Queda das ações da Mundial deve-se a manipulação no mercado, dizem especialistas

Além da Mundial, os papéis de Hercules, Tec Blumenau e Habitasul também tiveram forte queda sem razão aparente

Felipe Moreno

Publicidade

SÃO PAULO – Algumas das ações que possuíam melhor desempenho na BM&F Bovespa em 2011 tiveram nessa última semana uma performance extremamente negativa, apagando parte da valorização obtida no ano e levando alguns investidores a registrarem fortes perdas, com parte do mercado creditando essas oscilações a um movimento de manipulação nessas ações.

A Mundial (MNDL3, MNDL4) é o grande exemplo dessas oscilações, já que ação de maior liquidez, MNDL4, apresentava valorização de 1.651% durante o ano até o dia 19 de julho, mas acumulou queda de 86,50% nos últimos três pregões, caindo de R$ 5,11 para R$ 0,69 nesse breve intervalo, cotação “apenas” 136,46% superior à cotação vista no fechamento de 2011.

Em menor escala, sua coligada Hercules (HETA4), a Habitasul (HBTS5) e a Tec Blumenau (TENE7) também amargaram perdas nos últimos pregões, embora não tão significativas como as quedas da Mundial. O que essas empresas têm em comum? Todas elas são small caps com pouca aparição no noticiário corporativo. Embora muitos investidores busquem nessas ações uma oportunidade de buscar fortes lucros em pouco período de tempo, elas podem ser muito danosas, trazendo prejuízos acima do tolerável ao invés de ganhos.

Continua depois da publicidade

Movimentação é pura especulação, dizem especialistas
Essa queda, tão imprevisível e sem justificativa aparente, não é creditada como por conta do acaso. De acordo com pessoas envolvidas no mercado financeiro, o desempenho extremamente negativo das ações nos últimos dias tem uma razão simples: é a manipulação das ações feita por poucos e poderosos (leia-se “com posições financeiras muito elevadas”) players do mercado.

Por conta da menor liquidez que esses papéis possuem, eles conseguem levar as cotações deles para onde bem entenderem ao montarem posições muito fortes de compra (caso queiram jogar o preço do ativo para cima) ou de venda (caso queiram derrubar as cotações da ação), ludibriando boa parte dos investidores, que, atraídos pela forte oscilação desses papéis, tenda buscar um ganho fácil e rápido com eles.

“Essas quedas, como as altas anteriores, são manipulações”, frisou Leonardo Sbardelotto, assessor de investimentos da Sol Investimentos, que mostra-se bastante cauteloso quando o assunto é esse tipo de ação muito suscetível a manipulações por parte do mercado. Sdardelotto também critica a postura de algumas corretoras, que acabam tendo grande influência nas duas pontas de negociação desses tipos de ações, o que acaba atrapalhando a precificação correta desses papéis.

Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Corretora, concorda que esse movimento é pura especulação. “Não tem razão fundamentalista e não ocorreu evento nenhum novo que mudou as perspectivas [para as empresas]”. O gestor afirma que todas essas ações caíram sem nenhum embasamento. Mas sobre a Mundial, Cavalheiro comentou sobre a investigação anunciada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) sobre os papéis da companhia. “Seria surpresa se ela não investigasse [a Mundial], o que ocorreu com ela nos últimos meses é um absurdo”, comentou o gestor.

Cavalheiro também reforça que não vê a recente alta das grandes blue chips da bolsa brasileira – já que o Ibovespa, principal índice de ações da nossa bolsa, subiu pelos quatro últimos pregões, sendo uma dessas altas sua maior valorização diária desde dezembro de 2010 -, como um motivo para as quedas desses micos. “São eventos separados, não há correlação”, comenta o gestor da Rio Verde, deixando claro que a performance desses “micos”, como são chamadas as small caps com extrema volatilidade, independe do momento vivido pela bolsa brasileira em geral.

Corra dessas ações!
Sdardelotto é enfático no tipo de danos que esses ativos podem causar. “Não são poucas pessoas que estão perdendo dinheiro com isso”, lembrando que quem compra esse tipo de ações em seus picos, raramente recupera o dinheiro investido. Basta olhar para o caso da Mundial: o investidor que adquiriu as ações preferenciais no fechamento do dia 19 desse mês (R$ 5,11) e ainda não se desfez delas teve um prejuízo de 86,50% em apenas três dias.

O assessor de investimentos da Sol lembra que muitas pessoas são atraídas por esses micos, atrás de dinheiro fácil. “Esse tipo de empresa é muito perigosa, várias pessoas são atraídas por esse tipo de ‘sonho’ e acabam perdendo dinheiro que por muitas vezes eles não podem perder”, ressalta Sdardelotto

“Há empresas com fundamentos melhores”, afirma o assessor, mencionando a falta de indicadores dessas empresas, como a Mundial, que alguns dias atrás apresentava P/L (Preço/Lucro) com uma relação superior a 100 vezes – em linhas gerais, isso quer dizer que o investidor estava disposto a pagar pelo preço da ação um valor 100 vezes maior do que o lucro líquido da companhia.

Micos com potencial sempre existirão
A dificuldade em achar um mico com potencial de virar uma boa small cap sempre existirá no mercado, já que é difícil emular uma empresa como a Hering (HGTX3), que alguns anos atrás era inexpressiva mas apresentou um sólido crescimento, o que ficou nítido na valorização vista por suas ações em 2009 (+287,68%), 2010 (+183,26%) e 2011 (+23,15%, até o fechamento do dia 22 de julho).

As ações da Mundial certamente empolgaram muita gente durante esses últimos meses, mas pelos últimos pregões, parece que o sonho dos investidores, acabou. E para alguns, mais incautos, virou pesadelo.