Preso, ex-presidente da BRF teria atuado para esconder contaminação da carne

A Operação Trapaça, nova fase da Carne Fraca, foi deflagrada nesta segunda-feira e mira fraudes laboratoriais perante o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – Alvo de mandado de prisão temporária, o ex-presidente da BRF (BRFS3) Pedro de Andrade Faria é acusado de atuar de modo deliberado para burlar a fiscalização federal e esconder a ocorrência de bactéria Salmonella pullorum nas matrizes da BRF, segundo aponta decisão do juiz federal André Duszczak, da 1ª Vara Federal Criminal de Ponta Grossa (PR).

“A inércia da BRF diante da contaminação foi confirmada pelo depoimento da fiscal federal agropecuária Juliana Martins Bressan e por e-mail da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná”, diz o juiz no despacho.

A Operação Trapaça, nova fase da Carne Fraca, foi deflagrada nesta segunda-feira e mira fraudes laboratoriais perante o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 

Continua depois da publicidade

Em nota, a PF informou que agentes cumprem 91 ordens judiciais nos Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e de São Paulo: 11 mandados de prisão temporária, 27 mandados de condução coercitiva e 53 mandados de busca e apreensão. Cerca de 270 policiais federais e 21 auditores fiscais federais agropecuários participam da ação coordenada entre a Polícia Federal e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

A Trapaça aponta que cinco laboratórios credenciados junto a Agricultura e setores de análises do grupo empresarial fraudavam resultados de exames em amostras de seu processo industrial, informando ao Serviço de Inspeção Federal dados fictícios em laudos e planilhas técnicos.

As fraudes tinham como finalidade burlar o Serviço de Inspeção Federal (SIF/MAPA), do ministério, e, com isso, não permitir que a pasta fiscalizasse com eficácia a qualidade do processo industrial da empresa. 

Continua depois da publicidade

As investigações indicam que a prática das fraudes contava com a anuência de executivos do grupo empresarial, bem como de seu corpo técnico, além de profissionais responsáveis pelo controle de qualidade dos produtos da própria empresa. Também foram constatadas manobras extrajudiciais, operadas pelos executivos do grupo para acobertar a prática desses ilícitos ao longo das investigações.

A Carne Fraca aponta indícios de manipulação de análises do laboratório Merieux Nutrisciences, de Maringá, segundo o despacho judicial. De acordo com declaração da fornecedora da BRF, Cristianne Liberti, o gerente da planta da BRF em Carambeí (PR) Decio Goldoni sabia da ocorrência da bactéria e “não cumpriu as normas legais e infralegais que impõem a notificação compulsória da doença, bem como nada fez para deter a contaminação”.

Vale destacar que nem toda salmonela faz mal à saúde: ela é comum em carne de aves porque faz parte da flora intestinal destes animais. Contudo, em geral, é destruída no preparo regular dos alimentos. Já dois tipos de salmonela trazem danos à saúde pública e outros dois à saúde animal. O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical), informa o Valor defende que, ao serem detectados, é preciso que ocorra uma série de procedimentos dentro de granjas e nos produtos, com objetivo de garantir a segurança alimentar do consumidor.

Continua depois da publicidade

(Com Agência Estado)

Quer investir em ações pagando só R$ 0,80 de corretagem? Clique aqui e abra sua conta na Clear

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.