy após preocupações de que ela poderia dominar o mercado de GIFs.

“Essencialmente, nunca houve um recurso bem-sucedido no Reino Unido em uma decisão antitruste”, disse Aaron Glick, estrategista de arbitragem de fusões da TD Cowen. “Não parece haver um caminho a seguir para a Microsoft.”

A Comissão Europeia ainda deve emitir a palavra final sobre sua própria investigação sobre o acordo em 22 de maio, enquanto a FTC agendou uma audiência sobre o negócio para agosto.